Memória
Dino Preti (1930-2024), “mestre generoso e inesquecível”, linguista pioneiro nos estudos da gíria e da oralidade
Faleceu no último dia 29/6 o linguista Dino Fioravante Preti, Professor Emérito da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), na qual lecionou por 26 anos no Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas.
Nascido em 1930, neto de imigrantes italianos, Dino Preti graduou-se em Letras em 1954 na então Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (FFCL) da USP, e na universidade obteve os títulos de mestre (1969), doutor (1972) e livre-docente (1981). Foi também professor na Universidade Presbiteriana Mackenzie e na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

Em artigo no qual homenageiam o professor, publicado no site da FFLCH, Luiz Antônio da Silva e Marli Quadros Leite, docentes do mesmo departamento, registram que Preti “sempre esteve à frente de projetos de importância científica e de vanguarda”. Na década de 1970, por exemplo, introduziu “a teoria Sociolinguística e da Variação linguística, até então ainda desconhecida na Universidade de São Paulo”. Foi também pioneiro nos estudos sobre oralidade, gíria e análise da conversação, apontam Silva e Leite.
Sua tese de doutorado, “Sociolinguística: os níveis de fala”, transformou-se em livro que é referência nos estudos linguísticos, e a tese de livre-docência, A linguagem proibida: um estudo sobre a linguagem erótica, quando também publicada em livro, recebeu o Prêmio Jabuti de 1984.
Preti coordenou o Projeto Norma Urbana Falada Culta da cidade de São Paulo (NURC-SP) a partir de 1983, com a aposentadoria do então coordenador, professor Isaac Nicolau Salum. “Com sua tenacidade, levou adiante a conclusão das gravações e iniciou a fase de divulgação e de estudo desse rico material. Graças à sua liderança, os estudos sobre gíria, oralidade e língua falada foram difundidos pelo Brasil. Como coordenador do Projeto NURC deixou importante legado, representado pela coleção Projetos Paralelos, que conta com 15 livros”, relatam Silva e Leite.
“Em tudo o que fez, Dino Preti deixou sua marca: rigor e perseverança no campo da pesquisa e do ensino. Docente de competência inquestionável e pesquisador exigente e sensível. Na convivência diária com colegas e amigos sempre era afetuoso e solidário, disponibilizava sua biblioteca e experiência a todos quantos o procuravam. Mestre generoso e inesquecível! Justiça e honestidade marcaram também seu caráter e suas ações refletiam tais características”, prosseguem.
No seu pronunciamento na cerimônia de outorga do título de Professor Emérito, em setembro de 2010, Preti recordou: “Durante quase três décadas em que estive nesta universidade, procurei imprimir às minhas aulas uma atitude coerente que formei desde o início, no sentido de aproximar o ensino e a pesquisa universitária dos interesses da comunidade. Daí uma visão da língua em que se aproximava a fala comum da escrita, numa interação constante, analisando-se as marcas que a primeira deixava na variedade dos gêneros de discurso, desde a linguagem da mídia até a da literatura, em particular a dos diálogos literários”.
A Associação Brasileira de Linguística (Abralin) divulgou nota na qual registra o pesar pelo falecimento de Dino Preti. “Seu legado acadêmico e suas publicações fundamentais continuarão a inspirar a comunidade linguística por muitos anos”, diz a entidade.
Dino Preti deixa a esposa, Áurea Val dos Santos, que conheceu na faculdade, um filho, uma filha, genro, nora e netos, além de amigos(as) e muitos(as) alunos(as) que ajudou a formar ao longo de décadas como professor.
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