Reunida em 23/3, a Congregação da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) deliberou que haverá novo pleito eleitoral para constituição de nova lista tríplice para o cargo de Vice-Diretor da unidade. Assim, foi anulada a eleição realizada no dia 15/3, que resultou em uma lista tríplice encabeçada pela professora Maria Lúcia Carneiro Vieira, atual chefe do Departamento de Genética.

A decisão de refazer o pleito resultou da forte reação de alguns docentes à tentativa de conluio ocorrida na primeira eleição e por eles denunciada. Teria havido ingerência do diretor da unidade, professor José Vicente Caixeta Filho, em favor da candidata Maria Lúcia, na forma de uma “sugestão” feita a membros da Congregação para que votassem em determinados nomes em ordem pré-estabelecida.

Membros da Congregação receberam da professora Maria Lúcia, antes da eleição, uma mensagem eletrônica em que ela sugeria que votassem, em cada escrutínio, em nomes previamente designados. Na mesma mensagem, a candidata declara que tal sugestão partiu de “conversa” com o diretor da unidade:

“Caros colegas,

Em conversa com o Prof. Caixeta, entendemos que poderíamos sugerir a Vocês que a votação para eleição da lista tríplice para Vice-Diretor seja realizada da seguinte forma: 1° escrutínio: votação em um único nome, no caso, Maria Lucia. Caso se atinja a maioria já no 1° escrutínio, a seguir, os nomes a serem votados nesta ordem, seriam o do Prof. Folegatti e, depois, o da Profa. Beatriz Appezzato. Esta é apenas uma sugestão, por favor, em nenhum momento cogitamos intervir no direito de livre escolha de cada um de Vocês.

Abraço e, desde já, obrigada,

Maria Lucia”

Violações éticas

O professor Márcio Lambais, um dos destinatários do e-mail enviado pela candidata, considera o fato gravíssimo: “Essa mensagem, pelo meu entendimento, muito embora com uma ressalva de não querer ‘intervir no direito de livre escolha’, é uma clara declaração de desrespeito ao processo democrático de escolha de nossos dirigentes e infringe o Código de Ética de nossa Universidade”.

O comentário consta de mensagem que Lambais enviou aos docentes da Esalq, incluído o ouvidor do campus, e ao reitor da USP, questionando a ingerência no processo eleitoral. Para ele, a atitude da professora Maria Lúcia e do diretor da Esalq violou os artigos 3º e 9º do Código de Ética.

Assim, a declaração explícita das preferências do diretor, ao sugerir os nomes que viriam a compor a lista tríplice, a qual “supostamente só deve ser definida após votação por colégio eleitoral constituído”, infringiria o parágrafo I do artigo 3º; ao passo que o fato de “não incentivar o respeito à verdade, já que arquiteta o resultado da eleição e insinua que a função do colégio eleitoral é uma farsa” atentaria contra o parágrafo V do mesmo artigo.

Já o desrespeito aos membros do colégio eleitoral “que foram ao pleito escolher seus candidatos sem saber do conluio para eleger determinadas pessoas”, bem como a tentativa de constranger subordinados a desobedecer ou contrariar um princípio contido no Código de Ética (a liberdade de expressão), constituiria infração aos parágrafos I e V do artigo 9º.

Ingerência

O professor Caetano Rípoli foi outro que rejeitou a “sugestão” da candidata: “Tenho pela professora Maria Lucia, como colega e como profissional, elevado grau de respeito e consideração. É uma profissional rara nos dias de hoje por sua dedicação às questões da graduação na Esalq. Mais por isso me causou espécie a sugestão, além de eu não absolvê-la pela imprópria iniciativa”.

“Todavia, classifico a ‘sugestão’ como uma ingênua interferência indevida (e posso até estar sendo ingênuo nessa classificação) e tentativa de engessamento do processo eleitoral”, prossegue. “Qualquer atitude que tenda a modificar a tênue linha democrática na USP ou fora dela me incomoda! Apostaria que, neste momento, a professora Maria Lucia deve estar se lamentando profundamente”.

O professor Demóstenes Ferreira da Silva Filho, diretor da Adusp, critica duramente o ocorrido: “Então vamos mudar o Estatuto, o diretor escolhe quem ele quiser. Isso é totalmente antidemocrático. Não dá para ficar quieto. É uma violação do Estatuto”.

Sem respostas

Informativo Adusp enviou ao diretor da Esalq quatro perguntas sobre o episódio. Recebemos, em resposta, mensagem enviada por Carmen Pilotto, assistente de direção, dando conta da decisão da Congregação em 23/3. “O novo processo eleitoral não tem calendário definido mas deverá ocorrer com a maior brevidade possível”, informa a mensagem. Por fim, acrescenta que o professor Caixeta “também sugere” a leitura dos “seguintes documentos”: o noticiário sobre sua posse e o seu discurso de posse.

Ficaram sem resposta, portanto, as seguintes questões: “O sr. confirma a conversa citada pela professora Maria Lúcia?”, “Em outras palavras, essa sugestão feita pela professora a alguns colegas partiu do sr. ou teve o seu endosso?”, “O sr. considera ético e adequado seu procedimento, como Diretor da unidade?”.

Nossa reportagem telefonou várias vezes para o departamento da professora Maria Lúcia mas conseguiu encontrá-la.

 

Informativo n° 322

EXPRESSO ADUSP


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