Ato marca os 20 anos sem gatilho salarial

No gramado em frente à Reitoria, docentes acompanham ato. À direita, o professor Nicola Petragnani discursa

No dia 23/11, a Adusp realizou, em frente ao prédio da Reitoria, o ato “20 anos sem gatilho”, que reuniu docentes para reivindicar uma solução rápida para o pagamento dos gatilhos salariais não pagos entre julho e dezembro de 1987. A reitora Suely Vilela, convidada, não compareceu.

“Quando se adia a questão do gatilho, todo mundo perde”, afirmou, na abertura do ato, o professor Otaviano Helene, presidente da Adusp. Para ele, os professores “perdem porque se protela o pagamento e perde também a universidade, porque a cada mês que passa, além da correção monetária há uma multa dada pelo poder judiciário de 1%”. Como os juros são cumulativos, com os 48 meses de atraso no cumprimento da sentença a USP já acumulou uma multa de 61%. Na opinião do professor Helene, “é o momento dos próprios membros do conselho universitário pressionarem a universidade para que ela cumpra rapidamente aquilo que o juiz mandou”.

O ato prosseguiu com o microfone aberto aos presentes. O professor Francisco Miraglia, do IME, criticou a atitude da secretária-geral da USP, professora Maria Fidela de Lima Navarro, que negou o pedido da Adusp para que o auditório do Conselho Universitário fosse cedido para a realização do ato. No ofício em que indefere a solicitação da Adusp, Maria Fidela chegou a propor que o evento fosse realizado no auditório da Faculdade de Veterinária e Zootecnia. Miraglia classificou a atitude da secretária-geral como “inaceitável” e “ofensiva tanto à Adusp quanto à Faculdade de Veterinária e Zootecnia”. Para ele, essa resposta “mostra uma dificuldade de sentar na mesa e negociar uma coisa que é direito nosso”.

Protelação

“No staff da Reitoria há pessoas que já receberam o gatilho, nos acordos realizados em Ribeirão Preto e São Carlos”, afirmou a professora Zilda Iokoi, do Departamento de História. Trata-se, portanto, acrescentou, “de um direito que se assimilou em um jogo individual, e que não respeita o direito dos outros”.

O professor Américo Kerr, do Instituto de Física, criticou a estratégia da Reitoria, de protelar a questão com disputas em torno da listagem dos docentes que terão direito ao benefício, publicando listas incorretas no Diário Oficial e recorrendo a outros expedientes semelhantes. “Nós temos uma ação ganha, e sem possibilidade de recurso, a não ser o recurso da protelação”, comentou. “É preciso pressionar nas unidades, para que haja manifestações das congregações, para que haja manifestações dos representantes no conselho universitário, para que a universidade cumpra o que a justiça determinou”.

O professor Etelvino Bechara, do Instituto de Química, declarou ao Informativo Adusp que está “profundamente indignado com essa situação”. Explicou por que: “Em um país onde o Bradesco lucra R$ 7 bilhões em um ano, não é possível que não exista dinheiro para pagar o nosso gatilho”. Presente à manifestação, que considerou “excelente”, o professor Bechara lembrou que “infelizmente, no Brasil, as autoridades só funcionam sobre pressão”.

Também do Instituto de Química, o professor Nicola Petragnani chamou a atenção para a situação dos professores que conseguiram “um pequeno gatilho”, por meio de processos individuais, e agora podem ser excluídos da lista de beneficiados pelo gatilho integral: “É importante que a Adusp ajude essas pessoas a superar esse impasse”.

Também compareceu o coordenador da Coordenação Nacional de Lutas (Conlutas) em São Paulo, Dirceu Travesso, que manifestou apoio à mobilização.

Negociação

Respondendo a solicitação da Adusp, a Reitoria agendou uma reunião de negociação do gatilho salarial para 28/11. Durante o ato, o professor Otaviano Helene pediu que, dessa vez, a Reitoria atenda as reivindicações, e avance nas medidas para o pagamento do gatilho: “A gente espera que nessa reunião haja algum progresso concreto, que saia uma lista e uma sistemática de cálculo”, disse o presidente da Adusp.

Matéria publicada no Informativo nº 249