Sarau
No Sarau, aceso debate sobre a EACH
Daniel Garcia |
Tema atraiu docentes de diferentes unidades |
O tema parecia tranqüilo: “A USP na parte leste da cidade de São Paulo: desafios da expansão do ensino superior”. Porém, na edição de 18/3 o Sarau da Adusp cumpriu mais uma vez seu propósito de estimular intensos debates sobre questões relevantes. As diferentes facetas do polêmico projeto da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) foram objeto da avaliação não só dos debatedores convidados, professores Luiz Menna-Barreto e Graziela Perosa (ambos daquela unidade), mas de praticamente todo o grupo de docentes que compareceu ao Sarau.
Coincidentemente, dias antes do Sarau a direção da EACH enviou aos docentes o parecer de uma comissão por ela criada com vistas ao estudo das “Potencialidades, Revisão e Remanejamento de Vagas nos Cursos de Graduação” da unidade. O parecer, que propõe redução das turmas, gerou indignação e provocou uma paralisação dos estudantes da EACH, na mesma data em que se realizou o Sarau (vide texto). Desse modo, a existência do documento e sua repercussão tornaram o debate ainda mais atual.
O curso de Obstetrícia foi um dos principais tópicos do Sarau. Para Menna, ele “vem sendo dirigido de maneira errática”. No seu entender, houve uma “comédia de equívocos”, pois a Reitoria, depois de insistir em apresentar o curso, erroneamente, como de mera formação de parteiras, terminou por se render às pressões dos conselhos federal e regional de enfermagem e “mandou adequar a grade” de disciplinas. Graziela, por sua vez, considera que a USP pecou por irresponsabilidade ao não defender o curso: “A universidade dá os cursos e agora vira as costas”.
Cenário de debate
A professora Lisete Arelaro, diretora da Faculdade de Educação, indagou sobre a pertinência de um dos eixos fundadores do projeto da EACH: a inexistência de uma estrutura departamental. “O projeto continua no discurso. A prática deixa a desejar. Os eixos fundadores estão amortecidos”, respondeu o professor Menna. “Filhote da USP ‘uspinho’ é. Muita gente continua com a cabeça departamental”. Para ele, os cursos transformaram-se em guetos.
“Os cursos acabam funcionando como departamentos. Predominam essas estruturas mentais, que perpassam toda a universidade”, reforçou a professora Graziela, destacando, porém, a existência de exceções. O próprio Menna ponderou: “Mas o cenário é de debate. É melhor do que aqui [campus do Butantã], que não tem debate”. Ainda na sua opinião, “as comissões de pesquisa e extensão são o cenário mais adequado para superar a estrutura departamental”.
No Sarau, foi lembrado o fato de que, embora os dirigentes da USP tenham, à época, se recusado a alterar o Estatuto para que a EACH pudesse acomodar cursos idênticos aos já existentes na mesma cidade, não se furtaram, depois, a alterar o Estatuto para que a nova unidade pudesse existir sem departamentos!
“Forceps”
Descartaram, igualmente, tanto a possibilidade de situar o campus em Guarulhos, para evitar a mencionada restrição estatutária, como a de criar cursos combinados voltados para a licenciatura (por exemplo, de Química e Física), mais adequados às condições da população da zona leste da cidade.
“Faltou parteira na USP Leste, ela nasceu a forceps, infelizmente”, brincou o professor Otaviano Helene, do Instituto de Física. “Pode ter nascido torta, mas isso não quer dizer que está condenada a ser sempre”, contestou a professora Graziela, fazendo uma analogia com o “anjo safado” da canção de Chico Buarque.
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