Conjuntura Política
Ameaças e ataques não podem interromper luta pela liberdade de imprensa, diz Glenn Greenwald
Fundador do site The Intercept Brasil, que está publicando as reportagens sobre os vazamentos das conversas dos procuradores da Operação Lava Jato, foi o principal orador do Ato em Defesa da Liberdade de Imprensa, do Jornalismo e da Democracia, organizado por várias entidades e que lotou o salão nobre da Faculdade de Direito nesta segunda-feira (9/9)
Daniel Garcia |
Jurista Dalmo Dallari foi um dos oradores na manifestação |
O jornalista Glenn Greenwald, fundador e editor do site The Intercept Brasil, foi o homenageado e principal orador do Ato em Defesa da Liberdade de Imprensa, do Jornalismo e da Democracia, que lotou o salão nobre da Faculdade de Direito (FD) da USP na noite desta segunda-feira (9/9). Responsável pela série de reportagens sobre as mensagens secretas da Lava Jato – que ficou conhecida como “Vaza Jato” –, Greenwald agradeceu pelo apoio do público e revelou que, como medida de segurança, cópias dos arquivos com as conversas dos procuradores foram enviadas para contatos em diferentes partes do mundo, o que garantiria a continuidade da publicação em caso de qualquer problema no Brasil. Apesar das ameaças que ele e a equipe vêm sofrendo, entretanto, o jornalista disse que jamais pensou em sair do país.
Daniel Garcia |
Glenn Greenwald é abraçado pela estudante Lorena Alves, da Cásper Líbero |
“Sabíamos desde o começo que a luta que estamos fazendo é muito mais do que as revelações específicas sobre a corrupção do [juiz] Sergio Moro ou a corrupção e as impropriedades do [procurador] Deltan Dallagnol. Obviamente essas revelações são importantes, mas também é muito importante que estamos defendendo a liberdade de imprensa garantida pela Constituição brasileira. Essa é a nossa luta”, ressaltou. “Se tivéssemos saído do país para publicar esses documentos, já perderíamos, porque o sinal que mandaríamos com esse comportamento é de que para fazer jornalismo é preciso deixar o Brasil.”
O jornalista agradeceu à ex-deputada Manuela d’Ávila (PCdoB-RS) pela intermediação do contato entre a fonte que forneceu os arquivos e o Intercept e também por todo o “apoio, solidariedade e energia” que vem recebendo. Disse que o Brasil é o país que lhe deu “tudo na vida”: “Este país me ensinou uma nova maneira de viver, me deu uma nova carreira, me deu o homem mais incrível que eu conheço, minha alma gêmea e meu marido, David Miranda, e também me deu dois filhos, que estão impulsionando todo o trabalho que estou fazendo todos os dias”, disse.
Greenwald também se referiu às denúncias sobre espionagem da Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos (NSA, na sigla em inglês), inclusive em relação à Petrobras e ao governo brasileiro, publicadas por ele em 2013. “Ninguém tem coragem sozinho. Ter coragem é contagioso, e eu aprendi isso com Edward Snowden, minha fonte tão heroica naquele caso”, disse. O jornalista encerrou sua fala agradecendo novamente ao público pela presença e pelo apoio: “Vocês estão nos inspirando para continuar o trabalho, e não vamos deixar este país regredir para uma ditadura de novo”.
Redação “já está acostumada com ataques”, diz editor
As ameaças ao trabalho do site foram citadas também por Leandro Demori, editor-executivo do The Intercept Brasil. De acordo com Demori, a redação infelizmente “já está acostumada com ataques”, que vêm ocorrendo principalmente após o assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ), em março do ano passado. “Fomos o primeiro órgão de imprensa do mundo a apontar o envolvimento de milícias na morte da Marielle Franco, e a partir daquilo passamos a ser muito visados”, relatou.
Demori pediu que os presentes aplaudissem, de pé, os membros da redação do site, que também estavam no salão, como reconhecimento do trabalho no caso da “Vaza Jato”. “Nós estamos contando a história de uma fraude jurídica que precisa urgentemente ser revista, e os seus protagonistas precisam responder criminalmente pelos crimes e abusos que cometeram”, finalizou.
O ato foi organizado pela Associação Brasileira de Imprensa (ABI), Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), Instituto Vladimir Herzog, Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo, juntamente com os Centros Acadêmicos XI de Agosto (Faculdade de Direito da USP), Lupe Cotrim (Escola de Comunicações e Artes da USP) e Vladimir Herzog (Faculdade Cásper Líbero). O encontro foi conduzido pelos jornalistas Juca Kfouri e Cláudia Tavares.
Dallari: “Restrições à liberdade de imprensa não têm validade jurídica”
A saudação inicial foi feita pelo professor Floriano de Azevedo Marques Neto, diretor da FD, para quem ver o salão nobre tão repleto era uma mesmo tempo “uma preocupação e uma dupla satisfação”. “É uma preocupação porque, quando a defesa da liberdade de imprensa mobiliza tanta gente, é porque algo de grave está a ocorrer e a ameaçar uma garantia tão fundamental. E uma dupla satisfação porque a Faculdade de Direito há quase duzentos anos é sede de manifestações que podem se inserir na luta permanente pelas garantias e pelos direitos que fundam uma sociedade civilizada, e porque a quantidade de pessoas aqui presentes mostra que muita gente está disposta a lutar pela liberdade de imprensa e por direitos e garantias”, afirmou.
Dalmo de Abreu Dallari, professor emérito da FD, lembrou que a liberdade de imprensa e a liberdade de comunicação são direitos fundamentais garantidos pela Constituição e portanto quaisquer leis, atos ou decretos que impliquem restrições a esses direitos “não têm validade jurídica”. Outro docente da faculdade a se manifestar foi Pierpaolo Cruz Bottini.
Também foram oradores do ato o presidente do Sindicato dos Jornalistas no Estado de São Paulo e vice-presidente da Fenaj, Paulo Zocchi; os escritores Marcelo Rubens Paiva e Valter Hugo Mãe; a cineasta Laís Bodanzky; a desembargadora aposentada Kenarik Boujikian; o presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), Iago Montalvão; o presidente da Central Única dos Trabalhadores de São Paulo (CUT-SP), Douglas Izzo; o ex-ministro dos Direitos Humanos Paulo Vannuchi; o vereador Eduardo Suplicy (PT); os jornalistas Pedro Borges, Soraya Misleh, Natália Viana, Carla Jiménez e Reinaldo Azevedo; a coordenadora-geral do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC), Renata Mielli; o rapper Rico Dalasam; a professora Rosana Pinheiro-Machado, da Universidade Federal de Santa Maria; o professor Eugênio Bucci, da ECA; e o diretor-executivo do Instituto Vladimir Herzog, Rogério Sottili. Pelos centros acadêmicos, falaram Laura Arantes (CA XI de Agosto), Guilherme Weffort (CA Lupe Cotrim) e Lorena Alves (CA Vladimir Herzog).
Fortaleça o seu sindicato. Preencha uma ficha de filiação, aqui!
Mais Lidas
- Novo modelo proposto pelo MEC redireciona e elitiza a pós-graduação nacional, “formando para o mercado e não para a docência e pesquisa”, adverte GT do Andes-SN
- Sem dar detalhes, Carlotti Jr. anuncia início de estudos para nova etapa da progressão docente; na última reunião do ano, Co aprova orçamento de R$ 9,15 bilhões para 2025
- Em carta ao reitor, professor aposentado Sérgio Toledo (84 anos), da Faculdade de Medicina, pede acordo na ação referente à URV e “imediato pagamento dos valores”
- Processo disciplinar que ameaça expulsar cinco estudantes da USP terá oitivas de testemunhas de defesa e de acusação nos dias 13 e 14 de novembro
- Diretor da Faculdade de Direito afasta docente investigado por supostos abusos sexuais; jurista contesta medida