“O contexto da pandemia da Covid-19 explicitou problemas estruturais da sociedade, determinados pela exploração capitalista, e os agravou, e trouxe à tona de forma aguda e desumana as consequências da destruição do SUS [Sistema Único de Saúde] que, por já ter nascido focalizado a grupos sociais que não conseguem pagar por serviços privados, ataca e expõe ainda mais esses grupos sociais”, diz manifesto do Departamento de Enfermagem em Saúde Coletiva (ENS) da Escola de Enfermagem da USP, divulgado em 12/2.

“A pandemia evidenciou a face destruidora do governo Bolsonaro e de seus apoiadores que, para manter as atividades econômicas a qualquer custo, de forma deliberada, aceita e incentiva a morte de milhares de brasileiras e brasileiros, para cumprir o projeto da imunização coletiva de forma ‘natural’, expondo as pessoas para desenvolver ‘espontaneamente’ a imunidade ao vírus e, dessa forma, deixar de investir em vacinas e em outras formas de cuidado coletivo para diminuir a transmissão e preservar vidas”, prossegue o manifesto do ENS.

“A persistência desse projeto tem levado o país a ocupar os primeiros lugares no número de casos e mortes, o que tem sido coroado com a calamidade de Manaus e de cidades vizinhas da Região Norte!”, exemplifica o texto. “Trabalhadores e trabalhadoras são atingidos por essa política. As trabalhadoras da enfermagem são particularmente atingidas, dado que estão cronicamente submetidas a condições precárias de trabalho, salários desvalorizados e à invisibilidade do importante trabalho cotidiano. O Brasil é responsável até aqui por 1/3 das mortes por Covid-19 entre os profissionais de enfermagem durante a pandemia, destacando-se ainda que 49% das enfermeiras têm apresentado quadro importante de ansiedade e 25% depressão”.

Ainda de acordo com o manifesto, há “negação da dramática situação que o Brasil vive hoje”, como também um ataque declarado à ciência e às evidências científicas. “O desafio aos pressupostos científicos de preservação da vida se evidencia na explícita recomendação para o uso de medicamentos comprovadamente ineficazes para o combate do coronavírus, como tática deliberada para produzir algum sentimento de segurança, para que trabalhadores se exponham, sem medo, à pandemia no Brasil. A batalha política e eleitoreira estabelecida em torno da vacinação contra a Covid-19 também evidencia o projeto destruidor”, destaca o ENS, em aparente alusão à disputa midiática entre as candidaturas de Jair Bolsonaro (sem partido) e João Doria (PSDB) às eleições presidenciais de 2022.

“O retorno às aulas é incabível diante das atuais taxas de transmissão e mortes, e das precárias condições de monitoramento epidemiológico oferecidas pelo Estado aos trabalhadores, estudantes e famílias. Cuidar para não expor o cidadão ao vírus e a garantia da vacina para todos, de forma organizada e segura, devem ser as ações a direcionar a ação do Estado brasileiro”, conclui o documento.

“Em nome da Saúde Coletiva latino-americana, pela defesa do SUS e para salvar as vidas, o ENS se posiciona contra a política anti-humana que está colocando o Brasil no rol dos países contrários a direitos humanos e vem se juntar às vozes dissonantes para denunciar os constantes ataques à ciência, ao SUS, e à vida. É necessário reagir!”

Íntegra do manifesto do Departamento de Enfermagem em Saúde Coletiva

O Departamento de Enfermagem Saúde Coletiva (ENS) da Escola de Enfermagem da USP tem compromisso com a formação, de enfermeiras e de pós-graduandos das diversas profissões em saúde, pautada em conceitos e práticas da Saúde Coletiva, campo que floresceu no contexto da América Latina e que expressa a tradição aguerrida de luta dos povos dessa região contra as desigualdades sociais.

O ENS tem como eixo a formação de trabalhadores de saúde comprometidos com o SUS, na defesa intransigente do sistema de saúde público, universal e igualitário, na defesa da saúde como direito de todos. O ENS preza pela construção de conhecimentos emancipadores, críticos à manutenção do status quo e ao obscurecimento da explicitação dos problemas que estão na base das desigualdades em saúde.

O contexto da pandemia da Covid-19 explicitou problemas estruturais da sociedade, determinados pela exploração capitalista, e os agravou, e trouxe à tona de forma aguda e desumana as consequências da destruição do SUS que, por já ter nascido focalizado a grupos sociais que não conseguem pagar por serviços privados, ataca e expõe ainda mais esses grupos sociais.

A pandemia evidenciou a face destruidora do governo Bolsonaro e de seus apoiadores que, para manter as atividades econômicas a qualquer custo, de forma deliberada, aceita e incentiva a morte de milhares de brasileiras e brasileiros, para cumprir o projeto da imunização coletiva de forma “natural”, expondo as pessoas para desenvolver “espontaneamente” a imunidade ao vírus e, dessa forma, deixar de investir em vacinas e em outras formas de cuidado coletivo para diminuir a transmissão e preservar vidas. A persistência desse projeto tem levado o país a ocupar os primeiros lugares no número de casos e mortes, o que tem sido coroado com a calamidade de Manaus e de cidades vizinhas da Região Norte! Trabalhadores e trabalhadoras são atingidos por essa política. As trabalhadoras da enfermagem são particularmente atingidas, dado que estão cronicamente submetidas a condições precárias de trabalho, salários desvalorizados e à invisibilidade do importante trabalho cotidiano. O Brasil é responsável até aqui por 1/3 das mortes por Covid-19 entre os profissionais de enfermagem durante a pandemia, destacando-se ainda que 49,0% das enfermeiras têm apresentado quadro importante de ansiedade e 25,0% depressão.

Há negação da dramática situação que o Brasil vive hoje, como também um ataque declarado à ciência e às evidências científicas, o que coloca vidas sob “fogo cruzado”. O desafio aos pressupostos científicos de preservação da vida se evidencia na explícita recomendação para o uso de medicamentos comprovadamente ineficazes para o combate do coronavírus, como tática deliberada para produzir algum sentimento de segurança, para que trabalhadores se exponham, sem medo, à pandemia no Brasil. A batalha política e eleitoreira estabelecida em torno da vacinação contra a Covid-19 também evidencia o projeto destruidor.
Mesmo instituições comprometidas com a produção de conhecimentos têm falhado em adotar os únicos mecanismos comprovados de prevenção, como o afastamento social. O retorno às aulas é incabível diante das atuais taxas de transmissão e mortes, e das precárias condições de monitoramento epidemiológico oferecidas pelo Estado aos trabalhadores, estudantes e famílias.

Cuidar para não expor o cidadão ao vírus e a garantia da vacina para todos, de forma organizada e segura, devem ser as ações a direcionar a ação do Estado brasileiro. Em nome da Saúde Coletiva latino-americana, pela defesa do SUS e para salvar as vidas, o ENS se posiciona contra a política anti-humana que está colocando o Brasil no rol dos países contrários a direitos humanos e vem se juntar às vozes dissonantes para denunciar os constantes ataques à ciência, ao SUS, e à vida. É necessário reagir!

EXPRESSO ADUSP


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