A Superintendência de Tecnologia da Informação (STI) da USP enviou, no último dia 1º/2, um ofício às e aos dirigentes de unidades comunicando que no final do ano passado foi renovado o “Termo de Cooperação Técnica entre a Universidade de São Paulo e a empresa Google”.

De acordo com o ofício, assinado pelo professor João Eduardo Ferreira, superintendente da STI, esse “processo de renovação” possui vários “resultados significativos”. São eles: a “manutenção da [sic] gratuitamente [sic] para utilização dos recursos da plataforma ‘Google Workspace for Education Fundamentals’”; o “espaço ilimitado de armazenamento até dezembro de 2023”; a utilização do serviço de comunicação Google Meet por tempo superior a uma hora; o “recurso de gravação e limite de até 250 usuários simultâneos no serviço de comunicação Google Meet para docentes e, sob demanda, para contas de e-mail institucional USP”.

A STI comunica ainda que, a partir de 2024, a USP “fornecerá espaço adicional para armazenamento com recursos próprios, de acordo com política de armazenamento que encontra-se em desenvolvimento”.

Chama a atenção no comunicado da STI o seu tom acrítico e de celebração de uma “cooperação” claramente assimétrica entre uma gigante global da tecnologia e uma instituição pública de um país periférico na economia mundial.

Ao comentar para o Informativo Adusp a renovação do termo, o professor Ewout ter Haar, docente do Instituto de Física (IF) da USP, afirma que considera uma “ingenuidade”, exatamente pela assimetria da relação entre as partes, chamar o acordo de “termo de cooperação técnica”. Em sua opinião, a universidade “deve zelar pela sua autonomia na gestão de infraestrutura para educação e pesquisa”.

“A universidade deve se apropriar de novas tecnologias em apoio à sua missão de fazer educação de qualidade e pesquisa de ponta. A USP deve avaliar cuidadosamente, com visão estratégica, quais partes da infraestrutura podem ser terceirizados e quais deve manter sob seu controle”, defende.

“É preciso tomar muito cuidado para não ficar dependente da infraestrutura controlada por grandes empresas privadas, especialmente aquelas com modelos de negócio baseado em comodificação de comportamento humano”, prossegue.

Além disso, “o ‘Google Workspace for Education Fundamentals’ é simplesmente o plano grátis que o Google oferece a qualquer instituição de ensino, sem dúvida tendo boas razões comerciais [para fazê-lo]”.

Em artigo que assinou na edição nº 65 da Revista Adusp, publicada no final de 2021, Ewout ter Haar destaca que, “durante a pandemia, as empresas GAFAM (Google, Amazon, etc.) prosperaram em ritmo acelerado”. Em escolas e universidades, “ferramentas de colaboração privadas e desenhadas para ambientes corporativos como as do Google e Microsoft conquistaram espaço, muitas vezes por falta de investimento em plataformas públicas e desenhadas especialmente para espaços educacionais”.

No artigo, Ewout ter Haar ressalta que “é notório que plataformas das grandes empresas da Internet se colocam cada vez mais como mediadores entre pessoas e o mundo” e que cabe à universidade “zelar pela sua autonomia na construção dos seus espaços educacionais e manter controle sobre a infraestrutura mediadora das interações entre os integrantes da sua comunidade”.

EXPRESSO ADUSP


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