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Perseguidos pela ditadura tornam-se professores eméritos da FMUSP

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Após a cerimônia: amigos se reencontram |
Oito professores demitidos ou aposentados durante a ditadura militar foram homenageados na última sessão especial da Congregação da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), em 18/9.
Erney Felício Plessman de Camargo, Luiz Hildebrando Pereira da Silva, Luiz Rey, Michel Pinkus Rabinovitch, Pedro Henrique Saldanha e Thomaz Maack foram simbolicamente reincorporados ao corpo docente da FMUSP, agora como professores eméritos. Isaias Raw, que já possuía o título, recebeu a medalha “Arnaldo Vieira de Carvalho”.
O professor Marcos Boulos, diretor da FMUSP, definiu a homenagem como um espaço para “repactuar a história”, recuperando trajetórias interrompidas com violência e destacando o prejuízo causado por tais ausências ao desenvolvimento da universidade. “A perda dessas competências atrasou e muito o crescimento da nossa casa. Até hoje sentimos as conseqüências da arbitrariedade praticada”, observou.
“Exílio interno”
Pedro Saldanha, dirigindo-se aos presentes e aos “companheiros de tortura”, rememorou os expurgos, que atingiram principalmente os departamentos de Parasitologia e Bioquímica, numa época em que “reuniões científicas interdepartamentais eram consideradas subversivas à ordem política e social vigente”.
Além dos oito homenageados, foram lembrados os professores já falecidos que também sofreram demissões e aposentadorias compulsórias e outros que, apesar de não terem sido forçados a deixar o país, acabaram submetidos às pressões de um “exílio interno”.
Entre eles, Luiz Hildebrando destacou a figura de Samuel Barnsley Pessoa que, ao testemunhar a perseguição a seus colegas, teria jurado nunca mais pôr os pés na faculdade: “Ele foi para o [Instituto] Butantã porque, como ele dizia, trabalhar com cobra não dava IPM [Inquérito Policial Militar]”.
Em meio à diversidade de tendências políticas existentes entre os docentes perseguidos, de antigos militantes comunistas a professores que sequer podiam ser considerados “de esquerda”, o professor Thomas Maak identifica um traço comum, que despertou a ira ditatorial: a defesa da reforma universitária.
Sua “subversão”, relatou Maack ao Informativo Adusp, residia na luta pelo fim da cátedra vitalícia e pela renovação do currículo, na defesa da representação de professores não titulares e de estudantes nas instâncias decisórias da universidade, e na preocupação com a saúde pública e o papel social da universidade.
Novas reparações
“A própria universidade foi a disparadora de um processo de vitimização de seus docentes por questões ideológicas — ou até não ideológicas, acadêmicas”, disse o professor Boulos, relembrando as informações reveladas, em 1978, pela publicação da Adusp O livro negro da USP, relançada em 2004 sob o título O Controle Ideológico na USP (1964-1978).
“Hoje, nós não pensamos mais assim, temos que aceitar a diversidade de pensamento, a diversidade de conhecimento — esse é o ideário que nós levamos adiante”, explicou o diretor da FMUSP. Ele declarou ao Informativo Adusp que a faculdade prepara-se para estender o processo de reparação histórica a outros membros da instituição, entre os quais médicos do Hospital das Clínicas e estudantes perseguidos por sua militância política.
Também está sendo preparado um documento histórico reunindo depoimentos sobre a época, previsto para ser publicado no centenário da FMUSP, em 2012.
Greve estudantil
O ministro da Secretaria Especial dos Direitos Humanos, Paulo Vannuchi, que participou da homenagem, lembrou sua passagem pela faculdade, entre 1969 e 1970, e a greve estudantil então desencadeada contra a cassação dos professores Isaias Raw e Alberto Carvalho da Silva. “Quero agradecer ao professor Gerard Malnic, que teve a coragem de ser minha testemunha de defesa na Auditoria Militar no momento em que todos sabiam que isso podia lhe custar investigação, problemas na carreira”, disse Vannuchi.
Também estiveram presentes o secretário da Casa Civil do Estado de São Paulo, Aloysio Nunes Ferreira Filho, e o secretário de Estado da Saúde, Luís Roberto Barradas Baratta.
Matéria publicada no Informativo n° 268
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