No dia 22/9, a Secretaria da Educação do Estado (SEE-SP) anunciou que irá reorganizar as escolas por ciclos de ensino. A meta é que, a partir de 2016, a maioria dos estabelecimentos atenda apenas um dos três ciclos do ensino: anos iniciais do Ensino Fundamental (1º ao 5º), anos finais do Ensino Fundamental (6º ao 9º) e Ensino Médio. Atualmente, uma unidade pode atender, ao mesmo tempo, até três ciclos. A SEE-SP prometeu divulgar em novembro quais escolas serão selecionadas para atender o processo de reorganização.

Nota da Adusp sobre a reorganização da Rede Estadual de Educação Básica

A diretoria da Adusp – Seção Sindical do Andes-SN vê com grande preocupação o anúncio feito pela Secretaria da Educação do Estado de São Paulo de que pretende realizar uma nova organização da rede estadual de Educação Básica paulista.

Independentemente de emitir qualquer juízo de valor, até porque é impossível dizer algo sobre o que não é dado a conhecer, o que se expressa genericamente no mote “separar alunos por ciclo escolar” é assunto de interesse de toda a sociedade paulista, das entidades representativas dos trabalhadores em educação no Estado — e não é cabível que a Administração Pública ignore esse importante aspecto.

Sem uma ampla discussão com a sociedade paulista, em especial com os principais setores sociais envolvidos, qualquer mudança no ensino público estadual certamente estará fadada ao fracasso.

São Paulo, 22/10/2015

Os objetivos pretendidos seriam preparar as escolas para atender às demandas de cada etapa escolar e de cada faixa etária; favorecer a gestão das unidades; e adequar o novo modelo escolar às fases de aprendizado dos alunos. Ainda conforme a SEE-SP, que analisa a situação de 3.600 das 5.108 escolas do Estado, o deslocamento máximo dos alunos das escolas reorganizadas será de “até 1,5 km para sua nova unidade escolar”.

Estima-se que o plano afete cerca de mil escolas e que até 2 milhões de alunos (dos 3,8 milhões da rede) sejam transferidos de suas unidades atuais.

A medida tem sido duramente criticada. Em 25/9, o Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp) lançou nota afirmando não haver  “preocupação pedagógica” na reorganização. A presidente Isabel Noronha acredita tratar-se de “uma mudança física, descolada de um verdadeiro projeto educacional”, que vai desorganizar a rede. Em vez disso, sustenta, o governo deveria “valorizar os profissionais do magistério e resolver os problemas estruturais das escolas, assegurando condições de trabalho aos professores e de aprendizagem aos estudantes”.

Demissões

A presidente da Apeoesp lembra que em 1995 o governador Covas (PSDB) e a secretária Roseli Neubauer realizaram uma reorganização similar, que causou a demissão de mais de 20 mil professores, “desorganização e transtornos nas famílias dos estudantes e uma série de outros prejuízos à educação pública estadual”.

A primeira manifestação de estudantes contra a medida ocorreu em 6/10: eles caminharam até a Praça da República, para protestar em fren­te ao prédio da Secretaria. Outros protestos atingiram bairros da periferia da capital e cidades do interior.

Os atos estão sendo organizados por estudantes, de forma independente, e pela Apeoesp, que convocou os pais de alunos, por meio de inserção na TV, para um ato público em 29/10, após assembleia da categoria.

Pedro Augusto Loes, 18 anos e estudante da Escola Estadual Anhanguera, na capital, enxerga no processo de reorganização das escolas “a volta do analfabetismo, o aumento da ignorância e as demissões de funcionários” da rede estadual. A seu ver, a mobilização dos secundaristas “mostra aos estudantes que amanhã eles terão que estar em manifesto por melhores condições de trabalho”, e tem caráter pedagógico: “Eles aprendem sobre os direitos deles!”.

A Adusp lançou nota, encaminhada ao Executivo e à Alesp: “Sem uma ampla discussão com a sociedade paulista”, diz, “qualquer mudança no ensino público estadual certamente estará fadada ao fracasso” (vide íntegra no quadro).

SEE explica

Em resposta a perguntas enviadas pelo Informativo Adusp, a Secretaria da Educação do Estado (SEE-SP) declara que a reorganização da rede estadual não vai abranger todas as unidades de ensino e “permitirá às escolas reorganizadas que o professor efetivo atribua mais aulas em uma mesma unidade, ao invés de se deslocar para outras escolas para completar sua carga horária”. Segundo a SEE, com professores efetivos fixos o rendimento dos alunos melhora em até 25%. “Todos os docentes efetivos têm a jornada escolhida atribuída e, ainda que ele complete a carga horária em outra unidade, não há perda salarial”.

A SEE afirma que a reorganização não terá impacto sobre o contrato dos professores temporários. “O contrato dos docentes, que atualmente é de um ano, será estendido para três anos a partir de 2016, por meio de projeto de lei que será enviado ao Legislativo. A mudança minimiza o impacto da ausência de professores em decorrência de problemas de saúde, licenças maternidades ou mesmo por aposentadoria nas salas de aula e garante mais facilidade de gestão às escolas”.

Ainda segundo a Secretaria, o plano de reorganização respeitará “as características dos municípios e os critérios administrativos de cada região, avaliados por cada dirigente de ensino no prazo estipulado”. “As escolas com mais de um ciclo ainda funcionarão, devido às diferenças demográficas e às necessidades por escolas para diversas faixas etárias em algumas regiões”.

A SEE promete realizar dia 14/11 o “Dia E”, definido como “uma megarreunião entre as escolas e a comunidade para explicar como se dará a reorganização”.

Unicamp

Documento intitulado “Nota de Repúdio à Reorganização das Escolas Estaduais de São Paulo” foi aprovado, em 21/10, pela Congregação da Faculdade de Educação da Unicamp. “A forma como todos nós, professores, estudantes, pais e pesquisadores soubemos deste projeto de reorganização escolar já é, por si só, motivo de preocupação. Não foi apresentado publicamente o projeto da reestruturação, assim como não foi realizada nenhuma consulta pública sobre a nova proposta. Parece que o governo Geraldo Alckmin se recusa a debater de forma transparente e democrática essa grande mudança, que afetará milhares de professores e milhões de estudantes. Por isso, a surpresa generalizada e a reação marcadamente contrária ao projeto de reorganização”. A íntegra da nota está disponível aqui.

Informativo nº 409

EXPRESSO ADUSP


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