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Marcha da Ciência agita Avenida Paulista em domingo de frio
Aos domingos a Avenida Paulista torna-se uma via livre para pedestres, algo que já se consolidou como uma conquista da cidadania na “Pauliceia Desvairada”. Mas neste frio 7 de julho, o “grande calçadão” da Paulista ganhou um colorido adicional, especialmente para crianças e jovens, graças à Marcha da Ciência, promovida por diversas entidades, entre as quais a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), a Associação dos Pesquisadores Científicos do Estado de São Paulo (APqC), a Adusp e o grupo Cientistas Engajados.
Várias barracas com exposição de pesquisas e conhecimentos de diferentes áreas científicas foram montadas na avenida. Na “Feira de Ciências”, pesquisadores de institutos públicos de pesquisa e docentes de universidades públicas dialogaram com a população, trabalhando equipamentos de robótica, descobertas da oceanografia, da paleoantropologia, da medicina e de diversas outras disciplinas. A USP esteve presente com nove atividades: cinco ligadas ao Instituto Oceanográfico (IO) e as demais à Faculdade de Medicina (FM), ao Instituto de Ciências Biomédicas (ICB), à Escola Politécnica (EP) e ao Instituto de Biociências (IB).
Um dos locais mais visitados da Feira de Ciências foi a Barraca do Peixe, do Laboratório de Ecologia da Reprodução e do Recrutamento de Organismos Marinhos (Ecorrep), conduzida pela professora June Ferraz Dias, do Departamento de Oceanografia Biológica do IO. Outra atividade muito requisitada foi Kids Save Lives Brasil, a cargo da professora Naomi Lindo, da FM.
“A presença dos cientistas e pesquisadores na Avenida Paulista ontem [7/7] demonstrou duas coisas. Que fazemos pesquisa de qualidade nas instituições públicas paulistas e que a população tem muita curiosidade, apoia e quer saber o que fazemos. Só falta o governo e os parlamentares entenderem que sem financiamento público não existe como fazer Ciência no Brasil. Com essa política de terra arrasada estamos perdendo os melhores cérebros do nosso país”.
A declaração é de Mariana Moura, doutoranda do Instituto de Energia e Ambiente da USP (IEE), ativista do grupo Cientistas Engajados e uma das organizadoras das atividades de ontem na Avenida Paulista. “Sem universidade pública não tem pesquisa no Brasil. É a universidade que forma os profissionais e pesquisadores, que faz ciência básica. E sem Ciência não existe desenvolvimento possível para um país como o nosso”, disse ela ao Informativo Adusp.
Além das entidades já citadas, participaram da organização do evento em São Paulo: Academia de Ciências do Estado de São Paulo (Aciesp), Associação Nacional de Pós Graduandos (ANPG), Instituto Questão de Ciência (IQC), Associação dos Docentes da Unicamp (Adunicamp) e Associação dos Docentes da Unesp (Adunesp).
“Ninguém defende o que não conhece”, diz professora da Unifesp
“Foi extremamente proveitoso o dia de ontem [7/7]. Importante divulgar para a população [o que as universidades públicas produzem], porque ninguém defende o que não conhece”, afirmou ao Informativo Adusp a professora Kátia Cristina Pereira Oliveira, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). No seu entender, há entre os professores universitários a queixa de que no Brasil, diferentemente de outros países e culturas, não se valoriza a ciência. “Mas também temos um pouco de responsabilidade nisso”, pondera. “É papel dos docentes, dos pesquisadores, divulgar as pesquisas, mostrar que a ciência está nas pequenas coisas do cotidiano”.
Ao lado da colega Erika Suzuki Toledo, Kátia desenvolve na Unifesp o projeto de extensão “Patógenos em Jogo”, um conjunto de jogos sobre doenças infecciosas, criados com finalidade didática. A ideia, portanto, é associar educação e entretenimento. Na Paulista, elas apresentaram o jogo de tabuleiro “Guerra dos Patógenos”, o primeiro que desenvolveram. “Jogamos o jogo com algumas famílias, o resultado foi muito positivo”.
A professora da Unifesp avalia que a Marcha da Ciência foi um sucesso, porque as pessoas puderam conhecer várias iniciativas diferentes, e isso num “momento em que sofremos vários cortes”. A seu ver, é preciso defender o orçamento das universidades, as condições de trabalho dos docentes universitários. “O corte de verbas e de bolsas é muito prejudicial. Afeta o futuro da nação”, adverte Kátia.
Na condição de representante do Fórum das Seis, o professor João da Costa Chaves Jr., presidente da Associação dos Docentes da Unesp (Adunesp), manifestou-se durante o evento, ao lado de outros oradores: “Nós estamos nessa luta contra a política nefasta do governo federal, ao qual o governo estadual está alinhado. Em São Paulo temos uma tentativa muito grande de ataque aos institutos públicos de pesquisa e uma CPI na Assembleia Legislativa cujo objetivo é desmoralizar as universidades públicas paulistas”.
De acordo com Chaves Jr., não existe país desenvolvido no mundo que não possua ciência e pensamento crítico de qualidade. “Quem não tem conhecimento não tem lugar neste mundo. A luta pela educação, pela ciência e tecnologia é uma luta pela soberania nacional. Sem ciência, tecnologia e pensamento crítico brasileiro não temos soberania no país. O ataque às universidades é um ataque à soberania brasileira”.
Atividades montadas na Avenida Paulista no domingo 7/7
- Origens – Paleoantropologia (Roger Correa)
- Fundo do Mar (professor Michel Mahiques, Instituto Oceanográfico-USP)
- Acervo Biológico do Instituto Oceanográfico (Maria Luiza Flaquer – IO-USP)
- Gelo na Bagagem (IO-USP)
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Barraca do Peixe (Professora June Ferraz Dias, IO-USP)
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Micro Heróis (Professora Vivian Pellizari, IO-USP)
- ThunderRatz – Robótica (Escola Politécnica da USP)
- Quintal da Ciência, do Rio de Janeiro (divulgação científica)
- Patógenos em Jogo (professoras Kátia Oliveira e Erika Suzuki – Unifesp)
- Biodiversidade neotropical (Unifesp)
- Kids Save Lives Brasil (Naomi Lindo – FM-USP)
- Vacina da dengue (Instituto Butantã)
- Plantas medicinais (Instituto Agronômico)
- Controle Biológico de doenças com fungo (Instituto Biológico)
- Batata-semente (José Alberto Souza-Dias – IAC)
- Museu da Anatomia Humana (professora Silvia Lacchini – ICB-USP)
- Linhas de pesquisa do Instituto de Botânica (Leonardo Hamachi – IBt)
- Noções de Palinologia (IBc)
- Projeto Índice de Poluentes Hídricos (Universidade Municipal de São Caetano do Sul).
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