“USP não está à venda”, adverte Congregação da FFLCH em dura nota sobre “Boat Show”
Encastelada no seu bunker, a Reitoria destrata os docentes

foto: Daniel Garcia

Protesto de alunos moradores do Crusp contra o SPBS, em 23/11

foto: Daniel Garcia

Alguns dos cartazes fazem referência à nota da FFLCH

foto: Daniel Garcia

Acompanhado por assessores, presidente da Embratur chega ao evento em 20/11

foto: Embratur

Gilson Machado Neto no estande da Embratur no SPBS: euforia

Comentário postado em rede social por Gil Diniz, o "Carteiro Reaça"

A Congregação da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH-USP) divulgou nota, após sua reunião de 19/11, em que repudia a realização do evento denominado “São Paulo Boat Show” (SPBS) na Raia Olímpica da USP. O texto é um contundente, duríssimo ataque à atitude da Reitoria, que se submeteu às pressões do governo estadual e aceitou ceder a Raia para a realização do SPBS em plena epidemia.

Depois de mencionar matéria do Jornal da USP segundo a qual o “espaço foi cedido pela Universidade e o valor da cessão inclui aluguel da raia (R$ 90 mil), melhorias na estrutura (balizamentos e troca de cabeamento), a doação de um barco de 18 pés, avaliado em R$ 70 mil, e 50% da renda do estacionamento do evento destinada ao Centro de Práticas Esportivas (Cepê) que, somados, chegam a R$ 400 mil”, e considerar serem “muito eloquentes as palavras ‘cedido’, ‘cessão’ e ‘doação’”, a nota critica asperamente a conduta da Reitoria.

“A Congregação repudia a maneira como decisões dessa envergadura são tomadas à revelia de uma democrática e ampla consulta às instâncias representativas da comunidade uspiana, assim como o negacionismo da pandemia e a intransparência das ‘cessões’ e ‘doações’ mencionadas que, espera, sejam devidamente apuradas”.

A nota não poupa os responsáveis diretos pelo SPBS: “O Boat Show também vem sendo divulgado em vídeos promocionais postados no Youtube, Facebook e em redes sociais de revistas e empresas náuticas, valendo destacar um, filmado em julho, no primeiro pico da pandemia, em que os protagonistas são o reitor e o diretor da Escola de Educação Física da USP ao lado de secretários de estado e empresários”, assinala. “Segundo eles, o ‘cenário incrível’ ou ‘cartão postal’ não pode ser desperdiçado, daí ser ‘cedido’ à ‘sociedade’. Todavia, sabemos que nos finais de semana o campus permanece fechado à população que, em sua quase totalidade, não se compõe de compradores e usuários de iates, lanchas, jet-skis, botes infláveis e outros equipamentos náuticos”.

Conclui com uma advertência enfática: “A USP não está à venda, seja em troca de migalhas ou de milhões. Ela é muito mais do que um ‘cenário incrível’ ou um ‘cartão postal’. É um bem público, da educação pública, um dos maiores que o estado de SP e o Brasil possuem. Suas e seus docentes e funcionárias(os) devem servir a interesses públicos e quem responde administrativamente pela gestão da Universidade deve ser porta-voz intransigente desses interesses”.

Governo Bolsonaro e governo Doria aliam-se na realização da feira náutica

O SPBS, cujo encerramento está previsto para esta terça-feira (24/11), acabou por dar margem a uma insólita — ou nem tanto — conjugação de interesses, ao juntar representantes de dois governos que se hostilizam mutuamente.

Frequentado por donos de Ferraris, Audis e outros portentos da indústria automobilística, o evento que transformou momentaneamente a Raia Olímpica da Cidade Universitária do Butantã numa marina pontilhada por embarcações luxuosas e helicópteros foi obra do governo João Doria (PSDB), que resolveu fazer um agrado à indústria de equipamentos náuticos e para isso não hesitou em jogar com a tibieza da Reitoria da USP. Mas isso não afastou certas representações do governo Bolsonaro (eleito pelo PSL, atualmente sem partido), irmanadas com os tucanos na celebração do “cartão postal”.

Para começar, a inauguração do SPBS contou com a participação da Banda da Marinha de Guerra. Além disso, a Arma apresentou no evento uma embarcação militar especial. Por outro lado, a Agência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo (Embratur) compareceu com seu presidente, Gilson Machado Neto, que chegou à Raia acompanhado de uma comitiva e, já no espaço do SPBS, posou para diversas fotografias.

A presença de Machado Neto foi festejada por um conhecido blogueiro bolsonarista, Gil Diniz, cujo nome de guerra nas redes sociais é “Carteiro Reaça”. “Estivemos presentes na São Paulo Boat Show!”, comemorou Diniz. “Parabéns ao presidente da Embratur, Gilson Machado. Estiveram comigo o assessor especial da Presidência da República, @AragaoMosart e o amigo @marcelinho_c”. Falava do tenente Mosart Aragão Pereira e do ex-jogador de futebol Marcelinho Carioca, e publicou fotografia em que aparece com ambos.

O clima era de euforia: afinal, tanto Doria quanto Bolsonaro querem a economia funcionando, não importa a que preço. Como previsto pelos críticos, houve muita aglomeração nas filas externas de visitantes, assim como nos pieres montados na Raia. Mas nem o governador tucano, nem a Reitoria, nem os representantes do governo federal se preocuparam com os riscos de Covid-19. Tudo muito previsível.

 

EXPRESSO ADUSP


    Se preferir, receba nosso Expresso pelo canal de whatsapp clicando aqui

    Fortaleça o seu sindicato. Preencha uma ficha de filiação, aqui!