Na reunião do Conselho Universitário (Co) da USP de 4/10/16, o reitor M.A. Zago leu um longo discurso, no qual procurou justificar a existência do projeto denominado “USP do Futuro” como decorrência do programa “Parceiros da USP”, aprovado pelo Co em dezembro de 2015. Tentou minimizar o fato de não haver submetido, ou sequer informado antes, o projeto ao Co. Ele declarou que o convênio com a McKinsey foi “aprovado na COP [Comissão de Orçamento e Patrimônio] em 2 de agosto”.

O reitor disse, ainda, que o trabalho “está em andamento, e obviamente o seu resultado, se entendermos que possa contribuir para melhorar a gestão ou planejamento, será dado a conhecer futuramente às diferentes instâncias da universidade”. Acres­cen­tou: “Como hoje, primeira oportunidade depois desses desenvolvimentos, eu comuniquei [sic] o  Conselho Universitário”.

Ele omitiu, porém, que o Termo de Doação firmado entre USP, Comunitas e McKinsey é datado de 28/6 — anterior, portanto, à reunião do Co de 12/7, que ocorreu sem que M.A. Zago tenha feito qualquer menção ao projeto “USP do Futuro”. Inicialmente, a proposta de “Nova CPA” seria votada pelo Co em 28/6, mesma data, portanto, em que foi assinado o citado Termo. Coincidência que robustece as suspeitas de que existe uma relação de causa e efeito entre as duas iniciativas.

No discurso, M.A. Zago afirmou que o projeto “USP do Futuro” está vinculado à iniciativa da Reitoria de procurar empresários que estudaram na universidade: “Neste caso, visitei pessoalmente alguns ex-alunos da Universidade de São Paulo, todos empresários bem sucedidos, e os convidei a participarem mais ativamente da vida da nossa universidade.

[…] Assim, eles se dispuseram a fazer uma doação para pagar o contrato de uma empresa de consultoria especializada, para examinar dois aspectos da nossa universidade: a sua estrutura e gestão, em especial financeira e administrativa. Todos sabem que não andamos bem das finanças nos últimos anos. […] E segundo, estruturar um arcabouço de projeção futura”. Não citou os nomes dos doadores.

M.A. Zago explicou a audiência concedida por Geraldo Alckmin como uma defe­rên­cia aos empresários: “E no dia 5 de setembro, a pedido de nossos ex-alunos, visitamos o governador do Estado para dar conhecimento a ele do projeto e ouvir sua opinião, como estão sendo ouvidas opiniões de numerosos outros atores, internos e externos à universidade”. Não informou quem seriam esses outros atores.

Após declarar que se “surpreendeu” com o fato de que “alguns setores da universidade tenham tratado do tema como se houvesse algo de estranho ou de acobertado neste processo”, o reitor minimizou essa hipótese: “Esteve na ordem do dia da COP, como eu disse. A reunião fez parte da agenda, que é pública, do governador do Estado. Esta é a primeira reunião do Co após termos firmado o convênio e os trabalhos se iniciarem”.

M.A. Zago repisou, no discurso e em outros momentos da reunião do Co, que suas ações representam a “vontade majoritária da universidade” e a “opinião dominante na USP”, baseando-se no fato de que o programa “Parceiros da USP” foi aprovado no Co por 81 votos a 10, com duas abstenções. Ele alegou que a universidade “tem que ampliar suas relações com os diferentes setores da sociedade, tanto nas suas ações quanto na busca de financiamento”, e que “as três universidades paulistas terão de buscar modelos de financiamento complementares àquele que garantiu nossa sobrevivência até o momento”.

O reitor classificou a denúncia do projeto como uma “tentativa de provocar intranquilidade e um ambiente de contestação e de conflito na universidade [que] é absolutamente incompatível com o momento atual”. A seu ver, a USP vive um “momento de tranquilidade, de pacificação, de crescimento”.

Objeto, ao longo da reunião do Co, de críticas esparsas, embora contundentes, de representantes discentes e de representante dos funcionários técnico-administrativos, o acordo com McKinsey e Comunitas foi o tema principal da intervenção do representante da Congregação do Instituto de Matemática e Estatística (IME), professor Marcos Magalhães, que cobrou maiores explicações.

“Tive a oportunidade de ler alguns documentos: Acordo de Cooperação, Acordo de Adesão etc. A Reitoria necessita ir além do comunicado que ela distribuiu eletronicamente. Aquele comuni­ca­do é insuficiente para a magni­tu­de do que imagino que poderá ser a proposta envolvendo a consultoria”, principiou o docente, após esclarecer que falava em caráter pessoal, pois o IME ainda não concluíra moção que preparava a respeito.

“O que me preocupa pessoalmente é: a McKinsey é uma consultoria de caráter internacional, com uma forte presença principalmente do governo americano, e que cobra não pouco”. Disse imaginar “qual é o tamanho da conta a ser paga” pela Comunitas e registrou que um dos documentos faz menção a “Amigos da USP”, no entanto “não caracterizados como uma organização”.

Prosseguindo, Magalhães ponderou: “Será que não cabia chamar o Conselho Universitário, um dia antes de apresentar ao governador tudo isso, e fazer todo o cerimonial com o governador, que levou lá a Comunitas, que é quem faz a doação do pagamento da consultoria, levou a consultoria… Não cabia o Conselho Universitário receber essas informações e essa discussão?”

O representante do IME explicou não ver problema no fato de a Reitoria “conversar com quem quer que seja segundo as suas convicções”. O que lhe preocupa, esclareceu, é o envolvimento da McKinsey num ambiente em que as empresas de educação, de um modo geral, estão sendo monopolizadas, e grandes grupos econômicos compram universidades privadas: “Me incomoda eu ter uma grande consultoria internacional agindo sem, eventualmente, uma discussão que paire um pouco mais ampla do que o ambiente restrito da Administração central”.

O reitor reagiu imediatamente, e com destempero, às críticas formuladas pelo professor Marcos Magalhães: “Eu preciso sim falar. Porque nós ouvimos aqui um discurso que se chama enrolação. Que se chama criar confusão. Que se chama levantar suspeitas. Num ambiente que é absolutamente claro. Se o senhor quer saber qual é o valor, o senhor pega os documentos que estão publicados, porque lá está escrito”. M.A. Zago, porém, não informou qual é o valor — e não se tem notícia até agora de qualquer documento acessível que o informe.

Depois, o reitor procurou mostrar segurança: “Esta Reitoria vai continuar conversando com amigos da USP, com ex-alunos da USP, com empresas nacionais e internacionais. Sim, vai. E não precisa o reitor ser tutelado a cada momento e convocar uma reunião do Conselho Universitário para tratar de um acordo cujo valor está previsto, está divulgado, foi analisado na reunião da COP, como se este fosse um grande acontecimento que vai mudar os caminhos da USP”.

Em seguida, defendeu a McKinsey: “Deve ser uma companhia boa. Deve dar boas sugestões, porque se os empresários estão em geral contratando esta consultoria e pagando bem por ela, ela deve ser interessante. O que eu devo, isto sim, é fazer com que o trabalho caminhe e quando nós tivermos os resultados que mereçam apreciação, trazê-los aqui como eu farei, com esses e com outros assuntos”.

O reitor continuou a defender-se: “Esta tentativa, repetida, de a cada semana e a cada mês descobrir uma coisa secreta, uma coisa exótica, uma coisa condenável que esta Reitoria está preparando não pega, não convence ninguém. Não se esqueça, professor: o reitor tem apoio maciço na comunidade da Universidade de São Paulo” (sobre as opiniões do reitor).

O Informativo Adusp solicitou à Assessoria de Comunicação da USP que lhe envie cópia dos documentos citados pelo reitor e dos quais constaria o valor da contratação da McKinsey pela Comunitas; e cópia do parecer da COP. Até o fechamento desta edição não recebemos resposta.

Informativo nº 425

EXPRESSO ADUSP


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