Marcha da Ciência agita Avenida Paulista em domingo de frio
Daniel Garcia
Barraca do Peixe do Instituto Oceanográfico, uma das mais procuradas na Avenida Paulista
Turma da robótica em ação na barraca da Escola Politécnica
Professor Michel Mahiques (IO) fala a jovens sobre fauna do fundo do mar
Crianças se divertem com o jogo “Guerra dos Patógenos”,  em barraca da Unifesp
Professora Naomi Lindo (FM) explica como crianças podem salvar vidas
Na Marcha, professoras Kátia e Erika carregam “patógenos”
Professora Silvia Lacchini (ICB), ao centro, e pesquisadora Ros Mari Zenha (IPT) Parte importante da Marcha: manifestações das entidades que organizaram evento
Marimélia Porcionatto (Unifesp e SBPC) e Mariana Moura (Cientistas Engajados) Pesquisadores e docentes em movimento: iniciativa crucial em defesa da ciência

Aos domingos a Avenida Paulista torna-se uma via livre para pedestres, algo que já se consolidou como uma conquista da cidadania na “Pauliceia Desvairada”. Mas neste frio 7 de julho, o “grande calçadão” da Paulista ganhou um colorido adicional, especialmente para crianças e jovens, graças à Marcha da Ciência, promovida por diversas entidades, entre as quais a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), a Associação dos Pesquisadores Científicos do Estado de São Paulo (APqC), a Adusp e o grupo Cientistas Engajados.

Várias barracas com exposição de pesquisas e conhecimentos de diferentes áreas científicas foram montadas na avenida. Na “Feira de Ciências”, pesquisadores de institutos públicos de pesquisa e docentes de universidades públicas dialogaram com a população, trabalhando equipamentos de robótica, descobertas da oceanografia, da paleoantropologia, da medicina e de diversas outras disciplinas. A USP esteve presente com nove atividades: cinco ligadas ao Instituto Oceanográfico (IO) e as demais à Faculdade de Medicina (FM), ao Instituto de Ciências Biomédicas (ICB), à Escola Politécnica (EP) e ao Instituto de Biociências (IB).

Um dos locais mais visitados da Feira de Ciências foi a Barraca do Peixe, do Laboratório de Ecologia da Reprodução e do Recrutamento de Organismos Marinhos (Ecorrep), conduzida pela professora June Ferraz Dias, do Departamento de Oceanografia Biológica do IO. Outra atividade muito requisitada foi Kids Save Lives Brasil, a cargo da professora Naomi Lindo, da FM. 

“A presença dos cientistas e pesquisadores na Avenida Paulista ontem [7/7] demonstrou duas coisas. Que fazemos pesquisa de qualidade nas instituições públicas paulistas e que a população tem muita curiosidade, apoia e quer saber o que fazemos. Só falta o governo e os parlamentares entenderem que sem financiamento público não existe como fazer Ciência no Brasil. Com essa política de terra arrasada estamos perdendo os melhores cérebros do nosso país”.

A declaração é de Mariana Moura, doutoranda do Instituto de Energia e Ambiente da USP (IEE), ativista do grupo Cientistas Engajados e uma das organizadoras das atividades de ontem na Avenida Paulista. “Sem universidade pública não tem pesquisa no Brasil. É a universidade que forma os profissionais e pesquisadores, que faz ciência básica. E sem Ciência não existe desenvolvimento possível para um país como o nosso”, disse ela ao Informativo Adusp.

Além das entidades já citadas, participaram da organização do evento em São Paulo: Academia de Ciências do Estado de São Paulo (Aciesp), Associação Nacional de Pós Graduandos (ANPG), Instituto Questão de Ciência (IQC), Associação dos Docentes da Unicamp (Adunicamp) e Associação dos Docentes da Unesp (Adunesp).

“Ninguém defende o que não conhece”, diz professora da Unifesp

“Foi extremamente proveitoso o dia de ontem [7/7]. Importante divulgar para a população [o que as universidades públicas produzem], porque ninguém defende o que não conhece”, afirmou ao Informativo Adusp a professora Kátia Cristina Pereira Oliveira, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). No seu entender, há entre os professores universitários a queixa de que no Brasil, diferentemente de outros países e culturas, não se valoriza a ciência. “Mas também temos um pouco de responsabilidade nisso”, pondera. “É papel dos docentes, dos pesquisadores, divulgar as pesquisas, mostrar que a ciência está nas pequenas coisas do cotidiano”.

Ao lado da colega Erika Suzuki Toledo, Kátia desenvolve na Unifesp o projeto de extensão “Patógenos em Jogo”, um conjunto de jogos sobre doenças infecciosas, criados com finalidade didática. A ideia, portanto, é associar educação e entretenimento. Na Paulista, elas apresentaram o jogo de tabuleiro “Guerra dos Patógenos”, o primeiro que desenvolveram. “Jogamos o jogo com algumas famílias, o resultado foi muito positivo”.

A professora da Unifesp avalia que a Marcha da Ciência foi um sucesso, porque as pessoas puderam conhecer várias iniciativas diferentes, e isso num “momento em que sofremos vários cortes”. A seu ver, é preciso defender o orçamento das universidades, as condições de trabalho dos docentes universitários. “O corte de verbas e de bolsas é muito prejudicial. Afeta o futuro da nação”, adverte Kátia.

Na condição de representante do Fórum das Seis, o professor João da Costa Chaves Jr., presidente da Associação dos Docentes da Unesp (Adunesp), manifestou-se durante o evento, ao lado de outros oradores: “Nós estamos nessa luta contra a política nefasta do governo federal, ao qual o governo estadual está alinhado. Em São Paulo temos uma tentativa muito grande de ataque aos institutos públicos de pesquisa e uma CPI na Assembleia Legislativa cujo objetivo é desmoralizar as universidades públicas paulistas”.

De acordo com Chaves Jr., não existe país desenvolvido no mundo que não possua ciência e pensamento crítico de qualidade. “Quem não tem conhecimento não tem lugar neste mundo. A luta pela educação, pela ciência e tecnologia é uma luta pela soberania nacional. Sem ciência, tecnologia e pensamento crítico brasileiro não temos soberania no país. O ataque às universidades é um ataque à soberania brasileira”.

Atividades montadas na Avenida Paulista no domingo 7/7

  • Origens – Paleoantropologia (Roger Correa)
  • Fundo do Mar (professor Michel Mahiques, Instituto Oceanográfico-USP)
  • Acervo Biológico do Instituto Oceanográfico (Maria Luiza Flaquer – IO-USP)
  • Gelo na Bagagem (IO-USP)
  • Barraca do Peixe (Professora June Ferraz Dias, IO-USP)
  • Micro Heróis (Professora Vivian Pellizari, IO-USP)
  • ThunderRatz – Robótica (Escola Politécnica da USP)
  • Quintal da Ciência, do Rio de Janeiro (divulgação científica)
  • Patógenos em Jogo (professoras Kátia Oliveira e Erika Suzuki – Unifesp)
  • Biodiversidade neotropical (Unifesp)
  • Kids Save Lives Brasil (Naomi Lindo – FM-USP)
  • Vacina da dengue (Instituto Butantã)
  • Plantas medicinais (Instituto Agronômico)
  • Controle Biológico de doenças com fungo (Instituto Biológico)
  • Batata-semente (José Alberto Souza-Dias – IAC)
  • Museu da Anatomia Humana (professora Silvia Lacchini – ICB-USP)
  • Linhas de pesquisa do Instituto de Botânica (Leonardo Hamachi – IBt)
  • Noções de Palinologia (IBc)
  • Projeto Índice de Poluentes Hídricos (Universidade Municipal de São Caetano do Sul).

EXPRESSO ADUSP


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