Projetos de lei ameaçam ensino público, gratuito e de qualidade

Já há condições legais para que o relatório referente aos quatro Projetos de Lei (PL) que constituem a “reforma universitária” seja votado na Comissão Especial e siga para apreciação em plenário, segundo informações prestadas por Fernando Maia, funcionário de carreira na Câmara dos Deputados e secretário da Comissão Especial.

O assunto já constou das 10 sessões necessárias para que o relatório possa ser votado. Há interesse, tanto do presidente da Comissão quanto do governo, de que a “reforma” prossiga. O secretário disse ainda que o relator, deputado Paulo Delgado (PT), teria uma reunião com o ministro da Educação, Fernando Haddad, para tratar do assunto nesta semana, e que também estaria empenhado em priorizar a finalização do Relatório.

As propostas em andamento podem comprometer as possibilidades de manter até mesmo os poucos bolsões públicos, onde ainda é possível exercer a função de universidade centrada no tripé ensino-pesquisa-extensão. Vale lembrar que, conforme já denunciado (Informativo Adusp 223), os PL mais antigos têm forte teor privatista, sendo que o projeto do Executivo está apensado a estes (a base é o PL 4212/2004).

Situação é grave

Tais projetos rebaixam as exigências quanto à titulação docente, ao regime de trabalho e à obrigação de realizar pesquisas na instituição, até mesmo em relação às parcas exigências da LDB/1996. Assim, por exemplo, uma universidade poderia constituir-se com apenas 3% do seu corpo docente realizando qualquer tipo de pesquisa, agregados em, no mínimo, dois grupos ou possuindo um único programa de pós-graduação, mesmo que só de mestrado.

Também não haveria mais a obrigação de ter um terço do seu corpo docente em regime de dedicação exclusiva e até a figura esdrúxula do “professor horista” estaria regulamentada, de acordo com um desses textos, o PL 4221/2004.

Ciente da gravidade da situação, a diretoria da Adusp solicitou em 8/11 à Reitoria uma audiência específica para tratar desta questão. A USP, na figura de sua Reitora, pode ser chamada a participar de audiência pública na Câmara, junto com dirigentes de outras instituições também públicas. Além disso, outras audiências podem convidar dirigentes de instituições privadas ou entidades representativas de estudantes e docentes, conforme solicitado por deputados membros da Comissão. Mas cabe lembrar que tais audiências não são obrigatórias e dependem dos interesses do relator e do presidente da Comissão Especial.

O momento é, pois, de aprofundar o entendimento da “reforma universitária” em tramitação e dedicar o máximo de empenho para evitar que este tema, de enorme relevância para o futuro da educação neste país, seja encaminhado da forma atropelada como os fatos parecem prenunciar.

 

Matéria publicada no Informativo nº 226

EXPRESSO ADUSP


    Se preferir, receba nosso Expresso pelo canal de whatsapp clicando aqui

    Fortaleça o seu sindicato. Preencha uma ficha de filiação, aqui!