A Reitoria desenvolveu tratativas com a McKinsey&Company e a “organização social” (Oscip) Comunitas pelo menos desde fins de junho do presente ano, conforme data registrada no documento “Termo de Doação”, sem tornar pública a iniciativa. Somente se manifestou, sem conseguir esconder o constrangimento, quando a denúncia veio a público. Anunciou a princípio, em nota que depois seria refeita sucessivas vezes, a existência de um certo projeto “USP do Futuro”, o qual visaria “à melhoria da gestão da Universidade, bem como ao aprimoramento e à ampliação da relação da Instituição com a sociedade e o setor produtivo” e “está sendo desenvolvido pela consultoria McKinsey”.

Num segundo momento, ao falar diante do Conselho Universitário (Co), o reitor remeteu o projeto à proteção do programa Parceiros da USP, aprovado em dezembro de 2015. Buscou assim contornar o fato irrefutável de que as tratativas foram conduzidas à revelia do Co. Contudo, o parentesco entre o programa Parceiros da USP e o incógnito projeto “USP do Futuro” é vago e nada convincente.

Decorridos quase 50 dias da publicação da denúncia, a Reitoria não divulgou a documentação completa dos acordos celebrados com as duas organizações privadas, o que reforça as suspeitas de que o projeto não se limita a um novo modelo de financiamento e gestão, podendo vincular-se à tentativa de reformar Estatuto e Regimento para implantar uma avaliação centralizada via “Nova CPA” e “Estatuto do Docente”. 

Na ausência de justificativas ou explicações razoáveis, as perguntas acumulam-se. Por exemplo: por que nenhum dos documentos divulgados até agora faz qualquer menção ao propalado projeto “USP do Futuro”? De que portaria consta a nomeação do prefeito do campus de Ribeirão Preto, professor Américo Ceiki Sakamoto (FMRP), como coordenador desse projeto? Que outras pessoas estariam diretamente envolvidas com esse projeto além de Sakamoto? Quem são os “Amigos da USP”? Doações, como a que a Comunitas fez à USP ao comprometer-se com o pagamento da consultoria, não têm de ser votadas pelo Co? Por que razão a Reitoria omite o plano de trabalho da McKinsey?

Frente à gravidade do caso e a tantas indagações, a Adusp optou por publicar esta edição especial do Informativo Adusp. O leitor encontrará aqui uma descrição analítica dos instrumentos  contra­tuais firmados entre os parti­ci­pantes deste imbroglio; os perfis das dirigentes da Comunitas  e da McKinsey, que dão pistas do que esperar dessas organizações; matéria sobre a atuação da McKinsey no Brasil, Argentina e Portugal, com ênfase no papel desempenhado pela consultoria no processo de privatização das telecomunicações; o parecer de professores da FE e a posição de parlamentares. Por fim, a Cronologia abaixo. 

Boa leitura: que seja útil para aprofundar o debate deste episódio e que contribua para que se dimensione o devido peso da responsabilidade de cada membro do Co nas discussões e deliberações a respeito.

2015

setembro

Dia 5: Diário Oficial publica portaria do reitor que cria comissão ad hoc incumbida de “analisar e propor alterações estatutárias e regimentais no âmbito da USP”.
2016
maio
Dia 3: Reitoria divulga minutas da “Nova CPA” e “Estatuto do Docente”, elaboradas pela comissão ad hoc. Concede 20 dias para discussão.
junho
Dia 6: Encontro de Professores rechaça explicações de representantes da Reitoria para “Nova CPA”.
Dia 28: Assinatura, em sigilo, do Termo de Doação entre USP, Comunitas e McKinsey. Reitor não convoca a reunião do Co prevista para esse dia, na qual pretendia aprovar a “Nova CPA”.
julho
Dia 12: Reunião do Co. Não há qualquer menção às tratativas com McKinsey e Comunitas.
agosto
Dia 2: Reitoria divulga novas minutas de “Nova CPA” e “Estatuto do Docente”. Nesse mesmo dia a Comissão de Orçamento e Patrimônio (COP) reúne-se e aprova o parecer favorável ao projeto com a McKinsey. O plano de trabalho da consultoria não consta do processo.
Dia 11: Assinado o Acordo de Cooperação entre USP e McKinsey.
setembro
Dia 5: Governador recebe reitor, vice-reitor, direção da McKinsey e da Comunitas e empresários dos grupos Itaú e Cosan, da Natura e da Ultrapar.
Dia 14: Chega à Adusp a denúncia anônima sobre o caso.
Dia 19: Adusp publica o teor da denúncia e, por meio de ofício, exige explicações da Reitoria.
Dia 20: Reitoria comunica existência do projeto “USP do Futuro”.
Dia 21: Diretoria da Adusp emite nota, assinalando que a Reitoria “deixou de responder os questiona­men­tos” e que “continua devendo am­plas explicações sobre a possível vinculação entre esse projeto e a proposta de Nova CPA – Estatuto do Docente”.
Dia 22: Diário Oficial publica os extratos dos contratos entre USP, Comunitas e Mckinsey.
Dia 27: Reitoria responde à Adusp, encaminhando o Termo de Doação e o Acordo de Cooperação firmados pelas três partes.
Dia 28: Adusp, em resposta, volta a solicitar ao reitor esclarecimentos consistentes e que seja enviado o plano de trabalho da consultoria.
outubro
Dia 4: Em reunião do Co, reitor comunica pela primeira vez a contratação da McKinsey e ironiza as críticas ao projeto.
Dia 25: Ao jornal Valor Econômico, reitor nega o caráter privatizante do projeto e se recusa a nomear os empresários que o financiam.
Dia 27: Adusp pede ao MPE que investigue o caso.
novembro
Dia 1º: Folha de S. Paulo aborda o caso. Critica a Adusp por lançar “suspeitas” contra o projeto, defende a cobrança de mensalidades e recomenda à Reitoria que divulgue o nome dos empresários envolvidos.
Dia 3: Reitoria convoca para 8/11 a próxima reunião do Co, na qual entrará em pauta a “Nova CPA”.

Informativo nº 427

EXPRESSO ADUSP


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