Manifestação na Avenida Paulista repudiou tentativa de golpe de 8 de janeiro de 2023 e exigiu prisão de Bolsonaro e demais envolvidos
Manifestantes defenderam responsabilização de todos os envolvidos (foto: Daniel Garcia)

Nesta segunda-feira, 8 de janeiro, milhares de pessoas atenderam ao chamado da Frente Brasil Popular e pela Frente Povo Sem Medo e realizaram uma grande manifestação que ocupou a Avenida Paulista nas imediações do MASP, com a finalidade de relembrar e repudiar os acontecimentos de um ano atrás no Distrito Federal.

Naquela data ocorreu um enorme quebra-quebra promovido por milhares de bolsonaristas que invadiram o Palácio do Planalto, o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal (STF), com o apoio de setores da Polícia Militar distrital e do Exército, com o intuito de destituir o governo federal eleito em outubro de 2022.

A tentativa golpista foi derrotada pelo governo Lula, com apoio do STF, do Senado e de movimentos populares e sindicais que convocaram, imediatamente após os eventos, atos para o dia 9 de janeiro. Centenas de militantes bolsonaristas envolvidos na tentativa de golpe foram presos e há também muitos outros ainda respondendo a processos no STF. Uma Comissão Mista Parlamentar de Inquérito (CPMI) apontou o envolvimento de diversos oficiais-generais na articulação golpista. No entanto, após um ano, nenhum militar de alta patente chegou a ser preso.

A necessidade de punição de todos os envolvidos foi destacada por diversos oradores do ato realizado na Paulista, que também teve como ponto de pauta a solidariedade ao padre Júlio Lancellotti, conhecido por seu admirável trabalho de assistência e solidariedade aos moradores de rua da capital paulista e que vem sendo atacado por representantes da extrema-direita.

Daniel GarciaDaniel Garcia
Ato demonstrou solidariedade ao padre Júlio Lancellotti

“8 de janeiro é uma data que ficará marcada na história como aquela em que tentaram derrubar a democracia, rasgar a Constituição, ferir os direitos constitucionais de um povo que luta, de um povo que briga, de um povo que acredita num país melhor. Mas fracassaram, fracassaram na tentativa de golpe, fracassaram nas eleições, fracassaram em nos fazer acreditar que o Brasil seria a pataquada que eles queriam que fosse”, discursou a deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP).

“Nós somos o Brasil das mulheres, o Brasil da classe trabalhadora, o Brasil do povo preto, dos indígenas, das LGBTQIA+, é o Brasil que está aqui nessa noite. O Brasil que venceu o golpe, que venceu o fascismo, que ganhou as eleições de forma democrática, elegendo Luiz Inácio Lula da Silva presidente da República. É esse Brasil que está na Avenida Paulista esta noite”, acrescentou a deputada. “Não aceitamos um projeto de Brasil sem nós. Não aceitamos o golpismo, não aceitamos o fascismo, não aceitaremos anistia, é cadeia neles”, disse Erika sobre os golpistas que tentaram reverter o resultado das eleições presidenciais de 2022.

“Nós derrotamos Bolsonaro, mas ainda não derrotamos a extrema-direita, o ódio, a violência. Por isso estamos aqui, para dizer que hoje nós temos que defender o padre Júlio Lancellotti daqueles que o querem atacar. Nós temos que defender as empresas públicas, que eles querem acabar com a Sabesp e várias outras. Nós temos que defender o direito dos trabalhadores e das trabalhadoras. Por isso, o dia de hoje tem que dar um recado, um grito muito grande: sem anistia!”, conclamou o deputado Paulo Fiorilo, líder da bancada da Federação PT-PCdoB-PV na Assembleia Legislativa (Alesp).

“Na tentativa de golpe, a Frente Brasil Popular e a Frente Povo sem Medo se reuniram naquele domingo, no dia 8 de janeiro, às 18 horas, e deliberaram uma convocação de manifestações de rua no Brasil inteiro, no dia 9 de janeiro. Aquela resposta, aquela mobilização foi fundamental para impedir a continuidade do golpe em Brasília”, afirmou Raimundo Bonfim, da Central de Movimentos Populares (CMP).

“Portanto, companheiras e companheiros, para além do ato institucional que ocorreu nesta tarde [em Brasília], nós saudamos a coragem e a determinação do Executivo, do Judiciário e do Legislativo, mas mais importante é o ato que os trabalhadores e a sociedade civil estão fazendo no Brasil inteiro, para dizer que o Brasil se une em defesa da democracia, e que não admitimos que os que cometeram crimes não sejam responsabilizados, processados e penalizados”, completou Bonfim, destacando a palavra de ordem “sem anistia!”.

Oradores(as) apontam desafios e ameaças a direitos

“Chega de golpe de Estado!”, bradou o deputado federal Ivan Valente (PSOL-SP), que pediu a prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro, a quem acusou de ser “criminoso, bandido, assassino do povo brasileiro” e defensor da Covid-19. “Não vai ter anistia. Não vai ter ‘passar pano’ para militar novamente. O [José] Múcio Monteiro não pode continuar passando o pano para militar golpista”, disse em referência ao ministro da Defesa. “Imaginem se o genocida tivesse ganho as eleições. Haveria destruição total do país. Por isso saudamos o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Viva a democracia, viva a luta do povo brasileiro, viva os movimentos sociais”.

Alexandre LinaresAlexandre Linares
Luta pela democracia é permanente, lembraram oradores

O parlamentar referiu-se às pressões dos setores neoliberais: “Quem está no parlamento sabe que o perigo nos ronda, eles querem continuar com o teto de gastos, eles querem continuar a retirar do trabalhador seus direitos. Eles querem fazer reformas que reduzem os investimentos públicos em saúde, educação, moradia e tudo mais”, advertiu. “E eles querem, através do Centrão, e da chantagem do sr. Arthur Lira [presidente da Câmara dos Deputados], eleger novamente uma grande bancada de fisiológicos, clientelistas e corruptos. Por isso é muito importante que nesse ‘dia da infâmia’ nós digamos: nós não vamos esquecer! Punição para os financiadores, executores [do golpe de 8 janeiro] e Bolsonaro na cadeia! Sem anistia!”.

Golpe e ditadura só trazem atrasos, “só trazem problemas para o nosso povo, para a classe trabalhadora”, assinalou o deputado estadual Simão Pedro (PT). “Precisamos defender a democracia para que não haja mais golpe, não haja mais ditadura, [nem] essas tentativas de vir para cima do nosso povo, dos nossos direitos”, destacou o parlamentar. “Neste momento nós temos que dar as mãos para o padre Júlio Lancellotti, que é a personificação das lutas populares, das lutas dos excluídos. Padre Júlio é o símbolo da solidariedade àqueles que mais sofrem”, apontou.

“Primeiramente, Palestina livre e chega de genocídio na Faixa de Gaza!”, declarou o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP). “Faz um ano que tentaram um infame golpe de Estado. A luta do povo, a organização da sociedade brasileira garantiu que o presidente que foi eleito pelas urnas governasse esse país.”

“Hoje é dia de a gente não só valorizar a democracia, é dia da gente lembrar aquela geração de lutadores e lutadoras que conquistaram a democracia no Brasil. Alguns estão aqui hoje na Avenida Paulista. Uma geração que foi perseguida, que foi torturada, que foi morta, para que a gente pudesse estar hoje aqui na Paulista”, disse. Boulos pediu uma salva de palmas para a geração que combateu a Ditadura Militar, e exemplificou citando Carlos Lamarca, Carlos Marighella e Dilma Rousseff. A seu ver, é necessário aprofundar a democracia para combater a miséria, a fome e o racismo. Afirmou que “a democracia é uma luta permanente”, e se solidarizou com o padre Júlio Lancellotti.

EXPRESSO ADUSP


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