Universidade
Carlotti Jr. quer doar à Marinha, à revelia do Instituto Oceanográfico, o barco de pesquisas “Alpha Delphini”, denuncia ex-diretor Michel Mahiques
Proposta de doação deverá ser levada a voto na reunião do Conselho Universitário agendada para a próxima terça, 26 de agosto. “A decisão de votar contra ou a favor pela doação cabe a cada um(a), mas espero que esta carta permita uma reflexão mais aprofundada antes da votação”, diz Mahiques em carta enviada a professores(as) titulares e associados(as)

“Na próxima reunião do Conselho Universitário [Co] será votada a doação do barco de pesquisas Alpha Delphini à Marinha do Brasil. O barco foi construído com recursos financeiros da Fapesp e da USP e encontrava-se desenvolvendo plenamente atividades de ensino e pesquisa quando, por decisão unilateral da Administração Central, e não do IOUSP, houve a determinação de doá-lo. Foi uma decisão à revelia do IOUSP e nosso diretor foi constrangido a elaborar a justificativa apresentada agora à reunião do Co”.
O autor dessa denúncia contra a Reitoria, encaminhada por e-mail aos professores e professoras titulares e associados(as) da universidade, é o professor Michel Michaelovitch de Mahiques, que foi diretor do IO de 2009 a 2013. “Na verdade, a doação do Alpha Delphini NUNCA FOI VOTADA PELA CONGREGAÇÃO DO IOUSP!” (destaques no original), reforça Mahiques, na mensagem dirigida aos professores e professoras associados(as).

“O único documento existente foi um ad referendum de um termo de parceria entre o IOUSP e a Marinha do Brasil (páginas 39 e seguintes da documentação enviada ao Co), documento esse [a] que nenhum dos membros da Congregação teve acesso”, prossegue o ex-diretor da unidade. A seu ver, a votação prevista para ocorrer no Co na reunião da próxima terça-feira, 26 de agosto, será puramente homologatória, uma vez que a gestão Carlos Gilberto Carlotti Jr.-Maria Arminda do Nascimento Arruda já decidiu, de antemão, doar a embarcação à Marinha.
“Na verdade, o que os colegas não devem saber é que o barco já foi levado ao Rio de Janeiro e já foi descaracterizado, ou seja, essa votação que ocorrerá é simbólica, já que ‘democraticamente’ a decisão já foi tomada pela Reitoria há mais de um ano. As alegações da falta de recursos são improcedentes. Vide a recente aquisição de terrenos em São Carlos e Ribeirão Preto”.
Mahiques avalia que é falaciosa a alegação da Reitoria de “baixa utilização” do “Alpha Delphini” — isso porque, relata, “tivemos projetos Fapesp interrompidos e nossos alunos têm dificuldades de completar as 100 horas de embarque exigidas pelo MEC para a formação de oceanógrafos”, e “várias disciplinas que utilizam barcos foram severamente prejudicadas”.
O que ocorre na verdade, afirma o ex-diretor do IO, é uma situação que se choca com uma orientação da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco): “Estamos na metade da Década da Ciência Oceânica para o Desenvolvimento Sustentável, e o que faz a Administração Central? Manda doar a embarcação mais nova da Universidade de São Paulo!”.
O “Alpha Delphini” é “muito mais do que um barco”, sustenta Mahiques. “É um laboratório de pesquisas. Alguém de vocês já imaginou receber a ordem de fechar seus laboratórios à revelia? Vocês conseguem imaginar o prejuízo nas atividades de ensino e pesquisa, não somente para o IOUSP, mas para TODA a Universidade?”, questiona ele (destaques no original).
“Minhas iniciais, junto com as do saudoso professor Rolf Weber, encontram-se gravadas a fogo na quilha do ‘Alpha Delphini’. O barco foi uma conquista do IOUSP, junto com o ‘Alpha Crucis’. Neste momento, a USP mancha sua reputação, ao entregar de graça um laboratório de pesquisas”, destaca. “A decisão de votar contra ou a favor pela doação cabe a cada um(a) das(os) colegas, mas espero que esta carta permita uma reflexão mais aprofundada, antes da votação. Agradeço, desde já, a atenção de vocês”, conclui.
O Informativo Adusp Online questionou a Assessoria de Imprensa da Reitoria a respeito das denúncias formuladas pelo professor Mahiques. Porém, até o momento da publicação não obtivemos respostas do Gabinete do Reitor. Caso cheguem, esta matéria será devidamente atualizada.
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