Segurança
Casos de violência no campus de São Carlos
Um caso de violência contra um grupo feminista e a denúncia de estupro coletivo de um calouro marcaram o início do ano letivo no campus de São Carlos da USP. Direta ou indiretamente, esses episódios se vincularam a “trotes” aplicados contra calouros.
No dia 26/2, cerca de quarenta integrantes da Frente Feminista de São Carlos protestavam contra a realização do evento denominado “Miss Bixete”, durante a recepção aos calouros. Irritados, alunos veteranos ofenderam as estudantes. Dois deles ficaram nus em frente ao grupo e um terceiro simulou sexo com uma boneca inflável.
Um vídeo no You Tube captou cenas de estudantes intervindo na realização do ato. Numa das sequências, um aluno segura a boneca inflável, beija sua boca e depois mostra para a câmera o que seriam os órgão genitais de uma mulher. As ações acontecem em frente à manifestação feminista (veja em http://goo.gl/TtRNv).
Três estudantes veteranos envolvidos no caso apresentaram-se ao 3º Distrito Policial de São Carlos em 8/3. Eles são acusados de crime de ato obsceno, e não negam o fato. Uma audiência foi marcada para abril. A pena para este crime varia de três meses a um ano de prisão, mas pode ser revertida por meio de entrega de cesta básica e prestação de serviço público.
Os acusados ainda deverão responder a um processo administrativo. Em nota encaminhada ao Informativo Adusp, a assessoria de comunicação do campus de São Carlos diz que o processo “está em curso, com prazo para conclusão dos trabalhos de 60 dias [contados a partir de 22/3]”. Segundo a assessoria, “paralelamente, o Conselho Gestor do Campus (órgão deliberativo local de instância máxima) tratará desses fatos em sua próxima reunião para análise e deliberações”.
“Mero objeto”
O “Miss Bixete” é organizado pelo auto-intitulado “Grupo de Apoio à Putaria” (sic), ou GAP, e ocorre dentro do espaço do Centro Acadêmico Armando Salles de Oliveira (CAASO), apesar de supostamente não contar com o apoio de suas gestões. A atividade prevê que as estudantes recém-chegadas na universidade participem de um “concurso de beleza”, no qual são compelidas a praticar ações consideradas opressivas e constrangedoras.
O Coletivo Feminista CAASO emitiu nota de repúdio ao evento de 26/2, na qual define o “Miss Bixete” como “um concurso pensado para reproduzir padrões que reduzem a mulher a um mero objeto”.
Estupro
Semanas depois do “Miss Bixete”, um estudante do primeiro ano do curso de Licenciatura em Ciências Exatas registrou, em 13/3, um Boletim de Ocorrência (BO) contra oito veteranos que o teriam estuprado. De acordo com a polícia, o caso teria ocorrido em 4/3.
Segundo o BO, após sair de uma assembleia, o rapaz de 22 anos voltava para o quarto, quando, ao passar pela entrada de um dos prédios do alojamento estudantil, foi puxado pelos braços para dentro de uma cozinha. Lá, teria sido obrigado a despir-se e fazer sexo oral com cerca de oito estudantes que participavam de uma festa. Ele disse à polícia que antes de ser forçado ao ato sexual foi ameaçado pelos integrantes do grupo e informou também os apelidos dos agressores, afirmando que pode reconhecê-los.
Registrado como suspeita de estupro no 3º Distrito Policial (DP) de São Carlos, o caso será investigado pelo delegado Aldo Donisete Del Santo, que também conduz as apurações do outro episódio. Mesmo sem serem intimados, mais de vinte estudantes foram à delegacia prestar depoimentos em defesa dos acusados.
Nota da assessoria de comunicação do campus informou que um processo de sindicância para apuração do fato foi aberto em 18/3, pela Prefeitura do campus.
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