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Jornalismo científico brasileiro perde Maurício Tuffani, uma de suas maiores referências
01/06/2021 09h16

Faleceu nesta segunda-feira (31/5), aos 63 anos, o jornalista Maurício Tuffani, um dos mais importantes nomes do jornalismo científico do Brasil. Tuffani morreu em casa, subitamente, após sentir-se mal durante uma reunião remota de trabalho na Unesp. O jornalista tratava-se dos efeitos do Mal de Parkinson, do qual recebeu o diagnóstico em 2019, e já havia sido vacinado contra a Covid-19.
“Todos da equipe do Jornal da Unesp estão desolados pela partida do nosso querido amigo, jornalista e editor-chefe”, publicou em nota o Jornal da Unesp, ao qual Tuffani havia retornado neste ano como editor-chefe, encabeçando o projeto de relançamento da publicação. “Tuffani era um dos mais respeitados jornalistas de ciência do Brasil, um intelectual, além de um excelente colega de trabalho. Fará muita falta. Nossos sinceros sentimentos a todos os familiares e amigos.”
(foto: Marcos Santos/USP Imagens)

O jornalista também editava o site especializado Direto da Ciência, que lançou em março de 2016, no mesmo dia em que deixou o cargo de editor-chefe da revista Scientific American Brasil e encerrou as atividades do blogue que mantinha na Folha de S. Paulo, na qual já havia sido repórter e editor de Ciência.
A morte do jornalista foi lamentada por muitos colegas, pesquisadores e cientistas com quem conviveu em sua longa carreira. A Associação dos Pesquisadores Científicos do Estado de São Paulo (APqC) publicou nota na qual diz que Tuffani era “uma das principais referências do jornalismo científico no Brasil”, cuja “ausência será sentida por toda a classe dos pesquisadores”.
A APqC qualificou o jornalista como “um grande amigo e parceiro”. “Em 2018, a convite da entidade, promoveu uma palestra aos pesquisadores intitulada ‘Os desafios da visibilidade da pesquisa científica’, realizada no Instituto Biológico, em São Paulo. Na ocasião, afirmou que ‘em tempos obscurantistas, cuja tendência é desqualificar a informação científica, os cientistas têm o dever de sair de sua zona de conforto e dar as caras nas mídias sociais para ajudar a combater as chamadas fake news e tornar acessível o resultado de suas pesquisas”, diz a nota. “Maurício Tuffani era um grande jornalista, mas acima de tudo um cidadão incansável na luta pela ciência e pelo meio ambiente.”
O Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo também divulgou nota lamentando a morte de Tuffani. A Fundação Editora da Unesp lamentou “profundamente essa perda, especialmente neste momento em que o país enfrenta a negação do valor da ciência”. “Tuffani dedicou sua vida à divulgação científica, aproximando o público de nível superior interessado nos rumos do saber (inclusive humanidades e tecnologia), da gestão universitária e científica e da política ambiental”, registrou a editora.
O jornalista Bruno Torturra publicou no Twitter: “Que tristeza a partida do grande Maurício Tuffani. Conversamos pela última vez dias antes da eleição de 2018. Ele dividia angústias e ideias sobre como ciência e consciência ambiental seriam a maior resistência ao que se anunciava”. “Triste com a passagem de um gigante do jornalismo científico e ambiental”, postou também no Twitter o jornalista André Trigueiro.
“Ouvir o Tuffani, como mestre, como amigo, como professor, foi um grande privilégio. Foi graças também a ele, que me pegou pela mão no começo, que segui meu caminho na comunicação da ciência, e fundei o IQC”, escreveu a microbiologista Natalia Pasternak, criadora do Instituto Questão de Ciência e pesquisadora visitante do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP. “Na última vez em que nos falamos, em 28 de abril, ele me mandou a seguinte mensagem: Natalia, te chamaram para a CPI? A Globonews informou agora! Arrasa, garota!”.
“Conheci o Tuffani em 1997, na Folha. Eu era uma foca e ele foi apresentado a mim como a ‘pessoa mais inteligente da redação’. Generoso, inteligente, perspicaz, era uma enciclopédia e não era vaidoso. Estava sempre pronto a dividir, a compartilhar as histórias e o conhecimento”, relata a jornalista Giovana Girardi, que trabalhou com Tuffani também na revista Unesp Ciência, criada por ele em 2009. O depoimento de Giovana integra a reportagem “Um gigante do jornalismo e da divulgação científica”, publicada no site da Unesp.
“Maurício Tuffani não hesitou em denunciar as delinquências de Ricardo Salles-Bolsonaro e, no plano estadual, também os ataques do governo Doria aos órgãos de pesquisa ligados à área ambiental, como o Instituto Florestal”, afirma o jornalista Pedro Estevam da Rocha Pomar, editor da Revista Adusp. “É uma perda incomensurável para o jornalismo especializado em meio ambiente e ciências, que ele renovou e enriqueceu com o site Direto da Ciência.”
Trajetória incluiu passagem por diversas redações e órgãos públicos
Tuffani começou a trabalhar na imprensa em 1978, como revisor dos jornais O Estado de S. Paulo e Jornal da Tarde, quando ainda estudava Matemática e Filosofia na USP e era professor de matemática e física no ensino médio.
Foi redator-chefe e editor-chefe da revista Galileu, fundador e diretor editorial da revista Unesp Ciência e editor-executivo dos portais PNUD Brasil (do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) e Nações Unidas no Brasil.
Tuffani coordenou a comunicação institucional da Unesp na gestão dos reitores Marcos Macari (2005-2009) e Herman Voorwald (2009-2011), atuando também como assessor de Voorwald em sua passagem pela Secretaria Estadual da Educação (2011-2015), durante o governo de Geraldo Alckmin (PSDB).
Na academia, foi professor convidado do Laboratório de Estudos Avançados de Jornalismo Científico (Labjor), na Unicamp, e do Núcleo José Reis de Divulgação Científica da Escola de Comunicação e Artes (ECA) da USP.
O jornalista era casado tinha e um filho. Por conta das restrições sanitárias da pandemia, a cerimônia de cremação, no cemitério da Vila Alpina, em São Paulo, será restrita à família.
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