Conjuntura Internacional
Abaixo-assinado busca apoio da comunidade acadêmica para reverter fechamento de instituto público de saúde determinado por Javier Milei na Argentina

Pesquisadores(as) e funcionários(as) do Instituto Nacional de Medicina Tropical (INMet) da Argentina iniciaram um movimento para tentar reverter o fechamento da instituição, determinado pelo presidente ultradireitista Javier Milei por meio de um decreto publicado no último dia 7 de julho.
Um abaixo-assinado divulgado na internet procura angariar apoio não apenas na Argentina, mas também na comunidade científica e acadêmica dos países vizinhos.
O texto é de autoria do biólogo Oscar Daniel Salomon, que foi diretor do INMet e permanece ligado ao instituto como pesquisador vinculado ao Conicet, instituição científica e de fomento semelhante ao CNPq brasileiro.
Salomon ressalta que, em seus 14 anos e meio de existência, o INMet deu origem a 286 trabalhos em revistas internacionais, 32 capítulos em livros, 16 livros técnicos e 36 teses de pós-graduação, além de outras 15 em andamento.
Atualmente, o instituto tem 42 projetos financiados que tratam de questões como estratégias de prevenção de eventos de saúde em área tropical e subtropical. A dissolução do instituto coloca em risco projetos e parceiras em desenvolvimento com outros países, inclusive o Brasil, dizem os(as) pesquisadores(as).
O INMet está localizado na cidade de Puerto Iguazú, no extremo Norte da província (estado) de Missiones, na vizinhança de Foz do Iguaçu, no Brasil, e Ciudad del Este, no Paraguai, área da tríplice fronteira. Foi criado em 2011, no governo da ex-presidenta Cristina Fernández de Kirchner, depois da ocorrência de surtos de dengue na região.
Entre os temas dos quais se ocupa, estão os hantavírus, bactérias, tuberculose em animais silvestres, endoparasitas urbanos, rurais e em comunidades tradicionais, patógenos transmitidos por carrapatos e insetos (como leishmaniose ou febre amarela), acidentes provocados por animais peçonhentos etc.
O instituto foi reconhecido como centro de referência para vigilância e controle de doenças por organismos internacionais como a Organização Panamericana de Saúde (Opas) e tem colaborado em ações com a própria Opas e a Organização Mundial de Saúde (OMS).
Em um ano, governo extinguiu ou levou a fusões 101 órgãos públicos
Um dos argumentos esgrimidos pelo governo Milei para a dissolução seria a superposição de funções entre o INMet e outras instituições. O abaixo-assinado contesta essa visão e defende que o desenvolvimento de estratégias de prevenção requer a permanência no território. Tratar de doenças tropicais a partir de Buenos Aires leva a campanhas curtas e de pouca efetividade, afirma o texto.
“Estar localizado na Tríplice Fronteira, com seu fluxo de turistas, resultou num ato de soberania sanitária e integração regional. Desperdiçar o enorme investimento realizado pelo Estado na formação de recursos humanos, infraestrutura e equipamento é ineficiência”, diz o texto.
Salomon conclui o texto dizendo que rebate as justificativas falsas ou falaciosas do decreto governamental não “em defesa de uma trajetória ou esforço pessoal, mas pelos agentes que se mudaram com suas famílias para Puerto Iguazú acreditando de forma altruísta num projeto sanitário”. E especialmente, prossegue, “pelo futuro do país ante uma estratégia de terra arrasada para dificultar a construção de um Estado para todos os argentinos, no qual a saúde, como parte da dignidade humana, seja um direito e não uma mercadoria”.
Reportagens publicadas na imprensa regional destacam que o INMet é o único instituto nacional de saúde pública localizado na área, o que lhe dá uma capacidade de articulação e de trabalho de campo insubstituível. Seu fechamento ameaça a saúde de populações em regiões vulneráveis e sensíveis do país, dizem os veículos.
O diretor do instituto, Cristian Humers, apelou ao governo da província de Missiones para que intervenha e não permita “a perda de uma infraestrutura científica desse nível”.
O fechamento do INMet se insere numa ampla política de desmonte levada a cabo por Milei. Reportagem da agência de notícias EFE, publicada no dia 8 de julho, mostra que nos últimos 12 meses o governo do ultradireitista dissolveu, transformou ou fundiu 101 organismos públicos em áreas-chave como saúde, transporte, agroindústria e segurança viária. Entidades culturais e de pesquisa também foram fortemente atingidas, assim como as universidades. Ao mesmo tempo, avançam as iniciativas de privatização de empresas estatais.
A EFE registra que essas políticas provocaram a perda de 58.210 postos de trabalho no setor público do país entre dezembro de 2023 e março de 2025, segundo o Centro de Economia Política Argentina (Cepa).
Fortaleça o seu sindicato. Preencha uma ficha de filiação, aqui!
Mais Lidas
- Projeto que restitui contagem de tempo da pandemia para o funcionalismo entra na pauta da Câmara dos Deputados e pode ser votado na próxima semana
- Entidades científicas e acadêmicas repudiam aprovação do “PL da Devastação” e pedem que presidente da República vete integralmente o projeto
- Fórum das Seis e entidades do mundo acadêmico manifestam pesar e solidariedade pela tragédia que vitimou estudantes que iriam ao Congresso da UNE
- Senado aprova em primeiro turno PEC que trata dos precatórios sem o “jabuti” que obrigava estados e municípios a uma nova reforma da Previdência
- Abaixo-assinado busca apoio da comunidade acadêmica para reverter fechamento de instituto público de saúde determinado por Javier Milei na Argentina