Defesa da Universidade
Reitoria constitui GT sobre comunicação institucional com 40% de representantes do setor privado; colegiado fará “sugestões” e não tem caráter deliberativo
Três nomes oriundos do setor privado integram o “Grupo de Trabalho com o objetivo de propor diretrizes para a Comunicação Institucional da Universidade (GT Comunicação Institucional)” criado por portaria do reitor Carlos Gilberto Carlotti Junior datada de 31/3 e publicada no Diário Oficial do Estado nesta sexta-feira (1º/4).
Os representantes do setor privado no GT são Andrew Greenlees, sócio-fundador da FLAG Public Affairs; Gislaine Rossetti, diretora de Relações Institucionais da LATAM; e João Rodarte, fundador e ex-presidente da CDN Comunicação.
O GT será presidido pelo superintendente da Superintendência de Comunicação Social (SCS), Eugênio Bucci, docente da Escola de Comunicações e Artes (ECA). Por parte da USP ainda o integram o também docente da ECA Paulo Roberto Nassar de Oliveira, que preside a Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (Aberje); a assessora de Imprensa da Reitoria, Adriana Cruz; e o jornalista Luiz Roberto Serrano, que foi o superintendente da SCS na gestão V.Agopyan-A.C.Hernandes.
De acordo com a portaria, o GT “deverá propor soluções organizacionais para a Comunicação Institucional da USP, a partir da análise das informações sobre o atual estado da comunicação na Universidade”, com prazo de 90 dias para concluir seus trabalhos.
A constituição do GT – em que quase 43% dos integrantes são do setor privado – remete a referências feitas por Carlotti durante a campanha para a eleição à Reitoria, no ano passado, quando o então candidato afirmou que era preciso pensar em ações para “melhorar a comunicação” da universidade.
Em resposta aos questionamentos enviados por e-mail pelo Informativo Adusp, o professor Eugênio Bucci disse que os principais temas sobre os quais o GT irá se debruçar são “as tarefas de comunicação institucional de uma organização universitária do porte da USP”. “Como isso está sendo tratado em universidades e outras entidades análogas? O que precisamos considerar em termos de melhorias?”, citou. O professor ressalvou que as questões que serão objeto do trabalho ainda não estão bem definidas e “poderão ser mais detalhadas a partir das primeiras conversas do Grupo”.
Na avaliação de Bucci, o GT irá “ouvir quem conhece o assunto e, de forma serena e fundamentada, ir construindo uma proposta para a USP”. O colegiado vai gerar apenas sugestões, mas “não poderá deliberar sobre o que será ou não será feito no futuro”.
O professor considera que os integrantes convidados “têm experiência na área privada e conhecem bem o setor público – em alguns casos, já desenvolveram projetos importantes no âmbito do Estado”. “Como o objetivo do Grupo de Trabalho é elaborar e apresentar sugestões, nós julgamos que seria fundamental conhecer práticas adotadas nesse universo, seja na comunicação de empresas privadas seja na comunicação dos entes públicos”, ressalta. “Esse conhecimento vai enriquecer nossas perspectivas.”
O próprio Bucci também tem experiência no governo (foi presidente da Radiobrás no primeiro governo Lula), na universidade e em empresas privadas (dirigiu revistas como Superinteressante e Quatro Rodas, na Editora Abril, e é colunista do jornal O Estado de S. Paulo, entre outras atividades).
A participação dos profissionais das agências privadas “não acarretará nenhum ônus para a USP”, diz o superintendente. “Eles não estão cobrando por essa colaboração.”
Grupos que lutam pela democratização da comunicação ficam de fora
De acordo com o site da FLAG Public Affairs, Andrew Greenlees é jornalista formado pela USP e já atuou na Câmara dos Deputados e na Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Estado, além de ter sido editor de Política e correspondente da Folha de S. Paulo em Washington, entre outras funções.
O site informa que a agência tem “atuação institucional com foco em resultados empresariais”. Na visão da agência, “o Brasil passa por um momento de profunda reavaliação do relacionamento público/privado”. “Diante dos grandes desafios políticos, econômicos e sociais do País, a FLAG Public Affairs acredita que a iniciativa privada deve se engajar mais – e não menos – com o Poder Público”, continua o texto de apresentação.
A agência também acompanha “o andamento de discussões e projetos de interesse da empresa ou setor econômico nas diferentes esferas do Poder Público, produzindo relatórios periódicos e alertas sempre que necessário”.
A CDN Comunicação se apresenta como uma agência “100% focada na construção e fortalecimento da imagem e da reputação – ativos intangíveis de grande valor para clientes inseridos em um mundo cada vez mais competitivo e de alta exposição”. Entre os seus clientes estão grandes corporações como Braskem, Boehringer Ingelheim, Citi, Itaú, Nestlé e Pfizer, além de hospitais privados e do próprio governo do Estado de São Paulo.
Por sua vez, Gislaine Rossetti, antes de ingressar na LATAM, atuou por 18 anos na comunicação da multinacional BASF.
“Não há nenhum representante de movimentos sociais ou ligados à democratização da comunicação, como o Coletivo Intervozes. Haverá nesse trabalho alguma diretriz que incorpore saberes populares e suas demandas?”, pergunta um jornalista da SCS ouvido pelo Informativo Adusp. “Se houvesse vontade de incorporar experiências democráticas e populares, teriam sido chamados representantes de outras instâncias. É um indício de que o recorte é outro.”
O profissional, assim como outros jornalistas da SCS procurados pela reportagem, relatou que não foi comunicado da constituição do GT pelos meios oficiais ou institucionais da universidade e que só soube da novidade depois da publicação da portaria no Diário Oficial.
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