Opinião
O que diria Luiz de Queiroz sobre o abate da figueira?
Artigo do professor Jairo Teixeira Mendes Abrahão (Esalq) questiona a derrubada prevista de um exemplar quase centenário de Ficus elastica no campus da Esalq
Outro dia, aliás, 2 de fevereiro, dia de Iemanjá, Rainha dos Mares, redigi um texto sobre uma figueira, não uma figueira qualquer, mas uma que poderia ter sido plantada por Luiz Vicente de Souza Queiroz, uma vez que, ali, era a Fazenda São João da Montanha, de sua propriedade, que aliás seria doada ao Estado de São Paulo para que, nela, fosse construída uma escola agrícola, cuja fundação se deu em 1901.
No início dos anos trinta o querido e saudoso “Felipão”, Felipe Westin Cabral de Vasconcelos, foi contratado como professor de Horticultura e viria ser o primeiro professor catedrático de Horticultura. Hoje é a Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, referência em ciências agropecuárias do Brasil!
Na primeira metade do século passado aquele professor, trabalhando no desenvolvimento do Projeto de Paisagismo do Parque da Escola, criado por Arsène Puttemans, paisagista belga contratado para esse fim, definindo o material vegetal e sua localização junto ao Pavilhão de Horticultura, plantou, entre outras, uma Ficus elastica L., belíssima e frondosa, devidamente afastada do prédio, em função de seu desenvolvimento aéreo e subterrâneo.
Passados 92 anos, a planta, belíssima, verdadeiro monumento da Mãe Natureza, havia se tornado um incômodo para membros da comunidade. O que fazer? A Comissão Técnica de Manejo do Parque Felipe Westin Cabral de Vasconcelos convocou reuniões, a partir de setembro de 2022. A resolução saiu em 5/12/2022. Coincidência estranha, período de férias escolares! A Comissão Técnica de Manejo do Parque, juntamente com os departamentos envolvidos (Departamento de Ciências Biológicas e Departamento de Produção Vegetal), decidiu pelo sacrifício (supressão) da figueira!
Os motivos alegados:
1- Quedas de galhos danificando carros de membros da comunidade.
2- Tem causado, ao longo do tempo, problemas estruturais do Pavilhão.
3- A figueira condicionou “microclima total” (?) (“em contrapartida”) .
Pasmem!!!!!!
Argumentos válidos contra isso são fáceis! Quanto ao primeiro: até parece que há deficiência de locais para estacionar na Esalq! Basta proibir o estacionamento ali! (Aposentei-me há cerca de trinta anos no Departamento de Produção Vegetal, e naquele tempo já se falava em bolsões de estacionamento! Nunca fizeram!)
A propósito do item 2, o único razoável, será que não existe uma solução, física, para proteger o prédio, ou será que na USP não existem engenheiros capazes? Quanto ao item 3, reconheço não saber do que se trata, mas se é “contrapartida” é contra o projeto de abate da figueira.
Enfim, não adianta chorar, pois, como disse Camões no Canto III de Os Lusíadas, “Inês é morta”!
Resta-me dúvida atroz: o que diria disso tudo Luiz Vicente de Souza Queiroz, patrono de nossa gloriosa Esalq? E nosso tão querido Felipão, primeiro professor catedrático de Horticultura e o plantador da imponente Ficus elastica L.?
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