Condições de trabalho
Problemas acumulam-se na EACH
Acima: indústria apontada como poluidora, Cisper (Owens-Illinois do Brasil) contrasta com área de vivência do campus, vista em primeiro plano. Abaixo: prédio novo abriga bandejão e salas de aula |
As condições de trabalho na Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) continuam a causar desconforto aos docentes. São problemas de toda sorte, que vão desde o modo como a Coordenadoria do Espaço Físico (Coesf) implanta os novos prédios e laboratórios, sem consulta efetiva aos pesquisadores que vão utilizar esses equipamentos, à pura e simples carência de recursos — como o fato de existir uma única xerocopiadora para mais de 200 docentes. Concomitantemente, indícios de poluição ambiental e contaminação do solo são abundantes no campus, situado no bairro de Ermelino Matarazzo, na zona leste da capital, numa área cercada por grandes indústrias e incluída pela Coordenação de Vigilância da Saúde (Covisa), órgão da Prefeitura, no programa “Populações expostas a solos contaminados”.
A somatória de problemas tem gerado insegurança entre os docentes, alguns dos quais vêem esforços da direção da unidade para superar ou contornar as dificuldades, mas acreditam que a Reitoria trata com descaso a EACH, na medida em que, por exemplo, ofícios do diretor estariam sendo respondidos com lentidão injustificável.
Laboratórios
Quando se fala em deficiências do campus leste, a biblioteca é sempre lembrada. “Para nós de ciências humanas a biblioteca equivale a um laboratório. Nossa biblioteca tem quatro ou cinco mil volumes. Muito pequena para uma unidade que atende dez cursos, 4 mil alunos”, afirma o professor Pablo Ortellado, do curso de Gestão de Políticas Públicas e um dos representantes dos doutores na congregação da EACH e no Conselho Universitário. “É absolutamente insustentável”, acrescenta. A questão dos laboratórios também é citada como uma das que mais preocupam os docentes. “Ficamos três anos sem laboratórios”, diz Pablo, explicando que só recentemente ficou pronto o prédio dos laboratórios. Não está claro como eles serão distribuídos para os docentes: “Não se sabe, porque não foi definida uma política de alocação de espaços”. Mas o problema tem outras facetas.
“Desde que entramos, pedimos estrutura física, laboratórios para pesquisa. Foi um processo longo e demorado, mas agora o prédio está erguido”, lembra o professor Andrea Cavicchioli, do curso de Gestão Ambiental e também representante dos doutores na Congregação. No entanto, foram detectadas inadequações nas plantas dos laboratórios. “A gente tem a impressão de que as coisas tendem a ser feitas segundo determinados moldes”, diz Andrea, apontando a atitude da Coesf como pouco permeável à opinião dos docentes. Bancadas com largura inadequada e pisos com tolerância ao peso inferior à que seria desejável: estas são algumas das deficiências que foram apontadas para a Coesf. “As coisas estão sendo feitas, lentamente mas estão”, pondera ele. “Um pouco de bom senso evitaria problemas que podem surgir”.
Sobrecarga
Outro problema, este decorrente do modelo adotado para a criação da unidade, é a sobrecarga de professores em cursos como Tecnologia da Informação, Marketing, Têxtil. Nestas áreas há poucos doutores. É pequeno o número de funcionários, inclusive na biblioteca.
Muito sentido pelos docentes é o “congestionamento” na produção de cópias xerox, por só haver uma máquina disponível. Alguns preferem arcar com as despesas de reprodução, levando prontas as provas para o campus, a ter de se deparar com a fila do xerox. Esta situação provocou o justo protesto de uma docente, que postou uma mensagem na lista do campus, desencadeando reação desproporcional da direção da unidade, que se considerou ofendida. Há muitas queixas quanto à qualidade da comida oferecida no bandejão, cujo contrato acaba de ser renovado. Não há restaurante em local próximo, o que agrava o problema pela falta de opções.
Contaminação
O Informativo Adusp presenciou, em 28/4, uma reunião do Fórum Intersetorial das Questões Ambientais do Jardim Keralux, realizada num dos auditórios da EACH. O bairro originou-se no loteamento e venda inescrupulosos de terrenos pertencentes à massa falida da fábrica Keralux, do grupo Matarazzo, e que foram adquiridos de boa fé por trabalhadores de renda modesta.
Muitos moradores participam do Fórum, que congrega representantes da Prefeitura, Cetesb, CPTM, Unifesp etc. e desde o final de 2005 conta com docentes e alunos do curso de Gestão Ambiental da USP. “A comunidade pleiteia a legalização dos terrenos”, explica Tânia Bonfim da Cunha, supervisora de saúde de Ermelino Matarazzo e participante do Fórum. Tânia denuncia os tormentos que afligem os moradores: “a contaminação do solo, cuja origem é o BHC que havia aqui e que foi retirado em parte pela Sabesp em 1997, e a poluição do ar, provocada pelas empresas Bann Química, Viscofan, Cisper, Belgo-Mineira”. Em 2006, a Cetesb instalou no posto de saúde local um equipamento para identificar poluentes. A Bann Química chegou a ser interditada pela Prefeitura. Para voltar a funcionar, precisou firmar um termo de ajustamento de conduta com o Ministério Público.
Lençol freático
Em 2006, o relatório “A EACH e a situação socioambiental do Jardim Keralux”, de autoria de um grupo interdisciplinar de docentes, registra: “Segundo a Secretaria Municipal do Verde e Meio Ambiente, existe contaminação do solo e da água subterrânea na região, em função de terem sido dispostos diversos tipos de resíduos perigosos no solo. No caso do loteamento do Jardim Keralux, durante anos as indústrias localizadas no seu entorno dispuseram os resíduos sólidos gerados em seu processo de fabricação, contaminando o solo e o lençol freático”.
O documento conclui que, “dada a gravidade da situação em que se encontram os moradores vizinhos ao campus”, e a possibilidade de os problemas ambientais do Jardim Keralux — em particular a poluição atmosférica — estarem afetando também a comunidade da EACH, “faz-se necessária a gestão junto ao governo do Estado visando a solução do problema de flagrante degradação da qualidade ambiental da região, apoiada em queixas freqüentes de alunos, professores e funcionários, muitas associados a problemas respiratórios”. O professor Paulo Sinisgalli, um dos autores do relatório, comentou que a Reitoria solicitou um Plano Ambiental da EACH, mas que até agora isso não foi possível: “O apoio foi pequeno”, revela. “Queremos discutir a concepção dos prédios, o reuso de água, o monitoramento ambiental. Nem resposta veio. O coordenador da Coesf ficou de participar de uma reunião, mas não veio”, completa.
Coesf responde
O professor João Cyro André, titular da Coesf, considera que as críticas sobre a configuração dos laboratórios “carecem de fundamentação, pois o projeto atende a todos os preceitos da boa técnica e prevê laboratórios de configuração flexível para melhor adequar-se às demandas das diferentes disciplinas que deles farão uso. Cabe ressaltar que o projeto foi exaustivamente discutido com a EACH”.
“A informação de que o Coordenador da Coesf se comprometeu a participar pessoalmente de reuniões de implantação de um Plano Ambiental é totalmente falsa, pois tal compromisso nunca foi assumido. Por outro lado, ressalta-se que esta Coordenadoria está comprometida, como não poderia deixar de ser, com a qualidade ambiental na EACH”, declarou ao Informativo Adusp. Na tarde de 30/4, a reportagem tentou, por várias vezes, contato com a direção da EACH, em diversos números de telefone indicados na página eletrônica da USP, sem êxito. A reitora Suely Vilela também foi procurada para comentar o teor desta matéria. Seu assessor de imprensa informou que ela não se encontrava na Reitoria.
Matéria publicada no Informativo n° 257
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