Se o senhor quiser fazer esse exame procure um plano privado”. Assim manifestou-se um médico do Hospital Universitário (HU) quando o professor Manoel Fernandes, presente no local, dirigiu-se a ele solicitando um exame. A frase do médico sugere que somente desse modo o professor da FFLCH evitaria a longa espera que tem caracterizado os serviços do Departamento de Saúde, Segurança e Medicina do Trabalho da USP (antigo Sisusp).

“É muito difícil fazer agendamento de consultas [via telefone e internet]. Existem dias específicos para determinadas especialidades. A espera chega a durar dois meses”, observa o professor Fernandes. No seu entender, são escassos os equipamentos médicos que poderiam acelerar os atendimentos e diminuir as filas: “A percepção que tenho é a de um desmonte. Os médicos não têm condições adequadas de trabalho e existe uma burocratização do serviço”.

Um servidor do HU, que prefere não se identificar, relatou ao Informativo Adusp que nos últimos meses a instituição não tem conseguido atender à demanda. Segundo ele, num determinado domingo a fila de espera para o atendimento de ortopedia chegou a quatro horas. No plantão só dois médicos ortopedistas atendiam. Os usuários eram “aconselhados” a se dirigirem ao Hospital Regional da Lapa, enquanto na Lapa pacientes recebiam a mesma orientação e chegavam ao HU procurando o mesmo serviço.

Em entrevista recente, cedida ao boletim USP Destaques (nº 6, 1/10/2010), o professor Marcos Boulos, diretor do Departamento de Saúde, revelou que está em andamento, a pedido do reitor João Grandino Rodas, a elaboração de um Plano de Saúde para funcionários e professores com vistas a propiciar “benefícios importantes para a comunidade USP”.

Perda de identidade

Ex-diretor do IP e docente aposentado, Arrigo Angelini faz uma avaliação positiva dos serviços oferecidos pelo HU, “sobretudo na parte de exames e imagem”, mas queixa-se da demora no atendimento e alerta para a formação de longas filas de espera no atendimento de emergência. Ele vê a situação como uma contingência decorrente dos atendimentos à comunidade externa da USP: “Quando disseram que teríamos um hospital universitário nós imaginávamos que ele seria voltado para os alunos e professores”.

Flávio Alba, também docente aposentado (IF), é antigo usuário do HU, onde chegou a ser submetido a cirurgia. Com retorno marcado e a certeza de mais um mês de espera, contou por que utiliza os serviços do HU: “Como a aposentadoria é baixa e não dá para pagar seguro [plano de saúde], a gente tolera essa demora horrível”. Questionado sobre as causas da lentidão, o professor comentou: “A gente vê que a quantidade de clientes é grande.

O professor Fernandes, porém, discorda de que o problema do HU se deva à ampliação do atendimento à comunidade externa, ou seja, à integração no Sistema Único de Saúde (SUS): “Receber usuários externos tem a ver com a extensão e com a própria formação dos alunos. O papel do HU é de formar não só estudantes de medicina, mas também de serviço social, enfermagem. A burocratização do acesso fez com que o HU perdesse sua identidade, afastando os usuários”.

Os problemas de atendimento no HU indicam a necessidade de mudanças em sua estrutura de funcionamento e de reflexão sobre suas funções.

 

Informativo nº 315

EXPRESSO ADUSP


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