A interminável engrenagem avaliativa da USP — que Rossana Pulcineli Vieira Francisco, presidenta da Câmara de Atividades Docentes (CAD) da Comissão Permanente de Avaliação (CPA), definiu recentemente como um “processo de fluxo contínuo” — volta a girar, com a abertura de mais um ciclo de cinco anos.

Desde o início de setembro, o sistema CPA está aberto para submissão do Projeto Acadêmico Docente (“PrADo”) referente ao sexto ciclo de avaliação (2026-2030). O prazo para inserção do projeto se encerra no dia 3 de novembro.

De acordo com comunicado enviado pela CAD a professores e professoras, podem participar dessa etapa “todos os docentes estáveis, isto é, que tenham concluído o estágio probatório, nas categorias Titulares, Associados, Doutores, Assistentes e Auxiliares de Ensino”.

Na próxima quinta-feira (18 de setembro), às 16h, a CAD vai realizar uma reunião em formato remoto para tratar da elaboração do PrADo e responder a questionamentos dos(as) docentes.

Informações sobre o processo estão disponíveis na página sobre o PrADo na Internet, e dúvidas podem ser encaminhadas pelo e-mail cad@usp.br.

Docentes que não entregaram o RAD respondem a “sindicância punitiva”

Em reunião temática do Conselho Universitário (Co) sobre avaliação institucional e docente, realizada no final de junho, a professora Rossana Francisco anunciou que sete professores(as) que não entregaram o Relatório de Acompanhamento Docente (RAD) referente ao período de avaliação coberto pelo seu PrADo estão sendo submetidos(as) a uma “sindicância punitiva” (sic).

Na época, o Informativo Adusp Online questionou a CAD sobre a natureza da “sindicância punitiva”. A resposta enviada pela equipe do Gabinete da Vice-Reitoria (GVR) afirmava que se trata de “trâmite administrativo sob a responsabilidade da Procuradoria-Geral da Universidade”.

O procedimento não é um Processo Administrativo Disciplinar (PAD), e “os processos estão em andamento nas devidas instâncias”, prosseguiu a mensagem do GVR, sem dar detalhes.

Nesta semana, o Informativo Adusp Online voltou a fazer contato com a CAD para saber qual é o andamento atual dos procedimentos abertos contra os(as) docentes, mas até esta sexta-feira (12 de setembro) não havia recebido resposta.

Vale lembrar que, na reunião temática do Co, a presidenta da CAD afirmou que “é importante que a gente tenha seriedade em entender que a avaliação é necessária e é benéfica” e que “não pode nem deve virar uma questão de terror com as pessoas”.

Tais observações soam contraditórias quando se tem em conta que os(as) docentes estão sujeitos(as) a ser alvo de medidas punitivas caso não cumpram todos os requisitos exigidos pela engrenagem avaliativa.

Ademais, os projetos acadêmicos agora incluem campo para informar a qual “objetivo de desenvolvimento sustentável” (ODS) se vinculam, numa clara tentativa de enquadramento dos docentes numa pespectiva questionável para aqueles que concordam com a centralidade da questão socioambiental da atualidade. Os ODS foram definidos pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2015, sem que tenham propiciado avanços expressivos ao longo de uma década. Trata-se mais de peça publicitária, exigência de rankings, do que algo efetivo. Embora haja a opção “Não se aplica”, a existência desse novo tópico configura uma forma de pressão.

Adusp defende que avaliação seja um processo de valorização do trabalho docente

“A Adusp sempre defendeu e continua defendendo que a avaliação docente deva ocorrer no âmbito da instância em que o(a) docente exerce suas funções na universidade”, lembra o professor César Minto, docente aposentado da Faculdade de Educação da USP e ex-presidente da Adusp. “Vale dizer, a avaliação precisa ser diagnóstica, e ninguém melhor do que os pares do coletivo laboral para avaliar a adequação ou não das atividades de ensino, pesquisa e extensão realizadas por componentes do coletivo à luz do projeto político-pedagógico da unidade e das condições de fato oferecidas pela instituição. Desse modo, é possível dar continuidade às atividades então realizadas ou corrigir seus rumos, se o coletivo julgar que é o caso.”

De acordo com o professor, “essa forma de avaliação permite um aperfeiçoamento contínuo das atividades laborais individuais e coletivas, proporcionando um engajamento progressivo dos(as) participantes e tornando a gestão da instância uma prazerosa coordenação democrática ao invés de um mero fardo burocrático”. “Até quando a USP continuará a ignorar tal concepção, privilegiando aferições de desempenho de cunho ‘punição-premiação’?”, questiona.

O presidente da Adusp, professor Márcio Moretto Ribeiro, considera que “o PrADo é apresentado como uma ferramenta de planejamento acadêmico, mas tem gerado apreensão entre docentes, especialmente quando sua aplicação vem acompanhada de medidas de caráter punitivo”.

“A Adusp entende que a avaliação deve ser um processo formativo e de valorização do trabalho docente. Defendemos que ela seja qualitativa e global, realizada no âmbito das unidades, contemplando ensino, pesquisa, extensão e engajamento institucional, de modo a respeitar a diversidade das áreas e trajetórias acadêmicas”, conclui Moretto.

EXPRESSO ADUSP


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