Defesa da Universidade
Narrativa de Vahan sobre recuo do governador na Alesp é inconsistente
13/10/2020 14h54
Reitor da USP omite papel do funcionalismo público, dos movimentos sociais e da Oposição parlamentar na resistência ao PL 529/2020
No dia 9/10, o reitor Vahan Agopyan, divulgou vídeo no Canal USP no qual apresenta seu entendimento acerca do recuo do governo João Doria (PSDB) no tocante ao confisco do chamado superávit financeiro de 2019 das universidades públicas e da Fapesp, previsto em dispositivo do PL 529/2020 mas cuja retirada foi anunciada na semana passada pelo deputado Carlão Pignatari, líder do governo na Assembleia Legislativa (Alesp), dentro de um acordo com o PSL que envolve outras mudanças, em especial a retirada de quatro instituições públicas da lista de dez cuja extinção é determinada pelo projeto.
“Ontem, 8 de outubro, o sr. Governador convocou os três reitores das universidades estaduais paulistas e o presidente da Fapesp para comunicar que se sensibilizou com nosso pleito e não vai retirar os recursos dessas entidades, considerados como superávit financeiro de 2019”, diz Vahan no vídeo, dando a entender que não questiona a alegação de que Doria teria se “sensibilizado”. Em seguida o reitor faz uma série de agradecimentos a “todos que apoiaram esse pleito, desde a pessoa que mandou uma carta ao jornal a outro que comentou na sua associação, no seu clube. Foi fantástico, foi imprescindível. Toda colaboração foi útil”.
Vahan revela haver ficado “impressionado com as lideranças da sociedade civil que apresentaram, defenderam essas ideias, escreveram artigos, participaram de eventos dando apoio ao pleito das universidades e da Fapesp”, e na continuação passa a agradecer aos deputados da Alesp, colocando em pé de igualdade a base governista e a Oposição: “E não posso deixar também de agradecer aos parlamentares de todos os partidos, de todos os espectros políticos, inclusive os da situação, como os da oposição, que compreenderam as nossas reivindicações, que começaram a entender a importância da autonomia para a gestão de uma universidade de ensino e pesquisa e com isto também ajudaram ao convencimento, à difusão dessas ideias”.
Por último, o reitor da USP faz questão de estender seus agradecimentos ao “próprio Executivo”, relatando que nos últimos meses participou de muitas reuniões com secretários e o governador para tratar do PL 529/2020. “Isso demonstra que o Executivo estava aberto ao diálogo e felizmente através desse diálogo, através da apresentação dos nossos pontos de vista, foi possível conseguirmos essa mudança de postura e a retirada das universidades e da Fapesp dentro [sic] desse projeto”.
A narrativa do reitor é inconsistente, pois tece explicações quase pueris para o recuo do governo. Acreditar que Doria se deixou comover com a argumentação dos reitores e de outros e que por isso retirou universidades e Fapesp do projeto é não compreender o que se passou. O governo precisou negociar com um dos partidos que se opunham ao PL 529/2020 na Alesp e introduzir alterações no seu teor — do contrário não conseguiria aprovar nenhuma das medidas.
Além disso, Vahan escamoteia a resistência e a luta do funcionalismo público e dos movimentos sociais contra o projeto, fator determinante da pressão sobre os deputados que resultou em sucessivas derrotas do governo ao não conseguir o quórum necessário à votação. O que remete também ao conjunto do PL 529/2020, mais uma vez demonstrando que o reitor preocupava-se apenas em salvar universidades e Fapesp, o restante das perversidades do projeto não lhe afetando de modo algum.
Assim, novamente a Reitoria da USP produz uma peça desinformativa, que dissemina uma visão distorcida da batalha que se travou nas últimas semanas em defesa do serviço público, do interesse público e do funcionalismo público. Agradecer aos deputados governistas da Alesp e ao próprio governador é um total contrassenso: se dependesse unicamente deles, as universidades e a Fapesp já teriam sofrido confisco, com o agravante de que na versão original do projeto o sequestro das reservas não se limitava ao ano de 2019.
Passando por Serra e Alckmin e chegando a Doria, o principal inimigo da autonomia universitária sempre foi o Palácio dos Bandeirantes. Se de fato o Executivo estivesse aberto ao diálogo não apenas com os reitores mas com todo o funcionalismo público, o PL 529/2020 sequer teria sido submetido à Alesp.
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