O evento “Reflexiones, archivos e testimonios. A 40 años del Nunca más” (Reflexões, arquivos e testemunhos. A 40 anos do Nunca Mais), que seria realizado nos dias 16, 17 e 18 de outubro no Centro Cultural da Memória Haroldo Conti, em Buenos Aires, foi cancelado sem aviso prévio pelo secretário nacional de Direitos Humanos, Alberto Baños, que proibiu os funcionários da pasta de participar das atividades. O “Conti” ocupa parte da antiga Escola de Mecânica da Armada (ESMA), que foi o maior centro de torturas e extermínio da ditadura militar argentina (1976-1983) e hoje foi transformado num espaço público de memória.

Na sua décima-quinta edição, o Seminário Políticas da Memória buscava promover debates que remetem aos desdobramentos da decisão tomada pelo presidente Raúl Alfonsín em 15 de dezembro de 1983, quando criou a Comissão Nacional sobre o Desaparecimento de Pessoas (Conadep), com a finalidade de investigar os fatos relacionados ao desaparecimentos de pessoas durante a ditadura. “Após nove meses de trabalho, a Conadep, presidida por Ernesto Sábato e integrada por reconhecidas personalidades de distintos âmbitos da vida nacional, entregou ao presidente o Nunca Mais [Nunca Más], informe que documentava a existência de centenas de centros clandestinos de detenção e milhares de casos de desaparecimento”, informa a página do “Conti”.

O evento cancelado pelo governo de extrema-direita de Javier Milei teria mais de 600 participantes. Apesar da proibição, os responsáveis pelo seminário buscaram reorganizar as atividades e realizá-las em instalações próximas, reduzindo-as a apenas dois dias (18 e 19/10). “Sou professora no Brasil, vim para este congresso, estou na coordenação de uma mesa e manifesto minha indignação contra esta atitude de cancelar este evento”, protestou no Instagram a brasileira Joana Ferraz.

“Como a medida foi tomada de modo absolutamente arbitrário, só podemos conjecturar os motivos: obstruir o debate democrático sobre políticas de memória, que é o objetivo final do seminário. Cabe esclarecer que não há instância alguma de avaliação nem de seleção dos trabalhos inscritos, nem de seu conteúdo, porque a intenção é que possam expressar-se todas as vozes que tenham algo a dizer sobre a matéria”, denunciaram, em comunicado, os representantes da Associação de Trabalhadores do Estado (ATE) na Secretaria de Direitos Humanos.

“As intenções do governo em geral e de Baños em particular, para estas áreas tão sensíveis, tornam-se cada vez mais claras”, relata o jornal digital Tiempo. “Desde sua chegada, já foram demitidas dez pessoas e outras 20 renunciaram ao Conti, que perdeu uma parte importante de seu nome: no Mapa do Estado publicado pelo governo, a palavra ‘Memória’ foi retirada e figura apenas ‘Centro Cultural Haroldo Conti’”.

EXPRESSO ADUSP


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