Defesa da Universidade
Superintendente do HU confirma falta de anestesistas, e Conselho Deliberativo promete encaminhar contratações efetivas
O superintendente do Hospital Universitário (HU) da USP, Paulo Margarido, confirmou que a instituição está com a equipe de anestesistas desfalcada, o que vem prejudicando a realização de cirurgias. Margarido afirmou aos integrantes do Grupo de Trabalho do HU (GT-HU), em reunião conjunta com o Conselho Deliberativo (CD-HU) realizada de forma remota no dia 26/8, que o contrato temporário de alguns profissionais terminou e que as cirurgias estão sendo realizadas com a equipe efetiva.
A informação de que o HU estava desmarcando cirurgias eletivas foi publicada pela jornalista Mônica Bergamo, da Folha de S. Paulo, no dia 24/8. A colunista destacou que os profissionais temporários atuavam no centro obstétrico e que, para dar conta das exigências, os anestesistas estavam se dividindo para trabalhar ali e no centro cirúrgico. Ao jornal, o HU negou que tenha havido “redução recente no quadro oficial” desses profissionais.
Na reunião com o GT-HU, Margarido afirmou que novas contratações temporárias devem ser feitas nos próximos dois meses. No dia 25/8, o Diário Oficial do Estado publicou a convocação de uma anestesiologista que participou do processo seletivo simplificado aberto pelo Edital HU 28/2021, de janeiro deste ano. A profissional chamada desistiu da vaga, e a convocação de outra médica foi publicada nesta quarta-feira (1/9).
O presidente do Conselho Deliberativo, professor Tarcisio Eloy Pessoa de Barros Filho, apontou que, de acordo com deliberação do colegiado, essa situação não será permanente e que o hospital vai encaminhar contratações efetivas, reivindicação que o GT-HU vem fazendo repetidamente.
Barros Filho confirmou observação feita por Margarido de que os hospitais estão com dificuldades para contratar pessoas físicas porque os profissionais têm preferido se apresentar como pessoas jurídicas.
Conforme já mostrou o Informativo Adusp, a complexa situação do atendimento no HU sofreu novas turbulências com o fim do convênio entre a USP, a Fundação Faculdade de Medicina (FFM), entidade privada dita “de apoio”, e a Secretaria Estadual da Saúde, que redundou na saída de 33 profissionais nos primeiros meses do ano, e também com o encerramento do vínculo de cerca de 180 profissionais temporários contratados em processos seletivos abertos desde 2019 — caso dos anestesistas. O pano de fundo da crise de pessoal no HU, porém, remonta à saída de muitos profissionais desencadeada pelo Programa de Incentivo à Demissão Voluntária (PIDV) implantado a partir de 2015, na gestão reitoral M.A. Zago-V. Agopyan (2014-2018).
Para piorar, as resoluções que autorizam essas contratações estabelecem que um eventual novo vínculo do mesmo profissional só pode ocorrer 200 dias depois de encerrado o primeiro. Na avaliação de médicos ouvidos pelo Informativo Adusp, a duzentena provoca uma rotatividade de profissionais incompatível com a necessidade dos serviços especializados e desestimula potenciais candidatos. Contratações efetivas são o melhor caminho, defendem os médicos.
Hospital teve surto de Covid-19 na UTI entre final de julho e início de agosto
Outro tema tratado na reunião foi o possível aumento do número de casos de Covid-19 nas próximas semanas, com a circulação da variante Delta, e o surto registrado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) de Adultos do hospital.
O surto de Covid-19 ocorreu no final de julho e o último caso foi confirmado no dia 10/8. A situação levou a Superintendência a cancelar um almoço comemorativo do quadragésimo aniversário da instituição, que seria realizado no refeitório.
De acordo com Rosane Meire Vieira, funcionária do HU e diretora do Sindicato dos Trabalhadores da USP (Sintusp), teriam sido contaminadas doze pessoas, sendo quatro pacientes e oito funcionária(o)s. A Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH) interditou a UTI e colheu exames. Na reunião, Barros Filho disse que o surto foi isolado e controlado.
Em relação à situação da pandemia no Estado, o presidente do CD-HU ressaltou que São Paulo ainda apresenta queda no número de casos e de internações, embora, de fato, exista a possibilidade de mudança do quadro nas próximas semanas.
Barros Filho também foi questionado quanto aos dados referentes à doença no hospital, que não são atualizados há meses na página do HU na Internet. Tanto ele quanto o superintendente enfatizaram que os boletins deixaram de ser publicados porque estão sendo feitos relatórios diários por parte da comissão encarregada do assunto.
Ampliação de atendimentos depende da contratação de pessoal
Márcia Bevilacqua, assessora da Superintendência, apresentou dados do Plano Operativo Anual (POA) referente à contratação do SUS no período de 2017-2021. A assessora explicou que o contrato vigente tem como base o anterior e que os valores não são reajustados há mais dez anos. Deu como exemplo o fato de que o HU realiza mais tomografias do que o contratado e, por conta do valor muito baixo de pagamentos, é necessário haver complementação com orçamento do próprio hospital.
Na tabela de referenciamento para atendimento de Covid-19 na região Oeste de São Paulo, o HU aparece como “preferencialmente não Covid”. A professora Michele Schultz, presidenta da Adusp e integrante do GT-HU, questionou se o hospital havia recebido verba adicional do governo federal para o atendimento da pandemia.
Barros Filho explicou que as verbas federais vão para a Secretaria Estadual da Saúde, que faz o rateio entre os hospitais que tratam da doença. Como o HU está referenciado como “preferencialmente não Covid”, acabou não recebendo recursos adicionais.
Os integrantes do GT-HU notaram a ausência de dados mais completos sobre ensino, extensão e atendimentos domiciliares na apresentação e sugeriram que fossem acrescentados indicadores que caracterizassem melhor o HU como hospital-escola. A proposta foi bem recebida pelo CD-HU, e Barros Filho se comprometeu a criar novos indicadores.
O GT-HU defendeu que o novo contrato com o SUS deve incluir ampliação do número de atendimentos e serviços, com dados referentes ao que o HU cumpria até 2013, antes das políticas de desmonte e precarização aplicadas pela gestão M.A. Zago-V.Agopyan. O presidente do CD-HU reafirmou que essa ampliação depende da contratação de pessoal.
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