Marco Antonio Zago, 66 anos, professor titular da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto e atual pró-reitor de Pesquisa

Informativo Adusp. Por que e quando decidiu pela candidatura como reitor?

ZAGO. A decisão por concorrer a um cargo tão importante como o de Reitor da USP não pode ser tomada de forma isolada e solitária. Todos os professores titulares da universidade são elegíveis pelas regras atuais e o que levará alguns deles à condição de candidatos será exatamente a capacidade de atrair para o projeto um número expressivo de pssoas que acreditem em suas ideias, naturalmente fundamentadas em um histórico de realizações nos campos do ensino, da pesquisa e de serviços à comunidade. Penso que a convocação do Conselho Universitário para discutir mudanças no processo eleitoral deverá retardar o debate mas poderá introduzir novidades na forma pela qual as candidaturas passam da fase de articulação para a de exposição, seguida de crítica e aperfeiçoamento que caracterizam a escolha de uma liderança universitária. Eu poderei ser candidato, tendo em vista meu passado acadêmico, minha experiência como presidente do CNPq e como Pró-reitor de Pesquisa da USP. No entanto, não há ainda como falar em candidaturas enquanto não existe o processo eleitoral.

Informativo Adusp. Qual nome é previsto para ser o seu vice?

ZAGO. Em vista do que foi dito acima, não há como falar disso concretamente. Se o processo eleitoral em vigor for mantido, a questão do vice somente será posta no meio no primeiro semestre do próximo ano. Se ocorrer mudança do processo eleitoral, a eleição vinculada do reitor e do vice poderá ser introduzida. Isso parece a muitos um progresso, pois a eleição de uma dupla com clara divisão de responsabilidades contribuirá para a redistribuição do poder na direção da USP. Além disso, permitirá que as alianças que participarem da eleição do reitor fiquem visíveis, dando mais transparência ao processo eleitoral.

Informativo Adusp. O que dizer sobre o quadro de disputa até o momento?

ZAGO. Esses são os nomes lembrados por todos, mas é muito possível que outros nomes surjam já a USP tem um grande número de professores titulares experientes e capazes de dirigir a universidade nos próximos quatro anos.

Informativo Adusp. Quais serão seus principais eixos de proposta durante a campanha? Algo significativamente diferente da atual gestão? Algo que responda a alguma crítica pontual à atual gestão?

ZAGO. Eu diria que o ponto mais significativo é mudar a maneira como são tomadas as decisões, fazendo com que o Conselho Universitário, as Congregações e os Conselhos Centrais tenham uma participação mais relevante na vida da Universidade. Considero que os pontos prioritários a serem promovidos na próxima gestão incluem, pela ordem: a) reforma do ensino de graduação e revisão do sistema de acesso à universidade; b) a questão do poder na universidade, muito além da simples eleição do reitor; c) revisão da estrutura dos campi, das unidades e dos cursos; d) reforma da carreira docente; d) modernização dos sistemas de gestão, começando pela avaliação da universidade como instrumento para priorizar ações.

Informativo Adusp. Qual a sua avaliação da atual gestão? Ao seu ver, já é possível fazer algum balanço?

ZAGO. Como Pró-reitor participei da atual gestão. Acredito que fizemos progresso no sentido de fazer da pesquisa um instrumento de integração interna e de interação da USP com a sociedade: temos mais coesão de grupos interdisciplinares (na forma de NAPs []), temos estímulo aos docentes recém-contratados para ganharem independência de produção intelectual, temos iniciativas importantes para criar laboratórios multiusuários, fortalecemos a Agência USP de Inovação (a USP é hoje a universidade brasileira que mais deposita patentes), promovemos numerosos acordos internacionais de pesquisa e editais para projetos em colaboração com universidades líderes do mundo, nossa posição em todos os rankings internacionais melhorou. Meus colegas pró-reitores também criaram diversos programas e terão oportunidade de explica-los em suas intervenções.

Informativo Adusp. O que achou, por exemplo, das mudanças no Inclusp?

ZAGO. As mudanças do INCLUSP foram um progresso no sentido de ampliar a inclusão social na USP. Creio, no entanto, que poderá haver sensível avanço se fizermos mudanças mais importantes no processo de acesso à universidade. Minha convicção é que a seleção de candidatos deve respeitar a qualidade, mas nosso sistema de selecionar alunos pelo exame vestibular único não é obrigatoriamente a melhor maneira de selecionar os melhores. Os critérios de qualidade podem ter diferentes leituras.

Informativo Adusp. Qual é sua opinião sobre a emenda ao Estatuto da USP apresentada por Adusp, DCE e APG à Reitoria, solicitando ao Co a incorporação da consulta direta e paritária de reitor ao documento?

ZAGO. Juntamente com outros cinco professores da USP que, como eu, não estávamos envolvidos na então campanha de reitor, em 2009, eu publiquei um manifesto denominado “A USP precisa mudar”. Era uma contribuição para discussão sobre a universidade. Logo de início do documento nós defendíamos a necessidade de mudar o processo de eleição de reitor, para torná-lo mais representativo, no mínimo com a eliminação do segundo turno. No entanto o tempo passou e os conselhos não foram chamados a se manifestar sobre esse aspecto tão importante da vida universitária. Dificilmente teremos, na reunião de outubro, a isenção necessária para discutir desinteressadamente essa matéria, uma vez que numerosos grupos, ligados a eventuais candidatos, poderão ter um evidente conflito de interesse. Mas a decisão será tomada e a partir daí se desencadeará, finalmente, o processo eleitoral. Reafirmo, porém, que a simples mudança do sistema de eleição de reitor não será suficiente para garantir uma distribuição de poder mais compatível com as necessidades de uma USP mais moderna.

EXPRESSO ADUSP


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