Democracia na USP
Resultados das deliberações do Co de 11/4
Apresentado pela Reitoria como um plano de transição para restabelecer o equilíbrio financeiro da universidade, o documento “Parâmetros de Sustentabilidade Econômico-Financeira” foi apelidado de PEC do Fim da USP por fixar o patamar máximo de 85% das receitas mensais da universidade para despesas com docentes e funcionários, assim como a PEC do Teto dos Gastos Públicos limita os gastos sociais do governo federal para os próximos 20 anos. A proposta, porém, pode ser ainda mais complexa e nociva do que aparenta.
De acordo com o documento aprovado praticamente sem modificações no Co de 11/4, a Reitoria poderá congelar contratações e deixar de reajustar o salário de seus servidores no momento em que a folha de pagamentos atingir o patamar de 80% do montante repassado à USP pelo Tesouro Estadual, que hoje corresponde a 5,0295% do ICMS-QPE (Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços-Quota Parte do Estado). Atualmente, o gasto com a folha de pagamentos excede a 100% dos recursos advindos do tesouro do Estado, em razão, sobretudo, da queda da arrecadação de ICMS e portanto da queda dos repasses.
Ainda segundo dispõem os “Parâmetros”, ao atingir o teto de 85% do orçamento de gastos com funcionários, a Reitoria estará autorizada/obrigada a eliminar o percentual excedente nos dois semestres seguintes, sendo pelo menos um terço no primeiro semestre. Em comunicado divulgado em 23/3, a Reitoria negou que isto possa implicar a demissão de servidores. Ao final da votação de 11/4, o reitor voltou a descartar essa possibilidade.
No entanto, o documento originalmente apresentado faz referência ao artigo 169 da Constituição Federal (CF), que autoriza a demissão de funcionários públicos para adequar a folha de pagamentos às receitas, desde que haja a exoneração prévia dos servidores não estáveis e um corte de 20% nas despesas com cargos em comissão ou em funções de confiança. Assim, na avaliação do departamento jurídico da Adusp, a fixação de um teto para despesas com pessoal na USP abre a possibilidade de demissões, ainda que a referência ao artigo 169 da CF tenha sido retirada do texto por recomendação da Comissão de Legislação e Recursos (CLR).
Mesmo que não ocorra a demissão de servidores, a perspectiva apontada é de arrocho salarial, como previsto pelo professor Paulo Inácio, do IB, ao apresentar estudo de sua autoria na reunião do Co de 11/4. “Construímos um cenário supondo que a única coisa que seria feita é não conceder os reajustes das perdas inflacionárias do salário. Ou seja, que fizesse com que a folha caminhasse em direção aos 85%”, disse Inácio enquanto apresentava duas tabelas que estimam a perda salarial acumulada de 2016 a 2022. “Em um cenário bastante otimista, de um aumento de arrecadação do ICMS a partir de 2018, teríamos que arcar com a perda salarial de um quarto dos nossos salários em 2022”, registrou. Veja o vídeo em http://bit.ly/2oOIkeq.
Relação “40/60”
Outro dispositivo dos “Parâmetros” que pode ter graves implicações é a imposição de uma relação entre os números de docentes e de funcionários técnico-administrativos de 40/60. Hoje a USP possui cerca de 6 mil docentes para 14 mil funcionários. Além de destacar o fato de que a adequação do quadro de pessoal da USP a esta norma exigiria a demissão de 5 mil funcionários (além, note-se, dos cerca de 3,5 mil desligados “voluntariamente” em 2015 e 2016), o professor Marcelo Ferreira, representante da Congregação do ICB, lembrou que mais de 30% dos técnico-administrativos da USP estão lotados no Hospital Universitário (HU) e no Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais de Bauru (HRAC), jogando luz na situação desses hospitais-escola, que tendem a perder ainda mais pessoal.
Ferreira repeliu a alegação de que a proporção 40/60 está presente em universidades de excelência internacional. “Das universidades estrangeiras que conheço, Harvard tem 12 hospitais-escola. Nenhum é composto por servidores da universidade, e é por isso que a proporção servidores/docentes é muito menor. Há 170 docentes na escola de medicina de Harvard, mas 12 mil profissionais de saúde com atividades didáticas e de pesquisa”, comentou. Para ele, a proporção apresentada pela Reitoria não faz “nenhum sentido”, e as inconsistências que apontou no documento constituem “impropriedades bastante graves”. Veja o vídeo em http://bit.ly/2pHx8Se.
Também durante o debate no Co de 11/4, o professor Aluisio Segurado, representante da Congregação da FM, relatou reunião aberta de docentes daquela unidade, na qual um dos pontos apresentados como objeto de preocupação foi precisamente a proporção 40/60: “Ficamos com bastante dúvida de como esse percentual foi calculado, com base em que referência, e mais do que isso: entendemos que a diversidade da nossa universidade dificilmente permite que esse percentual possa ser estabelecido universalmente em todas as unidades, dadas as características específicas das várias unidades do ponto de vista da sua missão acadêmica, do seu envolvimento com ensino, pesquisa e extensão. Isso mereceria uma discussão mais aprofundada e uma definição que respeitasse a diversidade das unidades”.
Informativo nº 434
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