Comissão da Verdade
Manifestação no IQ por Ana Rosa Kucinski impulsiona Comissão da Verdade da USP
![Manifestação no IQ por Ana Rosa Kucinski impulsiona Comissão da Verdade da USP](https://adusp.org.br/wp-content/uploads/2012/08/iq.png)
A campanha pela instalação de uma Comissão da Verdade na universidade recebeu novo impulso em 13/8, quando o Fórum Aberto pela Democratização da USP realizou um ato público na esplanada do Instituto de Química (IQ), com a finalidade de pressionar aquela unidade para que reverta a demissão da professora Ana Rosa Kucinski, decidida pela Congregação, por alegado “abandono de função”, em 1975.
Daniel Garcia |
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Protesto reuniu estudantes, docentes e amigos da família Kucinski |
Cerca de 70 pessoas aglomeraram-se em frente ao complexo conhecido como “Queijinho”, para exigir reparação das injustiças e do crime cometido contra Ana Rosa, que foi capturada e assassinada pelos órgãos de repressão política da Ditadura Militar, em 1974. A Congregação do IQ, quando a demitiu, sabia de seu envolvimento com um grupo que fazia oposição ao regime, e que a jovem professora estava desaparecida havia 19 meses.
“O Brasil silenciou, negou, minimizou, justificou, encobriu as feridas do seu passado recente e assim fez também a USP. Mas chegou a hora de falar, de contar essas histórias. Essas histórias precisam ser conhecidas e seus protagonistas lembrados. No lugar de silenciar e justificar, é preciso passar a limpo o passado, pois só assim será possível entender o presente e olhar para o futuro”, declarou a professora Elisabetta Santoro, vice-presidente da Adusp.
No dia 17/8, o Fórum Aberto protocolou na direção do IQ carta lida no início do ato, que contém as reivindicações do movimento. Além de reivindicar que seja anulada a decisão da Congregação, o Fórum propõe que o “Queijinho” receba o nome de Complexo Ana Rosa Kucinski.
“Nossa principal reivindicação é que a Congregação do Instituto reconheça oficialmente a professora Ana Rosa como uma desaparecida política, que foi assassinada pelo regime, e reveja seu processo”, explica Fábio Luis Franco, diretor da Associação dos Pós-Graduandos.
Repúdio?
Daniel Garcia |
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O irmão de Ana Rosa, professor Bernardo |
Recentemente a Congregação do IQ discutiu o caso Ana Rosa. Porém, a preocupação dos que se manifestaram não era reabilitar a memória da docente assassinada e demitida, mas retaliar seu irmão, jornalista Bernardo Kucinski, professor aposentado da Escola de Comunicações e Artes da USP. Isso porque a Revista Adusp publicou, em sua edição 52, capítulo do livro K. (Expressão Popular, 2011) intitulado “A reunião da Congregação”, em que Bernardo, mesclando realidade e ficção, comenta o comportamento dos pares de Ana Rosa na ocasião em que decidiram excluí-la da instituição.
Na reunião de 13/6, o diretor do IQ, Fernando Rei Ornellas, externou a opinião de que o texto de Bernardo representa “uma falta de respeito com o instituto” e com o professor Ernesto Giesbrecht (que em 1975 exercia o cargo de diretor e, portanto, presidente da Congregação). Ornellas anunciou a intenção de montar uma comissão com professores que participaram da reunião que demitiu Ana Rosa. O intuito da iniciativa: lançar uma nota de repúdio ao autor de K. Somente um docente ponderou em sentido contrário.
“Se ainda há gente tentando desqualificar meu relato, sinceramente, não acredito que vá acontecer algo importante depois dessa nossa manifestação aqui”, lamentou Bernardo. “Estou aqui em respeito à velha guarda, aos colegas, camaradas e amigos que eu sabia que estariam presentes”.
Marcelo Pablito, diretor do Sindicato dos Trabalhadores (Sintusp), relacionou o contexto ditatorial ao momento vivido na USP: “Queremos que a história da professora Kucinski represente hoje todos os professores, funcionários e alunos que sofreram e ainda sofrem com a repressão aqui dentro”, afirmou. Para ele, é inadmissível que a Reitoria ainda use mecanismos da época da Ditadura Militar, como o Regimento Disciplinar de 1972, para perseguir e demitir seus críticos.
O Fórum Aberto pela Democratização da USP reivindica a instalação de uma Comissão da Verdade interna, dotada de autonomia e independência para apurar as graves violações de direitos humanos ocorridas na universidade no período de 1964 a 1985.
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