A pedido do reitor, tropa de choque da PM agride manifestantes com selvageria

foto: Daniel Garcia

Pacote que fixa teto para folha salarial e pode resultar em exoneração de servidores e docentes é aprovado pelo Co por 52 votos a 32 e duas abstenções

O ato pacífico promovido por Adusp, Sintusp, DCE e Fórum das Seis contra a votação, pelo Conselho Universitário (Co), do documento “Parâmetros de Sustentabilidade Econômico-Financeira”, nesta terça-feira 7/3, foi reprimido com brutalidade por um pelotão de choque da PM, que empregou spray de pimenta, bombas de efeito moral e cassetetes contra centenas de manifestantes. Estudantes e funcionários feridos precisaram ser atendidos no Hospital Universitário (HU). Vários manifestantes foram presos, inclusive pessoas que apenas acompanhavam os feridos no HU.

fotos: Daniel Garcia
Imagens da repressão Imagens da repressão
Imagens da repressão Imagens da repressão

A manifestação teve início tranquilo por volta de meio-dia, no entorno da Reitoria. Uma parte dos manifestantes se concentrou em frente à entrada principal do prédio, enquanto outra parte se reuniu na rua lateral, na entrada da Prainha da ECA. Neste local um portão, hoje permanentemente trancado com cadeado, dá acesso à entrada dos fundos da Reitoria.

O carro de som do Sintusp, situado dentro da Prainha, aproximou-se da grade erguida pela Reitoria o suficiente para que o microfone pudesse chegar aos oradores que estavam do outro lado, entre eles os deputados João Paulo Rillo (PT) e Carlos Giannazi (PSOL), dirigentes estudantis e sindicalistas do Fórum das Seis, do Andes-Sindicato Nacional e da CUT.

A própria Reitoria orientou os membros do Co que iam chegando a se concentrarem na rua lateral, em local a poucos metros de onde transcorria o ato. Assim, os dois grupos — manifestantes e conselheiros — misturaram-se de modo cordial. Alguns manifestantes distribuiram a “Carta Aberta ao Co” e procuraram conversar com os conselheiros sobre a proposta dos “Parâmetros”.

Pouco depois das 14 horas, Waldyr Jorge, diretor da Faculdade de Odontologia e superintendente da SAS, convidou os conselheiros a deixarem este local e atravessarem a rua. Parte dos manifestantes, então, os acompanhou e os dois grupos continuaram misturados. Logo depois das 14h30, os manifestantes entoaram um entusiasmado “Fora Zago!” e, depois, “Quem não pode com a formiga, não atiça o formigueiro”.

Em seguida chegou à coordenação do Fórum das Seis a informação de que a PM avisou aos conselheiros que iria “limpar” a entrada principal da Reitoria e que, portanto, eles poderiam entrar por lá. Efetivamente, às 15h30 o pelotão de choque ingressou na Rua da Reitoria, em formação. E em poucos minutos, sem aviso prévio, os soldados da PM começaram a lançar bombas sobre as pessoas que se encontravam no local.

Muitas pessoas se machucaram. Para fugir às bombas, manifestantes correram em direção às duas extremidades da Rua da Reitoria. Em pouquíssimo tempo o pelotão “limpou” a entrada principal do prédio, mas os bate-bocas e escaramuças entre soldados e manifestantes estavam apenas começando. Estudantes e funcionários foram agredidos e espancados por PMs. Diana Assunção, diretora do Sintusp, levou um violentíssimo golpe de cassetete na nuca e, sangrando, precisou ser levada para o HU.

A operação policial foi comandada pelo capitão PM Nogueira, que disse a uma diretora da Adusp que qualquer reclamação teria de ser apresentada ao 23º Batalhão. Ele também não informou o número de pessoas detidas, nem os seus nomes. Os soldados sob seu comando reabasteceram diversas vezes as sacolas de bombas e, em dado momento, buscaram escopetas nas viaturas da PM, estacionadas na esquina da Praça do Relógio com a Rua da Reitoria. Além das bombas, o pelotão de choque atirou com balas de borracha contra os manifestantes. O deputado Giannazi recolheu um desses projéteis.

Quatro pessoas foram conduzidas à 93ª Delegacia de Polícia: Luiz Fellipe Mattos, funcionário do IB; e os alunos David Paraguai (FFLCH), Mariana Brum (ECA) e Fernando Magarian (ECA). Este foi detido no HU quando acompanhava o colega Franciel de Souza, ferido na cabeça por golpes de cassetete. Mariana foi golpeada com violência antes da detenção. As advogadas da Adusp, Lara Lorena e Christiane Alves, fizeram parte da equipe de defensores que atuou no caso.

O vereador Eduardo Suplicy (PT) compareceu à 93ª DP para dar apoio aos manifestantes detidos, que foram liberados à noite.

Reunião do Co

A situação de barbárie patrocinada pela Reitoria ao convocar a tropa de choque da PM repercutiu na reunião do Co. Diversos conselheiros protestaram contra a atitude da gestão M.A. Zago-V. Agopyan.

“A manifestação era absolutamente pacífica. Como resultado da ação da Polícia, tivemos estudantes e funcionários feridos. Hoje é um dia triste para a universidade”, disse Cristiano Buoniconti Camargo (FD), representante discente da Pós-Graduação. Ele leu promessa eleitoral do então candidato a reitor de que “jamais” iria recorrer à força física contra opositores.

A professora Ana Maria Loffredo (IP) denunciou o autoritarismo do reitor. O professor Marcos Magalhães (IME) disse considerar absurda a atitude de chamar a PM. “O que ocorreu lá fora foi algo muito grave, eu respirei gás lacrimogêneo, outros aqui também respiraram. Isso não é meramente uma questão administrativa”, declarou o professor Eugenio Bucci (ECA), sem citar o reitor. O professor André Singer (FFLCH) falou em “brutal repressão”.

Outro que se manifestou de forma veemente foi o professor José Sérgio Fonseca de Carvalho, representante da congregação da FE. Por entender que o Co teria de suspender a reunião frente à gravidade do ocorrido, Carvalho deixou a reunião por volta das 18 horas. Numa coletiva a jornalistas de TV e jornal, logo depois que saiu da Reitoria, o professor registrou seu protesto. “Cheguei aqui pouco antes das 14 horas, ninguém me impediu que entrasse. Recebi ordem para esperar. Presenciei alunos da universidade sendo chutados por PMs”, relatou.

“É um teatro do absurdo discutir as finanças da universidade com o que está acontecendo aqui. Quem tem que dar exemplo somos nós, não é facultado chamar a Polícia, que promove a violência, e não saber o que vai acontecer. Assisti um policial chutando um aluno na cabeça. Um Conselho Universitário não pode ignorar isso”.

Antes de colocar a proposta da Reitoria em votação, o reitor tentou responder às críticas. Negou que seja intolerante com divergências de opinião. A seu ver, o que ocorreu foi um “embate péssimo, horroroso para a imagem desta universidade, que eu jamais desejaria”. Ele lamentou que três estudantes e “cinco policiais” [sic] tenham ficado feridos, e, quanto à segunda afirmação, disse que ela revela que havia “manifestantes armados”. Acrescentou: “Vi manifestantes mascarados atirando projéteis nos policiais”.

O Informativo Adusp, que acompanhou o episódio do início ao fim, não constatou que policiais tenham ficado feridos. Seguramente nenhum PM sofreu ferimento da mesma gravidade que os infligidos por eles aos manifestantes. E ao contrário do que fizeram com vários manifestantes, nenhum PM foi chutado no rosto ou espancado.

M.A. Zago tentou se distanciar das agressões praticadas pelos soldados da PM, afirmando que eles “não foram convocados por nós”. O reitor também acusou os manifestantes de coação contra os conselheiros: “Professores, membros deste Conselho, foram assediados e agredidos fisicamente” (antes da reunião).

A diretoria da Adusp, presente na manifestação, contesta que tenha havido assédio aos conselheiros, quanto mais agressão física. “Não foi isso que vimos, e sim diálogo quanto à pertinência da proposta em causa”, rebate a professora Elisabetta Santoro, segunda vice-presidente da Adusp. Sobre a tentativa do reitor de esquivar-se das responsabilidades pelo violento ataque aos manifestantes, ela indaga: “Quem, então, teria dado à PM a ordem de atacar?” 

No final da reunião, a proposta da Reitoria foi aprovada por 52 votos a favor, 32 contrários, com duas abstenções. Quatro destaques serão votados na próxima reunião do Co.

EXPRESSO ADUSP


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