Carreira docente
Decisão de barrar progressão de docentes com mérito passa “mensagem muito nociva”
A atual formatação do programa de progressão horizontal na carreira, baseada no ranqueamento dos docentes inscritos, não somente provoca uma competição deletéria entre pares como tende a agravar as perdas salariais sofridas pela categoria nos últimos anos, ao alijar da progressão uma parte do(a)s que têm mérito para tanto. O que é injustificável sob qualquer aspecto, uma vez que o impacto orçamentário das progressões seria de no máximo 1% das despesas anuais. Por outro lado, a desatenção aos níveis iniciais da carreira e os baixos salários comprometem as possibilidades de atração de pesquisadores.
As opiniões são do professor Rodrigo Bissacot, do Instituto de Matemática e Estatística (IME), membro do Fórum Docentes USP 2009-2018 e um dos responsáveis por um questionário sobre a progressão horizontal que foi respondido por mais de 500 docentes — e confirmou a existência de amplo descontentamento na categoria frente ao modo como a Reitoria pretende conduzir o processo de avaliação. Atendendo a uma solicitação do Informativo Adusp, o professor Bissacot comentou os resultados do questionário.
“Já estamos com salários bastante defasados, o próprio reitor reconheceu isso em uma declaração recente quando afirmou que não repomos sequer a inflação nos últimos anos”, diz o docente. “Espero que a administração da universidade enxergue o quanto antes o erro que é colocar uma progressão com esse formato de competição, como os questionários indicam ser a opinião dos docentes. E que seja elaborado um plano de revalorização da carreira na USP, o que é urgente. Ou continuaremos com dificuldades para atrair pesquisadores destacados e manter os que temos”.
Ele chama atenção para dois pontos abordados no Encontro dos Docentes realizado em 2020: “1) Estarmos aceitando a possibilidade de docentes com mérito terem suas progressões barradas com o argumento de que as finanças da USP não suportariam. Por outro lado, é estimado que as progressões de todos que tiverem mérito não ultrapassariam 1% do orçamento da USP. Parece-me muito nociva a mensagem que essa decisão passa aos docentes; 2) Discute-se a questão do professor pleno, uma questão importante. Mas, novamente, os estágios iniciais da carreira na USP são colocados para o fim da fila de prioridades neste momento”.
No entender de Bissacot, é o próprio futuro da USP que está em jogo: “Em termos estratégicos, a universidade não pode esquecer que precisa ser competitiva, que deve ser atrativa para pesquisadores promissores em início/meio de carreira. A carreira de cientista e professor universitário é uma atividade que se desenvolve em um contexto internacional. Se a USP tem um salário pouco atrativo, terá dificuldade de atrair os melhores profissionais”.
É difícil trazer colegas destacados para participar dos concursos (agora inexistentes), observa. “Por que? As perguntas que um professor, que seja um pesquisador forte, faz para seus colegas quando cogita participar de uma seleção para ser admitido na universidade começam em: ‘Quanto é o salário? Tem creche? Quanto é o aluguel para morar em um lugar acessível ao campus? Quais são os benefícios? Como é a carreira e a questão da previdência?’ Etc.”
Completa: “Se pagamos para um associado menos que um pós-doutorando recebe em outras universidades, muitas vezes em concorrência direta com a USP na busca pelo conhecimento de ponta e inovador, o resultado não pode ser outro. O último pesquisador que me procurou para vir para a USP estava na PUC-RJ. Hoje ele trabalha na PUC-Chile”.
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