O recém empossado reitor da USP, Vahan Agopyan, e o reitor da Unicamp, Marcelo Knobel, participaram no dia 16/2 de um debate sobre o modelo e o futuro das universidades públicas brasileiras no programa Diálogos na USP”, da Rádio USP. Entretanto, os ouvintes que tenham, eventualmente, apostado em um debate instigante do tema ou esperavam ouvir a exposição dos planos do novo reitor da USP para sua gestão provavelmente se decepcionaram.

Ambos os reitores evitaram expressar-se de forma clara, preferindo emitir declarações vagas e afirmações banais. Ao responder à primeira pergunta do apresentador Marcello Rollemberg, “O modelo de universidade pública como conhecemos no Brasil está em crise? Precisa ser mudado?”, Agopyan tergiversou. Entre obviedades como “a universidade é um organismo milenar” e “nós temos universidades públicas, estaduais, municipais e federais, mas também temos universidades privadas sem fins lucrativos e temos universidades privadas com fins lucrativos”, o reitor citou a Constituição de 1988, dizendo que “exigia-se que toda universidade fosse de pesquisa, portanto, que toda universidade tivesse no seu corpo docente professores de tempo integral”. Ou seja, na sua primeira resposta Agopyan evitou responder se considera que a universidade brasileira está em crise, mas deixou implícito seu desgosto com o modelo constitucional de universidade pública e com o RDIDP.

Mais tarde, ao responder à indagação “que modelo de universidade queremos?”, Agopyan arriscou algumas críticas, um tanto confusas, ao declarar que “nós queremos toda a gama de modelos” e que “foi uma posição não muito correta da Constituição definir um único modelo de universidade”, isso porque “acaba limitando muito e dando a entender que os outros modelos não são importantes, e isso é um erro”. No entanto, em nenhum momento explicitou quais seriam as limitações a que aludiu. Subentende-se por suas respostas que ele “quer” todo e qualquer modelo de universidade, desde que não tenham de obedecer ao “princípio de indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão” definido pelo artigo 207 da Constituição.

Se a maior parte das respostas de Agopyan não escapou dos lugares-comuns, mais constrangedor, em repetidas ocasiões, foi o seu silêncio, que colocou em evidência a disposição do reitor da Unicamp de abordar, minimamente, questões relevantes do papel social da universidade pública.

Assim, quando esse tópico foi discutido, Knobel esclareceu que o Hospital Universitário da Unicamp integra a extensão universitária, além de refletir sobre as dificuldades que a universidade encontra em comunicar suas ações para a sociedade. Depois, acrescentou que todas as boas universidade do mundo, mesmo as particulares, preocupam-se com a formação de cidadãos, não só profissionais. Em contrapartida, Agopyan limitou-se a dizer que é um grande problema “demonstrar que a universidade é muito mais do que um simples local para formar profissionais”, e fugiu da discussão ao propor que, “ao invés de eu e o professor Knobel darmos a resposta, vocês, jornalistas, possam nos ajudar”.

Processo de Bolonha?

O único momento em que os reitores ofereceram respostas mais elaboradas quanto ao modelo de universidade que desejam foi quando discutiram a “flexibilização dos currículos”. Ambos disseram sonhar com a realização de um Processo de Bolonha brasileiro, com o objetivo de “criar um crédito brasileiro que possa valer em todas as universidades, sejam públicas, privadas, convencionais, lucrativas”, segundo Agopyan. Knobel chegou a sugerir que “no campus de Barão Geraldo em Campinas, temos ali do lado duas universidades excelentes, privadas, onde poderia haver mais mobilidade, poderia haver movimentação entre os nossos próprios cursos”.

Após incorrer nessa relativização do caráter público da universidade, a discussão avançou para o plano material e as preocupações sobre o financiamento da universidade. O debate novamente repetiu velhas fórmulas.

Agopyan descreveu como as universidades públicas paulistas foram pressionadas a se expandirem durante o crescimento da arrecadação do ICMS e entraram em crise no momento em que a arrecadação diminuiu. Todavia, na contramão do reiterado posicionamento do Conselho dos Reitores das Universidades Estaduais Paulistas (Cruesp), ele defendeu que a solução não é aumentar o repasse de ICMS para as universidades, “porque é uma luta muito inglória, até as porcentagens mínimas que nós estamos querendo justificar estão dando [sic] um desgaste muito grande para os reitores e para os reitores que nos antecederam”, sem explicar qual foi e por que ocorreu o alegado desgaste.

Para os dois reitores, a “moderna” solução para o financiamento da universidade seria o já conhecido endowment. A única ressalva que fizeram ao modelo de endowment não envolve preocupações com a corrupção do caráter público de suas universidades, mas o fato de que “é de longuíssimo prazo”.

EXPRESSO ADUSP


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