Carlos Neder, presente!

Depois de um longo período de internamento hospitalar, iniciado em 8/8, faleceu no sábado (25/9), vítima da Covid-19 aos 67 anos, o médico e ex-deputado estadual Carlos Alberto Pletz Neder (1953-2021). Desde a juventude, Carlos Neder foi um incansável combatente das causas populares, especialmente as relacionadas à saúde pública, à educação pública e à ciência e tecnologia.
 
Neder nasceu em Campo Grande (MS), “em uma família marcada pela luta contra a Ditadura Militar [1964-1985], que resultou em prisões, perda de direitos políticos e posterior anistia”, como registrou na sua própria biografia. Seu pai, Alberto Neder, era militante do Partido Comunista Brasileiro (PCB), e sua mãe, Lygia Pletz Neder, atuou no Socorro Vermelho, organização de auxílio às vítimas do regime ditatorial.
 

Daniel Garcia

Atividade na Alesp em 2016, com a participação também
dos professores João Chaves e César Minto
Neder formou-se em 1978 na Faculdade de Medicina (FM-USP). Enquanto fazia o curso, participou da direção do Centro Acadêmico Oswaldo Cruz (CAOC) e engajou-se nas lutas contra a Ditadura Militar e pela redemocratização do país. Por essa razão, acabou figurando entre centenas de jovens militantes que foram fotografados e fichados pelo Departamento Estadual de Ordem Política e Social (DOPS), como revelou a Revista Adusp 33 (2004).
 
Fundador do Partido dos Trabalhadores (PT) e quadro destacado da área da saúde pública, com atuação nos movimentos sociais ligados a esse tema, exerceu o cargo de secretário de Saúde da capital paulista de 1990 a 1992, na gestão da prefeita Luiza Erundina. Depois, exerceu mandatos alternados como vereador paulistano e como deputado estadual na Assembleia Legislativa (Alesp).
 
Eleito vereador inicialmente em 1996, exerceu quatro mandatos na Câmara Municipal e três na Alesp. Em janeiro de 2005, assumiu pela primeira vez como deputado estadual, na condição de suplente em exercício, permanecendo até março de 2007. Sua última participação como membro da Alesp encerrou-se em março de 2019, pois não conseguiu reeleger-se em 2018, embora tenha recebido quase 47 mil votos.
 
Em ambas as casas, Neder teve forte atuação fiscalizadora das gestões executivas. No âmbito estadual, destacou-se na realização da CPI das Organizações Sociais de Saúde (OSS), em 2018. Como vereador, foi autor de requerimento para instalação de CPIs para apurar o fechamento do Hospital Sorocabana e irregularidades nos contratos entre o poder público e a Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina (SPDM), maior OSS do país. Apresentou mais de 100 projetos de lei municipais e estaduais, sendo de sua autoria 60 leis, relacionadas à saúde, educação, meio ambiente, ciência e tecnologia e outras áreas.
 
Na Alesp, Neder foi ainda coordenador da Frente Parlamentar em Defesa das Universidades Públicas no Estado de São Paulo e da Frente Parlamentar em Defesa dos Institutos de Pesquisa e Fundações Públicas, o que lhe colocou em contato mais estreito com sindicatos e associações de docentes e de pesquisadores. Em abril de 2019, por exemplo, participou do debate intitulado “A política de C&T e Inovação no Estado de São Paulo e sua interface com as universidades e com os institutos públicos de pesquisa”, promovido por sugestão da Adusp e que contou com a presença de diversas entidades do setor.
 

Daniel Garcia

Neder posa com sindicalistas e estudantes após reunião da Frente Parlamentar
em Defesa dos Institutos de Pesquisa e Fundações Públicas, em 2019
“Trilhou um caminho de lutas e sonhos que tão bem ele construiu e representou desde a década de 1970 junto aos movimentos populares de saúde, em defesa do SUS. Parte em consequência de uma política genocida que promoveu a morte de mais de 590 mil pessoas amadas”, declarou o Coletivo Cidadania Ativa, grupo interno petista no qual vinha militando nos últimos anos. “Generoso, chato, empático, respeitoso, comprometido, tímido, leal, atento, persistente, teimoso, inteligente. Deixou seu legado na história do Estado de São Paulo, defendendo a educação, a ciência, a reforma agrária popular”.
 
Uma das diversas entidades e movimentos que lhe prestaram homenagem foi o Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de São Paulo (Sindsep): “Companheiro, presente em todas as lutas do povo, servidor público municipal, filiado ao Sindsep, médico, militante da saúde, secretário municipal de Saúde, vereador, deputado estadual, mas sempre comprometido com as lutas em especial em defesa da saúde pública e nas lutas dos servidores municipais de São Paulo, parceiro de tantas jornadas”.
 
O Fórum das Seis, que articula sindicatos e diretórios estudantis da USP, Unesp, Unicamp e Centro Paula Souza, avaliou a perda como irreparável. “No dia 25/9/2021, partiu um grande batalhador pelas causas sociais”, assinalou. “O Fórum das Seis solidariza-se com familiares, amigos e companheiros de jornada. A continuidade da luta pelos ideais que Neder defendeu será, sem dúvida, a maior homenagem que podemos fazer a ele. Companheiro Neder, presente!”.
 
Também a FM-USP lamentou seu desaparecimento, em nota publicada no site da unidade que traz comentários de seu colega de classe Venancio Avancini Ferreira Alves, hoje professor titular do Departamento de Patologia, que enfatiza “a confiabilidade, a seriedade e a coerência do amigo Carlos Neder”. Segundo o docente, Neder “era um defensor do Sistema Único de Saúde (SUS) e um dos grandes articuladores do sistema de saúde na zona leste da capital paulista, nos anos 70 e 80”. A nota lembrou seu mestrado em Saúde Pública pela Unicamp e destacou, ainda, seu envolvimento com as ideias da economia solidária, a exemplo do projeto que resultou na aprovação do programa Banco do Povo, destinado ao financiamento de pequeno(a)s empreendedore(a)s.
 
 

EXPRESSO ADUSP


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