A Associação Nacional de História (ANPUH) reagiu nesta quarta-feira (13/3) à declaração do presidente Lula a respeito da Ditadura Militar (1964-1985), de que não deseja “remoer o passado”, bem como à sua ordem para que o Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania não promova eventos capazes de suscitar críticas e reflexões sobre o golpe militar de 1964. Assim, as “tentativas de contornar as manifestações e reflexões públicas a respeito do golpe de 1964, pelo próprio governo federal”, são rechaçadas pela associação.

“Como esquecer 1964?”, questiona a ANPUH no seu perfil no Instagram. “A ideia de anistia ou esquecimento das experiências traumáticas vividas durante os anos da Ditadura, defendida e repetida ainda hoje, depois do 8 de janeiro, contribui para perpetuar a impunidade e a injustiça, sob a defesa de uma amnésia institucional, geral e irrestrita”, afirma a associação, fazendo alusão ao golpe frustrado contra o atual governo, objeto de investigações a cargo do Supremo Tribunal Federal (STF) e da Polícia Federal (PF).

“É inconcebível que se construa um futuro quando feridas permanecem vivas nos corpos e na memória coletiva, remoídas pelo negacionismo, pela anistia ao dolo, pela amnésia forçada que convida a agirmos para deslegitimar lutas cotidianas por justiça e apagarmos os rastros de violações, considerando tentativas de reparação e responsabilização como ressentimento”, diz a ANPUH depois de exaltar a “luta incansável” de pessoas e grupos “perseguidos, presos, torturados, violados” e de familiares “daqueles que não sobreviveram”.

O texto prossegue contestando a tese que o presidente da República parece ter abraçado: “Uma postura política que fala em esquecimento, conciliação e ressentimento em nome do futuro, procura calar vozes e banalizar as violações dos direitos humanos. Permite a repetição do crime no presente pelo não enfrentamento, pela negligência e pela impunidade”.

Existem nexos entre passado, presente e futuro, lembra a ANPUH. “Não há o que esquecer! Há ainda muitos mortos a nomear e enterrar, muitos crimes a reparar, muitas feridas a serem curadas. Para isso, o direito à memória torna-se dever. Num contexto de intolerância, autoritarismo e negacionismos que celebram a morte, é necessário, mais do que preservar a memória e resistir ao esquecimento, fazer desaparecer o dolo, a tortura e a morte”.

O texto termina com uma forte declaração política: “Nós, historiadoras-es, por meio da ANPUH-Brasil, repudiamos toda tentativa de fazer silenciar a memória crítica ao que representou 1964 e nos posicionamos a favor da democracia, da reparação e da justiça! Falar sempre! Esquecer jamais!”

EXPRESSO ADUSP


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