Realizado nesta quarta-feira (30/11), no Anfiteatro do Departamento de Genética, o I Encontro para a Consciência Negra na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) reuniu participantes do movimento negro de Piracicaba, que debateram aspectos do necessário combate ao racismo estrutural e abordaram outros tópicos relacionados à temática das desigualdades raciais. O evento foi organizado pelo Coletivo Negro Baobás, da Esalq.

Entre os palestrantes, a professora Lia Martins foi bastante didática em suas explicações sobre o racismo existente no Brasil, mencionando referências incontornáveis para sua compreensão, como a obra Racismo estrutural, de Silvio Almeida (Pólen Produção Editorial, 2019). Ela também sugeriu livros infantis, filmes e séries que tratam de forma pertinente o problema.

A psicóloga Pamela Cristina foi enfática em considerar absolutamente inaceitável o trote esalqueano, especialmente a “liberação dos bichos” no dia comemorativo da abolição da escravidão (13 de maio). Por outro lado, a psicóloga insiste sobre a necessidade de favorecer a potência de cada indivíduo, como meio de alcançar justiça para a coletividade negra. A apresentação de vídeo da música de Bia Ferreira intitulada “Cota não é esmola” foi muito ovacionada.

O fundador da Casa do Hip Hop, Bira, apresentou tal iniciativa como um processo urbano de organização quilombola. Um grupo de jovens negros, mergulhados em profunda marginalização, encontrou nessa organização sociopolítica um meio de mudar sua realidade social, enfrentando grandes oposições. Atualmente, a Casa do Hip Hop envolve muitas pessoas em seus projetos, entre os quais uma horta agroecológica, pois a “produção do próprio alimento é parte da revolução cotidiana” (consulte aqui mais informações sobre estes projetos).

“O evento representa um marco efetivo no que se refere à permeabilidade da Esalq para perspectivas alternativas de justiça”, destaca o professor Paulo Moruzzi Marques, diretor regional de Piracicaba da Adusp. “A cobrança por direitos negados torna-se assim mais visível nesta unidade da USP com um passado muito ancorado no mundo agrário extremamente desigual do país”.

A pichação de um cartaz de divulgação da atividade, afixado no restaurante universitário (Rucas), levou o Coletivo Negro Baobás a emitir nota de protesto. “O racismo na sociedade brasileira é um inimigo presente e constante. Não é de se surpreender que aconteça também em todas as microesferas possíveis e na Esalq não haveria de ser diferente”, diz o grupo. “Após a divulgação do I Encontro Para a Consciência Negra na Esalq, um de nossos cartazes localizado no mural de avisos do Rucas foi vandalizado e recebeu uma pichação com a palavra ‘ridículo’, o que nos chateia mas, novamente, não nos surpreende de forma alguma”.

A nota aponta um extenso histórico de agressões racistas na Esalq ou a ela vinculadas: “Piadas de mau gosto, exemplos de cunho racista utilizados em sala de aula por professores renomados, nomes de repúblicas que ferem a história e ridicularizam o povo negro, que construiu esse país e tudo que tem nele, são registros de como ainda estamos atrasados em questões de empatia, respeito ao próximo e de reconhecimento da população negra como humanos dignos de dignidade — nestes termos mesmo”.

Na avaliação do grupo, o ataque ao evento é só mais uma prova do quanto, “mesmo nos locais onde se pensa ter a elite intelectual do Brasil”, o racismo está presente. “E, mesmo que ninguém te fira diretamente, as pessoas se sentirão ameaçadas ao mínimo esboço de uma tentativa de qualquer minoria que tentar ocupar verdadeiramente a Esalq”.

EXPRESSO ADUSP


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