Passaram-se quase dois anos desde que teve início o projeto “Diplomação da Resistência”, mediante o qual diferentes unidades de ensino da Universidade de São Paulo atribuem diplomas honoríficos de graduação a estudantes de seus cursos que não puderam concluí-los porque foram assassinados pela Ditadura Militar (1964-1985). No dia 15 de dezembro de 2023, o Instituto de Geociências (IGc) concedeu tais diplomas à família de Alexandre Vannucchi Leme e a amigos de Ronaldo Mouth Queiroz, ambos militantes da Ação Libertadora Nacional (ALN) assassinados por agentes da repressão política em 1973 — portanto, cinquenta anos antes.

A partir de então ocorreram cerimônias semelhantes em várias unidades da USP na capital paulista. Contudo, a decisão da Reitoria de deixar as iniciativas correspondentes a cargo de cada unidade — em vez de adotar uma decisão centralizada por meio do Conselho Universitário e que contemplasse o conjunto de discentes que foram vítimas fatais da Ditadura Militar — fez com que o processo se arrastasse no tempo.

No próximo dia 3 de novembro, às 17 horas, no Auditório “Abraão de Moraes”, será a vez de o Instituto de Física (IF) homenagear e conceder diplomas póstumos a seus ex-estudantes Jeová Assis Gomes (1943-1972), José Roberto Arantes de Almeida (1943-1971) e Juan Antonio Carrasco Forrastal (1945-1972). Todos assassinados há mais de meio século, o que acentua a morosidade dessa reparação simbólica.

Jeová Gomes (reprodução), José Arantes (reprodução), Juan Carrasco (arquivo de família)

Tanto Jeová como Arantes atuaram na ALN e depois no Movimento de Libertação Popular (Molipo), uma dissidência daquele grupo. Embora em circunstâncias diferentes e separadamente, ambos foram covardemente assassinados por agentes da repressão depois que retornaram de Cuba, onde estiveram realizando treinamento de guerrilha. Arantes era companheiro de Aurora Nascimento Furtado, aluna do Instituto de Psicologia da USP que depois também seria assassinada.

O caso de Juan Carrasco Forrastal ilustra o grau de perversidade do regime dos generais. Juan era hemofílico, usava prótese numa das pernas, e a família, boliviana, decidiu migrar para o Brasil para que ele pudesse receber tratamento adequado. Seu irmão, estudante da Escola Politécnica, foi preso no ataque do Exército ao Conjunto Residencial (Crusp) em 1968, que resultou em inúmeras prisões. Juan então dirigiu-se ingenuamente à sede do II Exército (hoje denominado Comando Militar Sudeste) para obter informações sobre o irmão, mas foi preso e passou ele próprio a sofrer torturas.

Posteriormente, a família conseguiu libertá-lo e transferiu-se para a Espanha. Juan, porém, jamais se recuperou do trauma emocional. Suicidou-se em 1972, em Madri.

EXPRESSO ADUSP


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