Na academia e na sociedade, multiplicam-se os apoios ao professor Marcos Sorrentino, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ), de Piracicaba, alvo de uma Comissão de Sindicância criada a propósito de atividade de extensão universitária que promoveu com o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). O caso, divulgado pelo Informativo Adusp 443, vem obtendo grande repercussão fora da USP e, mesmo, fora do Brasil.

No dia 28/11, a partir das 17 horas, será realizada na unidade uma mesa redonda com o tema “Universidade a serviço da sociedade: reforma agrária, agricultura familiar, agroecologia e liberdade de expressão”. A iniciativa é das vinte entidades, movimentos sociais e grupos acadêmicos responsáveis pela organização da “Jor­na­da Universitária em Apoio à Refor­ma Agrária” (JURA), os quais acabam de divulgar uma Carta de Agradecimento “ao apoio à luta por uma Universidade dialógica e comprometida com toda a sociedade”, bem como “à discordância frente a sindicância aberta supostamente para apurar as responsabilidades na utilização do grama­do central da ESALQ na realização de uma oficina, chamada de ‘lona preta’, sem um único dano ao gramado, onde integrantes do MST contavam sobre a realidade de viver sob barracos e da luta pela reforma agrária popular”.

Um dos primeiros a manifestar apoio a Sorrentino foi Hugh Lacey, professor emérito do Swarthmore College (EUA) e co-coordenador do Grupo de Trabalho na Agroecologia do Grupo de Estudos em Filosofia, História e Sociologia da Ciência do Instituto de Estudos Avançados (IEA-USP), onde atuou como professor visitante em 2016. Em mensagem pessoal, Lacey elogiou o colega e o evento que organizou, o qual a seu ver “não só é relevante para a educação sobre a agroecologia e seus movimentos, mas também bem dentro dos limites_da prática acadêmica normal que não precisa receber permissão explícita das autoridades da universidade”.

Outro que expressou repúdio à sindicância e “total solidariedade” ao professor da ESALQ foi o professor emérito da Unicamp e pesquisador emérito do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico (CNPq) Dermeval Saviani, que em e-mail enviado a Sorrentino afirmou que a administração daquela escola está ferindo “a ‘liberdade de cátedra’, prerrogativa constitucional assegurada a todo professor no exercício da função docente”.

Também a Associação de Pós Graduandos do Instituto de Energia e Ambiente (APG do IEE) enviou mensagem eletrônica ao professor Luiz Gustavo Nussio, diretor da ESALQ, na qual, além de comunicar seu apoio a Sorrentino, solicita o arquivamento da sindicância.

O Programa de Pós Graduação em Geografia Humana (PPGH-USP) e o Conselho do Departamento de Geografia manifestaram apoio ao professor Sorrentino e preocupação com a sindicância.

O renomado professor português Boaventura de Souza Santos, diretor do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, enviou um vídeo por meio do qual manda um “grande abraço” ao professor Sorrentino, “pelo trabalho extraordinário” de mostrar na prática a responsabilidade da universidade, e que “lamentavelmente as forças conservadoras querem disciplinar” .

Da Universidade de Victoria, no Canadá, chegou outro apoio expressivo ao docente da ESALQ, subscrito por um grupo de professores de Geografia, História, Antropologia e Estudos Hispânicos e Italianos. A seguir, a íntegra de algumas das manifestações por escrito.

 

Hugh Lacey

“Caro Professor Marcos Sorrentino: Estou escrevendo para expressar minha solidariedade neste momento em que você está sendo submetido à sindicância por organizar um evento acadêmico de que o MST participou. Conheço seus projetos de agroecologia que envolvem colaboração com o MST — você deu uma apresentação esclarecedora sobre esse assunto no seminário que organizei no IEA-USP em maio de 2016 — e é óbvio que contribui para aprofundar o entendimento da agroecologia dos alunos levá-los a ter contato próximo com as práticas e perspectivas das organizações (como o MST) que apoiam o engajamento na agroecologia. O evento, que organizou na ESALQ e que é objeto da sindicância, não só é relevante para a educação sobre a agroecologia e seus movimentos, mas também bem dentro dos limites__da prática acadêmica normal que não precisa receber permissão explícita das autoridades da universidade._

Espero que essa questão seja resolvida rapidamente e favoravelmente. Avise-me se seria útil para mim enviar uma comunicação aos diretores da ESALQ, ou se puder contribuir em qualquer outra maneira.

Abraço, Hugh Lacey”

 

Dermeval Saviani

“Prezado Prof. Marcos Sorrentino:

Na condição de Professor Emé­rito da Unicamp, Pesquisador Emérito do CNPq, Coordenador Geral do Grupo Nacional de Estudos e Pesquisas ‘História, Sociedade e Educação no Brasil’ (HISTEDBR), Professor Colaborador Eventual da Escola Nacional Florestan Fernandes e como Patrono da 9ª Turma de Bacharelandos e Licenciandos em Ciências Biológicas da Escola Superior de Agricultura ‘Luiz de Queiroz’, da USP, quero manifestar meu veemente repúdio e, consequentemente, minha total solidariedade diante do constrangimento que lhe está sendo imposto pela administração, ferindo sua autonomia e a ‘liberdade de cátedra’, prerrogativa constitucional assegurada a todo professor no exercício da função docente.

Com meu abraço,

Dermeval Saviani”

 

Victoria (Canadá)

“Nós, os abaixo-assinados da Universidade de Victoria, no Canadá, estamos escrevendo esta carta em apoio ao professor Marcos Sorrentino, professor da ESALQ em Piracicaba, Brasil, e diretor regional da Adusp. O professor Sorrentino é um líder internacionalmente reconhecido em pesquisa participativa e tem estado na vanguarda no enfrentamento de questões de justiça social e ambiental no Brasil. Ele tem longa experiência de pesquisa-ação com o movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra no Brasil; o que levou a muitas oportu­ni­dades de aprendizagem interativas dentro e fora do campus.

Nós ouvimos que o professor Sorrentino foi recentemente convocado para uma sindicância por uma Comissão Especial criada pela administração da Universidade para investigar uma atividade acadêmica organizada em conjunto com o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Entre 17 e 20 de abril deste ano, o professor Sorrentino ajudou a organizar a quarta edição da ‘Jornada Universitária em Apoio à Reforma Agrária’, juntamente com o Laboratório de Educação e Política Ambiental (OCA, ao qual pertence o professor Sorrentino), o Núcleo para apoiar a cultura e divulgação na educação e conservação ambiental (NACE PTECA/ ESALQ) e com movimentos sociais, como o MST.

O professor Marcos Sorrentino é uma referência chave na América Latina para a educação ambiental. Ele tem mais de 30 anos de compromisso com a construção de uma sociedade mais justa e igualitária e sempre aplicou o diálogo e ações, projetos e iniciativas no campo da educação, incluindo a educação popular. Em apoio ao pensamento crítico e à pesquisa comunitária, expressamos nosso repúdio e maior preocupação com as formas de intimidação usadas contra aqueles que trabalham em universidades públicas com o compromisso social de refletir em parceria com movimentos sociais. Entendemos que esse tipo de compromisso universitário comunitário é crucial para a construção de uma sociedade melhor.”

Assinam: Prof. Budd Hall, UNESCO Chair in Community Based Research and Social Responsibility in Higher Education; Prof. Dr. Jutta Gutberlet, Dr. Crystal Tremblay, Dr. Bernard Henin (Department of Geography); Dr. Gabriela McBee, Dr. Dan Russek, Dr. Beatriz Alba Koch (Department of Hispanic and Italian Studies); Dr. Ana Maria Peredo (Environmental Studies); Dr. Margo Matwychuk (Department of Anthropology).

Reeditado para o Informativo nº 444

EXPRESSO ADUSP


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