Já retornaram ao Brasil treze brasileiras e brasileiros, integrantes da “Global Sumud Flotilha” (GSF), que permaneceram em prisões de Israel por uma semana, depois que a Marinha israelense interceptou ilegalmente no dia 1o de outubro, em águas internacionais do Mar Mediterrâneo, mais de 40 embarcações de diversos países que se dirigiam a Gaza com ajuda humanitária, e sequestrou suas tripulações, que totalizavam mais de 460 pessoas de diferentes nacionalidades.

Assim como as demais pessoas da GSF, enquanto esteve encarcerada em Israel a delegação brasileira da flotilha recebeu assistência jurídica da organização Adalah. Depois de pressão do Itamaraty por intermédio da embaixada brasileira em Tel Aviv, o grupo foi inicialmente deportado, por vias terrestres, de Israel para a Jordânia, no dia 7 de outubro, e de lá seguiu para Doha, no Qatar, de onde partiu para o Brasil na madrugada de quinta. Outro integrante da delegação brasileira, porém, Nicolas Calabrese, que também tem nacionalidade italiana, foi solto no dia 4, como parte do primeiro grupo de ativistas da GSF a ser deportado, e retornou ao Brasil no dia 6.

Provenientes de Doha, em vôo da Qatar Airways, desembarcaram na manhã desta quinta-feira, 9, no aeroporto internacional de Cumbica, em Guarulhos, Ariadne Telles, Bruno Sperb Rocha, Gabrielle Tolotti, João Aguiar, Lisiane Proença, Lucas Farias Gusmão, Luizianne Lins, Magno Carvalho Costa, Mariana Conti, Miguel Viveiros de Castro, Mohamed El Kadri, Thiago Ávila e Victor Nascimento Peixoto, que foram recebidos por mais de uma centena de manifestantes, amigos e parentes.

Em meio a muitas bandeiras, eles concederam ainda no aeroporto uma entrevista coletiva. “Nossos objetivos eram muito claros: romper o cerco físico, romper o cerco midiático, levar ajuda humanitária para o povo de Gaza. Não conseguimos romper o cerco físico, mas ao ver tantos jornalistas aqui e tantas matérias que saíram eu acho que a gente começou a romper esse cerco midiático. Isso é muito importante”, disse em entrevista coletiva João Aguiar, coordenador da delegação brasileira. “Vamos lembrar que a Palestina hoje está devastada e destruída. A gente não pode parar essa luta. A questão palestina é a grande régua moral do nosso tempo”.

Luizianne Lins, deputada federal (PT-CE), destacou o papel da GSF, que reuniu ativistas voluntários de 44 países. “A coisa mais importante que nós trazemos aqui é a sensação de que foram movidos muitos sentimentos, corações e mentes no mundo inteiro. São 31 dias de ativismo. Devemos denunciar cada vez mais o genocídio, para que o mundo cuide. Para todos nós foi um momento muito importante de entender a dor e a forma dos palestinos resistirem”, disse a parlamentar.

“A gente passou por muitas dificuldades, mas essas dificuldades não chegam nem próximo às que o povo palestino cotidianamente vem sofrendo. Então não ‘teve’ melhor notícia do que saber que hoje há um cessar-fogo em Gaza — momentâneo, é importante que se diga. E a gente pede a toda a imprensa, a todos os jornalistas brasileiros, homens e mulheres, que dêem continuidade a essa cobertura importante, que é [sobre] o fim do genocídio em Gaza”.

“Depois de sete dias na prisão, pessoas resistiram bravamente”, disse Ávila

O comunicador Thiago Ávila, por sua vez, destacou que no mesmo dia da chegada do grupo ao Brasil estava se comemorando o novo e incerto cessar-fogo em Gaza (ainda que o Exército de Israel continuasse disparando bombas e tiros contra a população palestina).

“Depois de sete dias na prisão, pessoas resistiram bravamente com a mesma dignidade que saíram de suas casas. No mesmo senso de justiça e humanidade, elas saíram da prisão entendendo que, por conta daquela missão que mobilizou 462 pessoas e mais de 40 barcos, voltamos para um cenário um pouco diferente”, completou o ativista.

Ao responder a uma pergunta, Bruno Sperb Rocha (conhecido como Bruno Gilga), que é funcionário da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH-USP), propôs que o Brasil rompa relações diplomáticas com Israel. “A própria lei internacional diz que ao reconhecer-se a existência de um genocídio é necessário tomar todas as medidas possíveis para encerrá-lo. E o que acontece na Palestina é reconhecido como um genocídio, inclusive por declarações do governo brasileiro, da ONU e da Corte Internacional de Justiça”, declarou.

“Nesse momento nosso objetivo é jogar todo o foco e toda a luz sobre o que está acontecendo na Faixa de Gaza, seguir chamando a redobrar a mobilização para romper o cerco, parar o genocídio”, disse Bruno.

Na coletiva de imprensa, Magno de Carvalho, dirigente do Sintusp e da central CSP-Conlutas e funcionário aposentado da Escola de Comunicações e Artes (ECA-USP), revelou que a necessidade da Marinha de Israel de deslocar seus navios de guerra para deter as embarcações da GSF beneficiou inesperadamente os pescadores palestinos, normalmente impedidos de pescar em águas mais distantes da orla e mais piscosas.

“A coisa que mais me emocionou, a maior vitória da nossa missão, foi saber… Nós ouvimos isso de vários companheiros na Jordânia, onde 70% da população é palestina: foram nos agradecer porque o povo de Gaza, daquela faixa próxima da praia, comeu, e muito. Porque toda a armada de Israel que bloqueava os barcos de pesca [palestinos] foi nos interceptar, nos prender, nos sequestrar, e abandonou o cerco que impedia que os companheiros pescassem em Gaza. E [então] pescaram toneladas de peixe, muito mais do que a carga que a gente conseguiu levar para lá. Isso me emocionou muito”, enfatizou Magno, que com 78 anos de idade era o decano da GSF.

A Diretoria da FFLCH solidarizou-se expressamente com Bruno e Magno, em nota de repúdio à interceptação criminosa da Global Sumud Flotilha pela Marinha de Israel e sequestro das tripulações seguido de aprisionamento. A Diretoria da Adusp também emitiu nota a respeito.

EXPRESSO ADUSP


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