A Guarda Universitária (GU) está inconformada com as mudanças conceituais e operacionais a ela impostas em 2012, após a chegada dos coronéis nomeados pela gestão de J. G. Rodas. O nome mudou para “Proteção e Prevenção” (PP-USP), os uniformes por pouco não passaram a assemelhar-se aos da Polícia Militar (só não ocorreu em razão dos custos elevados), a escala de trabalho foi alterada à revelia dos guardas universitários, a página interativa da GU no site da USP foi retirada do ar.

Os guardas universitários mobilizaram-se, articularam apoios, e redigiram uma carta aberta na qual pediam solidariedade: “Estamos clamando por socorro, pois estamos sendo aviltados, violentados, agredidos moralmente, bem como assediados profissionalmente”. “Não iremos e não queremos coadunar com a atual política de desconstrução, de devastação, perseguição e extermínio do nosso quadro de seguran­ças”.

Um comissão de guardas foi ouvida pelo vice-reitor, Vahan Agopyan, que garantiu a eles a criação de um grupo de trabalho para discutir a questão de segurança na USP. “Queremos ter um grupo de trabalho que ouça a comunidade, não apenas os guardas, os vigias e os coronéis, mas que ouça todo o mundo e faça um projeto de segurança para os nossos diversos campi. Esperamos, em poucas semanas, ter uma proposta de segurança já discutida com toda a comunidade”, afirmou Vahan ao Informativo Adusp.

A GU tem pleiteado que esse grupo de trabalho seja criado o quanto antes e que docentes da área de direitos humanos o integrem, assim como representantes dos funcionários e estudantes.

Interferência

“Temos que fazer uma discussão adequada de por que segurança aqui não significa repressão”, avalia a professora Zilda Iokoi (FFLCH), do Núcleo de Estudos das Diversidades, Intolerâncias e Conflitos. “Toda vez que a polícia entra, só piora o problema. Temos que criar uma tal democracia aqui dentro que as pessoas possam ter responsabilidade pelas coisas que fazem, sem essa interferência militar no campus toda vez que acontece algum problema”. Para ela, as reivindicações da GU refletem um conflito entre o que os coronéis defen­dem e as normas da Reitoria que regulam a segurança no campus.

O professor Adilson Carvalho (IGc) declarou ao Informativo Adusp que a GU, reestruturada em 1999, era reconhecida e valorizada pela comunidade universitária como a “segurança da USP”, de modo que a troca de nome, bem como outras modificações, “conduzem a uma perda de identidade que no meu entender foi um grande equívoco”. Carvalho conhece bem a questão: foi prefeito do campus do Butantã de 2006 a 2008, quando a Prefeitura controlava a GU, e posteriormente foi seu diretor administrativo (2010) e superin­ten­den­te de Segurança (2011).

No entender de Carvalho, a GU experimentou um salto de qualidade até o início de 2012, em processo que culminou com a criação da Superintendência de Segurança. “A troca de comando ocorrida em 2012 não foi uma simples substituição de pessoas. O projeto que vinha sendo desenvolvido foi abandonado e aparentemente nada foi construído em seu lugar. Por outro lado, as lideranças naturais, que existiam e que haviam sido treinadas para tal nas três gestões anteriores, foram destituídas”. Para ele, é preciso que a segurança da USP retome “o caminho do desenvolvimento e da agregação”, pois “na ausência de um comando legítimo”, a situação pode resultar “num ambiente de desagregação”.

Os coronéis

Em 29 de março de 2012, três coronéis reformados da PM foram nomeados pelo reitor J.G. Rodas como ocupantes cargos de confiança na Superintendência de Segurança da USP, a saber: Luiz de Castro Junior, ex-diretor da Polícia Comunitária e Direitos Humanos da PM, como superintendente; Jefferson de Almeida,  como assessor de Planejamento de Ações Comunitárias; e Valter Alves Mendonça, um dos réus no julgamento do massacre do Carandiru (por ser, na época, capitão à frente da tropa que retomou o 2º andar do Pavilhão 9), como assessor de Proteção Patrimonial.

A nomeação desses oficiais logo após grande mobilização, em 2011, da comunidade universitária contra a presença da PM no campus gerou grande indignação, com repercussões na grande mídia. Meses após a nomeação, Almeida e Mendonça foram substituídos por outros dois coronéis reformados: José Luiz Sanches Verardino e Silvio Carlos Silva Mendonça. O autoritarismo dos oficiais acabou incomodando os guardas universitários, que defendem a construção de uma “segurança educacional emanci­pa­dora” em conjunto com a comu­nidade. A maioria deles recusa o militarismo repressor que a PM emprega fora e dentro dos campi e, também por isso, redigiram a carta de reivindicações.

No início de abril, circulava a informação de que os coronéis, inconformados com o fato de que o reitor não os recebia em audiência, teriam renunciado aos cargos na USP. Os próprios oficiais teriam comunicado a renúncia aos guardas universitários. Mas não foi possível confirmar a procedência dessa informação até o fechamento desta edição.

Informativo nº 379

EXPRESSO ADUSP


    Se preferir, receba nosso Expresso pelo canal de whatsapp clicando aqui

    Fortaleça o seu sindicato. Preencha uma ficha de filiação, aqui!