Fundações e terceirização, temas do debate do Jornal do Campus
Foto: Daniel Garcia
JC
No debate, realizado no Auditório do IO, os candidatos formularam perguntas uns aos outros

Permanência estudantil, fundações de “apoio” e democratização da estrutura de poder da universidade foram alguns dos temas abordados pelos candidatos a reitor(a) no debate organizado pelo Jornal do Campus em 8/10. O evento, fechado para convidados, foi mediado pelo jornalista Heródoto Barbeiro e contou com a presença dos candidatos Francisco Miraglia, João Grandino Rodas, Ruy Altafim, Sonia Penin, Sylvio Sawaya e Wanderley Messias.

Na primeira parte do encontro, cada candidato respondeu a uma pergunta previamente elaborada pela equipe do jornal ou por professores. Sobre os problemas de segurança nos campi e a necessidade ou não de recorrer à Polícia Militar para lidar com eles, Miraglia afirmou que “a presença da PM no campus não é uma opção viável”. A solução para a questão passa, no seu entender, por um reequipamento da Guarda Universitária, que deve ser composta por funcionários próprios da USP e não terceirizados.

Respondendo à pergunta formulada pelo professor João Zanetic, da Adusp, sobre sua posição quanto à reforma do Estatuto, Messias colocou-se a favor da reforma e da ampliação do Conselho Universitário, mas disse ter dúvidas sobre se o processo deve ser realizado através de uma Estatuinte, lembrando a “má experiência” do V Congresso. Para ele, as entidades representativas de estudantes, professores e funcionários “não estão preparadas sequer para realizar um congresso estatuinte, quanto mais para realizar uma assembléia estatuinte livre e soberana”. Para Messias, o reitor, trabalhando junto com o Co e as congregações, “pode fazer esse processo e aumentar o nível de representação democrática”.

Sobre carreira docente, Sawaya defendeu a idéia de que exista um salário básico e que a realização de atividades fins possa ser valorizada com complementações salariais. Sobre o acesso às categorias superiores, o diretor da FAU acredita que a carreira deveria voltar a ter os níveis de MS-1 a MS-6, podendo os professores dos níveis MS-4, 5 e 6 ocupar todos os postos de direção. Assim, o cargo e o título de professor titular “seriam reservados para aqueles efetivamente detentores do conhecimento; seriam uma questão de mérito, não de poder”, afirmou.

Sonia Penin, perguntada sobre se parcerias com empresas e fundações são uma solução para o financiamento da pesquisa na universidade, respondeu que, atualmente, “as fundações têm servido mais para a extensão do que para a pesquisa”, sendo responsáveis por “captar as necessidades sociais”. Para ela, essas entidades são necessárias porque “a USP é altamente burocratizada”.

“Preço baixo”

Na segunda parte do debate, cada candidato escolheu outro para responder a uma pergunta. Messias perguntou a Miraglia sobre a questão da terceirização, ao que este reiterou posição apresentada em debates anteriores, defendendo a suspensão deste processo e sua reversão nos casos em que isso for possível. Em sua réplica, Messias apresentou dados que justificariam as terceirizações: o fato de os 1500 vigilantes terceirizados realizarem “funções mais básicas” do que as desempenhadas pela Guarda Universitária; e o fato de as refeições servidas pelos restaurantes da USP Leste e da Química, ambos terceirizados, custarem à USP R$ 3,60 e R$ 3,80, respectivamente, ao passo que nos restaurantes administrados pela Coseas a refeição custa R$ 7,60 para a universidade.

O Enade foi o tema da pergunta de Sonia Penin a Rodas. O diretor da Faculdade de Direito disse que “a USP não pode se furtar às avaliações nacionais” e que deve “influir positivamente e de forma crítica para que as avaliações nacionais melhorem”.

Oliva perguntou a Altafim se as políticas de permanência estudantil devem estar integradas à formação acadêmica. Altafim afirmou que iniciativas como o Programa Ensinar com Pesquisa e o Ensinar com Cultura e Extensão vêm responder a essa demanda. Oliva, replicando, afirmou que “muitas das ações que hoje a gente faz de permanência, pela sua transversalidade, nem sempre estão atingindo o ponto de necessidade de demanda”. Ele citou como exemplo o fato de os restaurantes universitários cobrarem R$ 1,90 por refeição de todos os estudantes, “desde o mais carente até aquele que estaciona na porta do restaurante de BMW”. “Será que é o caso de termos ações de permanência mais focadas?”, questionou.

Após breve intervalo, Altafim não voltou para a terceira parte do debate, na qual os candidatos responderam a perguntas da platéia.

Estatuinte

Miraglia foi questionado sobre por que defende a Estatuinte. “A alternativa é perguntar para quem hoje exerce o poder o que eles acham que deve ser modificado. Além disso, eu não tenho nenhuma desconfiança quanto à capacidade de reflexão crítica da nossa juventude e dos nossos funcionários”, disse ele.

Estudantes presentes na platéia encaminharam a Rodas perguntas sobre a entrada da polícia no campus, mas a organização do evento preferiu encaminhar a ele questão sobre empresas juniores e empreendedorismo estudantil.

A pergunta direcionada a Sawaya lembrou um recente escândalo de desvio de verbas na Fundação Vanzolini e questionou a responsabilidade da USP em casos como esse. “Entendo que são fundações de direito privado, portanto diretamente a USP não tem que responder por esses problemas”, disse o diretor da FAU. “Mas eu acredito que, elas sendo ligadas à USP, moralmente, nós temos que verificar esse assunto”. “Todas essas fundações precisam, da parte da USP, ser enquadradas dentro de um regime de funcionamento transparente em que as necessidades que elas atendam sejam muito claras e que as perspectivas que elas tragam para USP sejam também muito bem delineadas”, afirmou.

Sobre se a USP precisa de mais verbas ou de melhor administração do dinheiro que lhe é destinado hoje, Oliva disse que o orçamento “em termos comparativos internacionais, é muito bom”. Para ele a questão é otimizar o uso de recursos. “Temos que melhorar drasticamente o dreno que hoje representa o excesso de burocracia, o excesso de gastos em atividades-meio, recursos não só materiais, mas principalmente capital humano, que hoje são subutilizados”. Ele sugeriu também que a universidade busque fontes alternativas de financiamento, ainda que mantendo fundamentalmente o financiamento público.

 

Matéria publicada no Informativo nº 295

EXPRESSO ADUSP


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