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Boris Fausto em evento do Instituto de Estudos Avançados da USP em 2015

O professor Boris Fausto, do Departamento de Ciência Política da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP (FFLCH), faleceu nesta terça-feira (18/9), aos 92 anos de idade. Boris foi um dos principais historiadores e cientistas políticos do país, autor de clássicos como A Revolução de 1930: historiografia e história (1970), Trabalho Urbano e Conflito Social (1890-1920) e Crime e Cotidiano: Criminalidade em São Paulo (1880-1924), publicados respectivamente em 1976 e 2001.

Na coleção “História Geral da Civilização Brasileira”, organizada por Sérgio Buarque de Holanda, foi o coordenador, na segunda edição (publicada em 1980), dos volumes dedicados ao Brasil Republicano, como lembrou, em nota de pesar, a direção da FFLCH.

A nota da FFLCH chama atenção para o fato de que Boris foi um pioneiro nos estudos sobre as classes trabalhadoras brasileiras. “É em seu livro Trabalho Urbano e Conflito Social, de 1977, originalmente apresentado como tese de livre-docência à FFLCH, que pela primeira vez os estudos de Edward Thompson são referidos no Brasil. Onze anos depois, Boris Fausto volta a contribuir decisivamente nas reflexões acerca dos trabalhadores em seu artigo ‘Estado, trabalhadores e burguesia (1920-1945)’, publicado na revista Novos Estudos, do Cebrap”.

Boris nasceu em São Paulo, em 1930, “filho de uma família de imigrantes judeus, romena por parte de pai e turca por parte de mãe”, como destaca a FFLCH. Na USP, bacharelou-se em Direito e, em 1966, em História. “Atuou como assessor jurídico da USP ao mesmo tempo em que pesquisava e produzia como historiador”.

A nota da FFLCH destaca a singularidade do conjunto da obra do pesquisador: “É, de fato, difícil abarcar todo o contributo de Boris Fausto para a produção historiográfica brasileira: das articulações e disputas que levaram à Revolução de 1930, dos processos migratórios, do cotidiano da gente pobre paulista ou do comportamento operário. Cada um desses trabalhos é ímpar e leitura obrigatória para todas e todos que pensam o Brasil do século 20. Toda a geração que veio a seguir a Boris Fausto é dele devedora. Muito obrigado, professor”.

“A Revolução de 1930” foi obra decisiva das ciências sociais brasileiras

O Departamento de Ciência Política da FFLCH também emitiu nota de pesar. “O Boris, como lhe conhecemos, foi uma das mentes mais brilhantes que lecionaram e pesquisaram nesta instituição”, principia. “Sua paixão era pela história política do Brasil, especialmente do período republicano, a partir da qual, de maneira original e criativa, colocou as bases para o estudo dos modernos estudos sobre o autoritarismo no Brasil”.

De acordo com a nota assinada pelo professor Rafael Duarte Villa, chefe do departamento, A Revolução de 1930: historiografia e história “foi reconhecida como uma obra decisiva das ciências sociais brasileiras”, na qual Boris “realiza um exame crítico e vigoroso das teses políticas que faziam balanços confortáveis ao papel paulista durante a Revolução de 1930 e na Revolução Constitucionalista de 1932”.

No final de sua carreira acadêmica, acrescenta, Boris “inaugurou uma nova faceta de sua contribuição intelectual ao escrever sua História do Brasil, uma obra voltada para um público amplo e, sobretudo, dirigida aos jovens do segundo grau”. Além disso, enfatiza, tinha também o dom da docência, “e todos aqueles que fomos seus alunos no Departamento de Ciência Política ficávamos fascinados com a facilidade e profundidade com que passeava pela história política do Brasil e pela história política e social de São Paulo, sem fazer concessões a uma narrativa fácil”.

“Boris Fausto foi um dos maiores historiadores brasileiros do século XX. Sua História do Brasil foi traduzida no exterior e se tornou referência para estrangeiros também”, comentou, a pedido do Informativo Adusp, o professor Lincoln Secco, do Departamento de História da FFLCH.

“Sua principal obra foi um estudo de 1930 situado ideologicamente no interior de uma visão progressista do liberalismo paulista, contra a leitura comunista e o ‘populismo’. Para ele 1930 não correspondeu ao conceito de uma revolução. Seus alvos explícitos eram Nelson Werneck Sodré e o PCB”, explica o docente.

“Ele quis escrever uma monografia detalhada sobre 1930, mas elaborou um verdadeiro ensaio metodológico. Embora estivesse distante da leitura de outro grande historiador da USP, Edgard Carone, convergia com ele na defesa de uma base objetiva para a história. Quando alguns historiadores se afastaram de qualquer pretensão científica, ele se manteve como defensor dos fatos e não do simples confronto de narrativas”, avalia Secco.

A Reitoria da USP também lamentou, em nota, o falecimento de Boris.

EXPRESSO ADUSP


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