Cinco estudantes moradores do Crusp têm teste positivo para o novo coronavírus, recebem assistência da SAS e passam bem

Exames foram realizados em abril pela Superintendência de Assistência Social (SAS) da USP, que diz ter tomado todas as providências para “isolamento, alimentação, orientação, proteção e acompanhamento da saúde dessas pessoas”. Na avaliação do estudante Gustavo Raime, liderança da Frente Universitária de Combate à Covid-19. “os alunos estão bem amparados”, mas o problema são as condições do isolamento, como a falta de acesso de qualidade à Internet, fruto da “política de sucateamento do Crusp”

Cecília Bastos/USP Imagens
Testagem foi realizada nos moradores do Crusp em abril
Testagem foi realizada nos moradores do Crusp em abril
Aspectos da coleta realizada no CRUSP pela SAS

Cinco moradores do Conjunto Residencial da USP (Crusp) foram identificados “com presença de SARS-Cov-2 no momento em que fizeram os exames”, disse ao Informativo Adusp a Superintendência de Assistência Social (SAS) da USP, por meio da Assessoria de Imprensa da Reitoria. Os diagnósticos positivos para o novo coronavírus foram obtidos após a testagem de cerca de 450 moradores do Crusp, realizada a partir de coletas realizadas nos dias 20, 23, 27 e 29/4.

Em seu décimo-segundo comunicado aos moradores do Crusp, emitido na última quinta-feira (7/5), a SAS menciona a realização dos testes e diz que, “por meio do processo de testagem molecular, com contraprova confirmatória, foi possível identificar pessoas que naquele momento estavam infectadas com o SARS-Cov-2”, sem entretanto informar quantas pessoas tiveram resultado positivo. O comunicado diz ainda que a SAS tomou “providências imediatas de isolamento, alimentação, orientação, proteção e acompanhamento da saúde dessas pessoas que, felizmente, passam todas bem”.

À reportagem, a superintendência informou que os moradores “são acompanhados direta e pessoalmente por um enfermeiro da SAS, que, desde o primeiro momento, faz contato diário com todos eles. É assim que acompanhamos o fato de que todos os moradores infectados relatam ausência de sintomas no momento”. Esse contato, de acordo com moradores ouvidos pelo Informativo Adusp, é feito remotamente.

Alguns desses alunos, prossegue a SAS, já passaram pelos 14 dias de quarentena. “Durante o isolamento, recebem alimentação em domicílio. Foram entregues máscaras faciais a todos os moradores do Crusp; às cinco pessoas com diagnóstico positivo, foram entregues, imediatamente, um conjunto de máscaras, acompanhadas da orientação de que as usassem necessariamente sempre que precisassem sair de seus apartamentos. Essas cinco pessoas continuam sendo testadas”, continua a SAS em sua resposta ao Informativo Adusp.

Ao contrário do que foi inicialmente anunciado, entretanto, os resultados dos testes não foram entregues a todos os moradores. “A SAS enviou um e-mail dizendo que receberíamos o resultado do teste, mas até agora não chegou”, diz Pedro do Vale, morador do Crusp e membro da diretoria do Centro Acadêmico Ruy Barbosa, da Escola de Educação Física e Esporte (EEFE) da USP. A interpretação extraoficial é de que quem não recebeu o retorno teve resultado negativo. O Informativo Adusp perguntou à SAS se todas as pessoas testadas teriam acesso ao resultado de seu exame, mas a questão não foi respondida.

Moradores enfrentam quarentena em condições precárias de permanência

“Acredito que esses alunos [diagnosticados com o vírus] estão bem amparados. O problema mesmo são as condições do isolamento. Temos uma política de sucateamento do Crusp que já é conhecida há bastante tempo, só que agora a coisa ficou séria”, avalia Gustavo Raime, aluno do sexto ano da Faculdade de Odontologia (FO), morador do Crusp e liderança da Frente Universitária de Combate à Covid-19. “As condições de permanência não existem. Não há lavanderias, cozinhas… Fica difícil para as pessoas conseguirem viver bem durante a quarentena.”

Crusp: Frente Universitária de Combate à Covid-19
No Bloco F, banheiros e cozinhas apresentam problemas estruturais
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Raime considera que o pior problema é a ausência de acesso de qualidade à Internet, situação que pode ter implicações inclusive na saúde mental dos moradores. “Neste momento de isolamento social, a Internet está sendo de extrema importância para as pessoas, seja para receber as orientações de saúde, comunicação com familiares, entretenimento etc. Aqui a gente não tem esse direito”, lamenta.

Na avaliação do estudante, o plano de 20 GB mensais de Internet, por meio de modems ou chips individuais, contratado pela Pró-Reitoria de Graduação da USP é insuficiente mesmo para acompanhar as aulas daqueles cursos que estão mantendo as atividades a distância. Raime consultou os valores que a empresa contratada pela USP cobra pelo plano: pelos seus cálculos, os 274 kits entregues a alunos de graduação residentes no Crusp custariam ao redor de R$ 38 mil mensais. Esse montante, considera, “seria melhor investido num cabeamento para que as pessoas usufruíssem de uma Internet banda larga”.

A eventual alegação de que não há condições de realizar obras no atual período esbarra, por exemplo, nas obras em andamento para a ampliação da base da Polícia Militar, exatamente nas imediações do Crusp. “Por que não fazer o que é necessário para as cozinhas e lavanderias e para a instalação da Internet, melhorando a estadia dos alunos na quarentena?”, questiona.

“A atenção que recebemos agora é algo que nunca tivemos”, relata aluno da EEFE

A Frente Universitária de Combate à Covid-19 foi criada por alunos da área da saúde, majoritariamente da FO, diante da necessidade de adoção de um planejamento e de protocolos para enfrentar a pandemia — o primeiro caso de um aluno da USP identificado como portador do novo coronavírus foi confirmado no dia 11/3. O grupo deu apoio ao trabalho de testagem realizado pela SAS em abril. Raime faz questão de agradecer publicamente ao professor Gerson Yukio Tomanari, superintendente da SAS, e à Plataforma Científica Pasteur-USP pela realização dos testes.

Um levantamento feito pela Frente Universitária confirma a situação de precariedade da moradia. O grupo adaptou uma ficha de atenção básica e partiu para um trabalho de campo, com orientação da Unidade Básica de Saúde (UBS) do Centro de Saúde-Escola Samuel Pessoa, no Butantã. Os resultados do levantamento — que ouviu 441 moradores, entre estudantes e crianças — estão disponíveis no site Crusp Transparência. Nele é possível ver fotos e vídeos que mostram as condições de instalações como cozinhas e banheiros do Bloco F.

Esses problemas estruturais do Crusp ainda esperam solução, lembra Pedro do Vale, da EEFE. Apesar disso, o aluno reconhece que desde o início da pandemia a SAS tomou uma série de medidas emergenciais em relação à moradia. “A atenção que recebemos agora é algo que nunca tivemos. Houve distribuição de álcool em gel, kits de limpeza, máscaras, portaria 24 horas com funcionários de uma empresa terceirizada. É uma atenção que deveria ser constante, mas que a gente normalmente não tem”, diz.

Em decorrência do cenário da pandemia, muitos moradores do Crusp deixaram temporariamente o câmpus. A SAS estima que cerca de 400 estudantes estejam na moradia — o Crusp abriga normalmente cerca de 1,6 mil moradores. Os alunos que permanecem nos apartamentos estão recebendo alimentação em marmitas no bandejão da Química. A exceção são os cinco identificados com o SARS-Cov-2, que têm as marmitas entregues nos blocos em que moram.

EXPRESSO ADUSP


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