Opinião
“O HU é um insulto ao paciente”: o papel da Reitoria da USP nessa história
Neste artigo, o médico João Paulo Becker Lotufo, eleito pelos colegas Diretor Clínico do Hospital Universitário da USP, defende que a Administração da universidade é responsável por problemas como falta de pessoal e fechamento de um terço dos leitos da instituição
Estive há 2 meses numa faculdade da USP para um bate-papo, a convite dos alunos e professores. Ao chegar à biblioteca, notei uma grande lousa numa das paredes, na qual estava escrito: “O HU é um insulto ao paciente”.
No meio da fala sobre cigarro eletrônico, que era o meu tema, fiz uma pausa e comentei o que estava escrito na lousa. Contei minha história de 40 anos no Hospital Universitário, participando de uma “ilha” dentro da saúde, sendo o nosso HU um exemplo de hospital universitário no país.
Por exemplo: em apenas um ano, só a Pediatria havia publicado 75 artigos científicos com participação em congressos da área pediátrica. Nessa época, fiz uma pesquisa no ambulatório geral e o HU tinha avaliação de 93% de “ótimo” e “bom”.
Hoje, o HU continua bom para quem consegue ser atendido, mas o problema é aquele que não consegue ser atendido. Marcar uma cirurgia por três vezes e dispensar o paciente por falta de leito (o HU tem um terço dos leitos fechados por falta de enfermagem) é muito triste para os pacientes e para os médicos.
Uma paciente do grupo antitabágico me disse que seus pais dependentes preferiam ser atendidos no HU do que no convênio médico. Hoje ela, que é professora da universidade, não consegue marcar uma consulta.
Expliquei para aqueles que estavam me ouvindo que o problema do HU começou com os planos de aposentadoria e demissão voluntária e a não reposição de funcionários. Isso levou ao fechamento de leitos, ambulatórios etc.
A alta cúpula da universidade diz que o HU recebeu a maior parte dos funcionários contratados neste ano, mas esses contratados não repõem aqueles que estão saindo hoje por aposentadoria ou partindo para empregos melhores.
A falta de vontade de melhorar essa situação não vem do corpo clínico do hospital, e sim da Reitoria da universidade. O diálogo não existe, pois, todas as vezes em que pedi contato com a Reitoria, houve negativa por parte deles. Dizem que o HU gasta muito.*
O HU pode ser um insulto para os pacientes que não são atendidos, mas ainda continua sendo um bom hospital-escola. Pena que não haja sensibilidade dos nossos dirigentes para com a população que precisa desses leitos hoje fechados.
* Obs.: há uma unidade dentro da USP que gasta mais do que o HU – é a própria Reitoria.
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