Saúde
Em Carta Aberta, servidoras pedem fim da proibição de mamografia anual e da restrição de exame para mulheres com menos de 50 anos
22/07/2022 16h05
“A realização de um exame preventivo tem o caráter de preservar a saúde das mulheres e não pode ser tratado sem a devida importância e seriedade que o tema exige”, diz o documento, publicado por trabalhadoras do câmpus de Ribeirão Preto. O câncer de mama é a primeira causa de morte pela doença em mulheres no Brasil, e sua incidência e mortalidade tendem a crescer progressivamente a partir dos 40 anos de idade, confirma o Inca
Trabalhadoras do câmpus de Ribeirão Preto da USP publicaram nesta sexta-feira (22/7) uma Carta Aberta para manifestar seu repúdio à determinação da Superintendência de Saúde (SAU) da USP de proibir a realização de mamografia para pessoas de 40 a 50 anos de idade.
Em memorando circular emitido no dia 30/6 e dirigido às chefias das Unidades Básicas de Saúde (UBAS) dos campi, o professor Rodrigo Diaz Olmos, superintendente de Saúde substituto, determina que “só devem ser autorizadas mamografias de rastreamento” para mulheres na faixa etária de 50 a 69 anos, “podendo se estender até 74 anos”.
A circular determina ainda que “mamografias anuais não devem ser realizadas e nem autorizadas” e que não devem ser realizados “outros exames para rastreamento”.
O superintendente substituto justifica a imposição das draconianas restrições com base no “Protocolo de Atenção Básica do Ministério da Saúde – Saúde das Mulheres”, de 2016, e no “Caderno de Atenção Primária – Rastreamento do Ministério da Saúde”, de 2010.
As signatárias da Carta Aberta – grupo de mulheres do Sindicato dos Trabalhadores da USP (Sintusp) em Ribeirão Preto – rebatem a justificativa apontando que “a Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama, a Sociedade Brasileira de Mastologia, a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia e o Colégio Brasileiro de Radiologia recomendam o exame a partir dos 40 anos, anualmente”.
“Estudos apontam que cerca de um terço dos casos de câncer de mama afeta mulheres antes dos 50 anos”, afirma a Carta Aberta. “A realização de um exame preventivo tem o caráter de preservar a saúde das mulheres e não pode ser tratado sem a devida importância e seriedade que o tema exige pelo Superintendente da SAU.”
“Por isso, apelamos tanto para as mulheres que estão em cargos de comando, quanto para todas as trabalhadoras da USP que nos apoiem nesta situação de negligência à saúde de todas nós servidoras”, conclamam.
De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca), vinculado ao Ministério da Saúde, o câncer de mama é “a primeira causa de morte por câncer em mulheres no Brasil”. O Inca confirma que a “incidência e a mortalidade por câncer de mama tendem a crescer progressivamente a partir dos 40 anos”, constatação de um órgão oficial que coloca ainda mais em relevo o grau de absurdo da medida restritiva da SAU.
Servidora teve continuidade do tratamento negada
As signatárias registram também que, nas reuniões para elaborar a Carta Aberta, tiveram acesso “a uma denúncia gravíssima, que tem estreita ligação com o descaso e desrespeito a todas as mulheres do câmpus que utilizam as prestadoras de serviço ligadas à USP, nos campi do interior”.
O caso é de uma servidora que em 2019 descobriu um câncer de mama após realizar os exames preventivos e que até março deste ano “foi amparada de forma humanizada pela UBAS e serviços conveniados para a liberação das consultas pré-cirúrgicas, a cirurgia em si e o tratamento posterior à retirada do câncer”.
“Agora a liberação de consultas e a continuidade do tratamento oncológico que antes era ofertado pelo prestador de serviços e autorizado pela SAU estão sendo negados. O direito ao tratamento foi abruptamente cerceado sem uma justificativa plausível”, afirma a Carta Aberta.
A servidora, “já em sofrimento quanto às incertezas e tabus em relação à doença, teve negado o direito a receber a medicação até então fornecida”. Para piorar o quadro, continua a denúncia, ao realizar o tratamento de quimioterapia oral a servidora teve que recorrer à doação do medicamento.
Além disso, “teve negado o acesso a guias de consulta após ultrapassar as 8 (oito) liberadas pela Superintendência de Saúde”. A servidora solicitou outras guias, explica o documento, porque, como o tratamento oral teve efeitos colaterais, necessitou se consultar com outros especialistas.
Embora abrigue hospitais que são referência nacional e internacionalmente, a USP “se furta de forma insensível à sua própria comunidade, às trabalhadoras que, há anos, se dedicam a esta instituição e têm o básico negado e vilipendiado, fechando os olhos para situações que exigem um mínimo de respeito e tratamento digno e que em outras administrações já foi tratado de forma mais humana”, diz a Carta Aberta.
“Cobramos, com a máxima urgência, a revisão dos protocolos dos exames preventivos de câncer de mama em mulheres entre 40 a 50 anos e também a revisão da limitação do número de guias para tratamentos específicos e imprescindíveis para que a saúde de todas e todos os servidores seja preservada e valorizada com o respeito que esses trabalhadores merecem”, conclamam as signatárias.
“Será que teremos de aguardar até o mês de outubro, conhecido mundialmente como o mês da conscientização para o controle do câncer de mama (Outubro Rosa)? Ou esperar até o dia 27 de novembro, que é o dia nacional de combate ao câncer de mama instituído pela Lei nº 12.116/2009? Estamos certas da compreensão e solidariedade de todas, pois juntas somos mais fortes!”, finaliza o documento.
Servidora(e)s da PUSP-C protestam por falta de exames periódicos; trabalhador morreu nesta semana
Também por meio de uma Carta Aberta dirigida à prefeita do câmpus da capital, professora Raquel Rolnik, e à Reitoria da USP, a(o)s funcionária(o)s da Prefeitura do Câmpus da Capital (PUSP-C), reivindicam a garantia do direito “aos exames periódicos fundamentais para segurança de nossa saúde e nossas vidas como sempre foram feitos, ou seja, completos e no HU [Hospital Universitário]”.
De acordo com a Carta Aberta, publicada nesta sexta-feira (22/7), há mais de cinco anos os exames periódicos de saúde foram substituídos por “‘consultas’ com os médicos do trabalho” e a declaração de aptidão para o trabalho é feita “com base apenas na constatação de que nossos pulmões ainda respiram e nosso coração ainda pulsa”.
Os médicos do Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho (SESMT), não podem “pedir os exames complementares necessários para fechar diagnósticos com um mínimo de seriedade, já que se trata de vidas humanas ou, para nós, de nossas vidas”.
“De fato, a política de saúde do trabalho adotada pelos sucessivos reitores e que tem sido aprofundada na atual gestão ao mesmo tempo em que nos trata como descartáveis, acaba, em última instância roubando o que nos resta de saúde e extraindo o que nos resta de nossas próprias vidas”, dizem a(o)s servidora(e)s. “Não podemos aceitar essa política irresponsável da gestão universitária, em especial da Superintendência de Saúde.”
A Carta Aberta relata que, após assumir o posto, a prefeita visitou todas as seções da PUSP-C e perguntou a vária(o)s funcionária(o)s “o que teríamos ainda pra oferecer à universidade”, ou “por que a universidade deveria ainda nos manter”.
“Ouvir tais perguntas hoje, quando muitos de nós que já entregamos à universidade três ou quatro décadas de nossas vidas, encontramo-nos já idosos e vários de nós adoecidos, foi como se nos tivessem perguntado se ainda seríamos úteis, ou se ainda teríamos algo que nos pudesse ser extraído”, prossegue o documento.
A carta registra “a dor e a revolta pela perda de um dos nossos companheiros que morreu trabalhando, e que, talvez, pudesse ainda estar vivo caso as administrações desta universidade atendesse nossos direitos (como exames periódicos) com a mesma presteza com que nos cobra os deveres”.
Na última terça-feira (19/7), faleceu Ezequiel Sylvestre, conhecido como “Fusquinha”, que atuava na Seção de Áreas Verdes da PUSP-C, vítima de mal súbito enquanto trabalhava.
O Sintusp divulgou nota de pesar na qual lembra que já protestou várias vezes pela “ausência dos exames periódicos e de um acompanhamento constante das condições de saúde dos funcionários”.
A PUSP-C publicou nota na qual comunica “com imenso pesar” o falecimento do trabalhador e expressa condolências a familiares e amigos
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