Em duas reuniões consecutivas, realizadas nos dias 29/3 e 5/4, os professores doutores (MS-3) da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH-USP) decidiram defender, no âmbito da Comissão Central daquela unidade, a manutenção do curso de Obstetrícia, rechaçando, desta forma, a recomendação do relatório final do chamado GT Melfi de fechar o curso, que seria incorporado pela Escola de Enfermagem (Informativo Adusp 322). Participaram das reuniões mais de 50 docentes.

O consenso no tocante à Obstetrícia não se repetiu, porém, na discussão sobre a proposta de redução de vagas dos cursos da EACH, realizada na reunião de 5/4. Os professores estão divididos no tocante ao assunto: seis cursos defendem a redução de vagas, ao passo que os outros quatro e também o Ciclo Básico são contrários ao corte. Contudo, há um consenso de que outra saída haveria se essa unidade, a mais nova da USP, recebesse mais atenção. O pano de fundo da discussão: a EACH continua contando com insuficiente número de professores, o que resulta em sobrecarga do quadro atual, com grande número de alunos por turma. Até mesmo as salas não comportam a totalidade de alunos das turmas que, dada a situação usual de repetências, não raro ultrapassam 75 estudantes.

Por fim, a reunião dos MS-3 decidiu levar à Comissão de Graduação da unidade a posição de que deve caber a cada curso a decisão final sobre cortar ou não vagas das suas turmas. Nova reunião será realizada nos próximos dias. Entre os pontos de pauta, a escolha de uma comissão de docentes que fará a mediação com a Assembléia Legislativa. Na véspera da última reunião, estiveram na EACH os deputados petistas Adriano Diogo, Simão Pedro e Alencar Santana, que foram recebidos pela direção da unidade e depois reuniram-se com professores e estudantes.

“Não à redução”

“Somos reféns de uma situação”, declarou a coordenadora do curso de Obstetrícia, Nádia Narch, aos seus colegas MS-3. Ela destacou que, embora o curso precise de docentes e, “principalmente, de funcionários especializados para acompanhar os estágios”, seus professores decidiram “dizer não à redução de vagas”. Esse também foi o caso do curso de Gestão de Políticas Públicas (GPP): “O problema não é termos muitas vagas, é não termos professores suficientes. Cortar vagas é um tiro no pé da Escola. O GPP se põe contrário a qualquer corte”, enfatizou o professor Alessandro Silva. A EACH dispõe, segundo ele, de verba ociosa de R$ 8 milhões: “A contratação de mais professores viabilizaria, por exemplo, a criação de turmas noturnas no nosso curso”. Pelos relatos dos docentes, os alunos de cursos que se pronunciaram a favor da redução são majoritariamente contrários a tal iniciativa, mesmo nas condições atuais, mas têm propostas de divisão de turmas pela introdução de mais um período de atendimento.

Os representantes dos cursos favoráveis à redução do número de vagas oferecidas argumentaram que as turmas estão demasiadamente numerosas, mas que há evasão nos semestres mais adiantados. “Quero formar bons alunos. Temos que dar um freio de arrumação na EACH”, disse o professor Marcos Chaim, de Sistemas de Informação. O professor Luis Beduschi, de Gestão Ambiental, informou que este curso decidiu “sugerir responsavelmente” a redução das turmas, de 60 alunos para 40. “Tenho sala com 89 alunos”, exemplificou.

“As turmas estão muito grandes e não temos laboratórios, precisamos levar os alunos para a FEI e o Senai”, explicou a professora Regina Sanches, de Têxtil e Moda. O curso tem apenas 14 docentes, mas precisaria duplicar o quadro. “O maior problema do nosso curso é que não há professores doutores na nossa área. O corte de vagas foi unanimidade entre os docentes”, informou a professora Cláudia Vicentini.

O professor João Zanetic, presidente da Adusp, manifestou-se ao final da reunião. “A USP tem evasão em todos os cursos e esse é um fenômeno natural na Educação Superior”, afirmou. “A Zona Leste da capital foi diagnosticada, há décadas, como desprovida de qualquer curso superior público”. Ele lembrou que o governo estadual descumpre a Constituição Estadual, que determina a expansão das universidades públicas nas regiões periféricas. “Vou na linha de que é um tiro no pé reduzir as vagas. Temos que defender aumento de vagas, especialmente aqui”.

 

Informativo nº 323

EXPRESSO ADUSP


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