Na quarta-feira de Cinzas do Carnaval de 2007, Maria Cícera Santos Portela, jovem de 24 anos, aproveitava o período final de suas férias na varanda de casa, na favela San Remo. Mais três dias e teria de retornar ao trabalho no restaurante da Faculdade de Educação (FE-USP). Na rua, a comunidade se divertia. A Polícia Militar decidiu intervir. Quando os PMs deixaram o local, Cícera estava morta. “Eles chegaram na viatura e foram atirando nas pessoas”, explicou ao Informativo Adusp dona Maria Aparecida dos Santos, mãe da jovem, ao rememorar o episódio na semana passada.

No último dia 13/10, também uma quarta-feira, o PM José Álvaro Pereira da Silva, acusado de ter feito o disparo que matou Cícera, foi absolvido pelo 5º Tribunal do Júri da capital, numa votação apertada: 4 votos a 3.

De acordo com o advogado Luis Carlos Matos Filho, que atuou como assistente de acusação, o fator determinante da absolvição do PM foi a inexistência de confronto balístico, ou seja, não houve o exame do projétil que matou a jovem, que permitiria saber se ele foi ou não disparado pela arma de José Álvaro. A razão para não ter havido o confronto balístico: o projétil extraído do crânio de Cícera foi extraviado, conforme atesta certidão do delegado de polícia que atuou no caso.

“O próprio PM afirmou que fez dois disparos para o alto. Ficou claro que ele estava no local, que avançou sobre a multidão. Mas a defesa se baseou na inexistência do confronto balístico”, disse Matos Filho, que representou a família de Cícera no julgamento.

A mãe da jovem acreditava na condenação do PM: “Esperava uma coisa e foi outra. Saí de lá como se estivesse vindo do enterro da minha filha. Foi ele que tirou a vida da minha filha”, declarou dona Maria Aparecida, que também trabalha na FE-USP. “Dos PMs que estavam com ele, suas testemunhas, e dele, só ouvi mentiras”, relata.

 

Informativo n° 315

EXPRESSO ADUSP


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