Conjuntura Política
“Twitter” reativa conta do professor Daniel Cara (FE), que reafirma crítica à gestão genocida da pandemia por Bolsonaro
A Diretoria do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes-SN) divulgou nesta quinta-feira (18/3) nota em solidariedade ao professor Daniel Cara, docente da Faculdade de Educação (FE) da USP e dirigente da Campanha Nacional pelo Direito à Educação. A manifestação do Andes-SN é endossada e apoiada pela Diretoria da Adusp.
No último dia 16/3, Cara teve sua conta suspensa no Twitter após publicar um comentário caraterizando como genocida a gestão da pandemia feita pelo governo federal. O uso do termo também ensejou intimação contra o influenciador digital Felipe Neto, lembra o Andes-SN.
“Manifestamos nossa solidariedade ao professor Daniel Cara, na certeza de que a luta por liberdades democráticas é fundamental e o direito de expressar livremente nossas opiniões é a própria essência do nosso trabalho nas universidades”, afirma a nota da entidade.
Nesta sexta (19/3), o professor pôde voltar a publicar na mídia social. “Após forte pressão e mobilização de vocês, minha conta foi recuperada. Obrigado”, escreveu. “Insisti muito, mas como nada foi realmente explicado, ainda não sei se foi ataque, arbitrariedade, censura ou erro. Fica a lição: precisamos exigir transparência das redes sociais.”
Em outra publicação, reafirmou sua postura em relação ao governo federal: “Nada vai nos calar, tampouco me intimidar. REPITO o que disse antes da minha inaceitável suspensão: Jair Messias Bolsonaro faz uma gestão genocida da pandemia. Por decorrência, é um genocida. Portanto, ele tem de responder por crimes contra a humanidade. É o que advogo”.
Na última postagem que fez antes de ter a conta suspensa, Daniel Cara havia escrito: “Jair Bolsonaro busca o caos. O caos é o ambiente ideal para a realização do projeto miliciano de poder. Assim, embora seja desumana, a gestão genocida da pandemia se tornou um instrumento político. Ou seja, o Brasil enfrenta uma sólida articulação entre necropolítica e fascismo.”
Em entrevista ao podcast “Roteirices”, produzido pelo jornalista Carlos Alberto Jr., Cara relatou que, assim que recebeu a notificação sobre a suspensão, entrou com recurso na área específica da plataforma e fez contato com representantes da empresa por indicação de jornalistas como Bia Barbosa, ativista pela democratização da comunicação no país.
“A sensação que você tem quando sua conta é suspensa é como se a sua identidade, o seu poder de fala ficasse cerceado”, disse. Enquanto o caso começava a repercutir nas mídias sociais e na imprensa, “o Twitter me dá uma resposta vazia de que eu de alguma forma fui contra as regras da plataforma e ao mesmo tempo dizem que uma possibilidade [para a suspensão] é que eu pratico spam — e não pratico”.
“Veja o poder dessas plataformas, porque elas suspendem a conta, não dão justificativa alguma, não dão informação alguma e te tratam como uma pessoa que descumpriu as regras”, afirmou na entrevista.
Governo impõe “tentativas de silenciamento das críticas e da justa revolta”
A nota divulgada pelo Andes-SN aponta outros casos de ataques à liberdade de manifestação de docentes, como a perseguição da Controladoria-Geral da União (CGU) a professores da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e a intimação da Polícia Federal para que a professora Erika Suruagy, vice-presidenta da Associação dos Docentes da Universidade Federal Rural de Pernambuco (Aduferpe), prestasse depoimento em inquérito criminal motivado por um outdoor em que a entidade qualificava Bolsonaro como “o senhor da morte”.
“Ao mesmo tempo em que vivemos uma pandemia sem controle, ceifando mais de 2 mil vidas todos os dias, fruto da inexistência de ações coordenadas pelo governo federal para garantir leitos, distanciamento social e vacinas, o governo federal e seus aliados respondem à insatisfação da população com tentativas de silenciamento das críticas e da justa revolta”, afirma a nota.
“Entendemos que a democracia, mesmo limitada e tutelada, foi uma conquista de anos de luta contra governos autoritários do passado recente, tempos que não permitiremos que retornem. Não vão nos calar!”, conclui a manifestação do Andes-SN.
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