Mobilidade urbana
Prefeitura do Câmpus da Capital recua de mudanças nos circulares e abre “consulta pública”; proposta inicial, que seria implantada no reinício das aulas, foi questionada pela comunidade
Uma enxurrada de críticas fez a Prefeitura do Câmpus da Capital (PUSP-C) voltar atrás em sua proposta de implementar alterações no trajeto das linhas circulares da Cidade Universitária já na próxima segunda-feira (26/2), dia do início das aulas do primeiro semestre letivo de 2024.
Nesta quarta-feira (21/2), a PUSP-C publicou em suas contas nas mídias sociais um comunicado informando que seriam realizadas “modificações nas linhas circulares”, além da “implementação do 8042-10”.
“As modificações foram feitas para diminuir o percurso percorrido pelas linhas, e portanto diminuir o tempo de espera nos pontos de ônibus e no terminal para o melhor funcionamento operacional”, dizia a publicação (grifos no original).
Entre as alterações, constavam mudanças de itinerário nas linhas 8012-10, 8022-10 e 8032-10, que ligam a Cidade Universitária à Estação Butantã do Metrô. Já a nova linha 8042-10 teria trajeto feito apenas no câmpus, com ponto final na Portaria 3.
Aparentemente, faltou “combinar com os russos” a conveniência das mudanças. Boa parte dos comentários na publicação da PUSP-C no Instagram consiste em críticas pesadas à proposta, apontando problemas graves na nova configuração do sistema. Entre as principais deficiências citadas estão o “abandono” das unidades do chamado Baixo Matão e da Av. Prof. Lúcio Martins Rodrigues e a permanência de apenas uma linha fazendo o retorno à Estação Butantã pela Av. Prof. Luciano Gualberto, enquanto as demais utilizam a Av. Prof. Lineu Prestes.
“Isso está muito ruim. O pessoal do P3 é prejudicado na ida, pessoal do Butantã prejudicado na volta, pessoal da portaria da CPTM continua dependendo de apenas uma linha, ECA ficou com Deus… Não é possível rediscutir isso?”, questionou um aluno da FAU.
“Como vocês esperam que o IME, a Física, a FEA, a FAU, a Poli inteira, a Psico, o Cruesp e o Cepe caibam num ônibus só?”, apontou um aluno da ECA. “Conseguiram colocar mais uma linha e ainda assim piorar a mobilidade do campus”, criticou uma estudante da FEA.
O resumo da ópera pode ser sintetizado nos comentários de um aluno da EE (“quem fez as mudanças não usa os circulares, só pode”) e de outro da FEA (“projetado por quem anda de carro”).
O imediato rechaço dos(as) usuários(as) fez com que a PUSP-C também rapidamente recuasse de sua proposta de implementar às pressas, sem qualquer discussão com a comunidade diretamente interessada, uma mudança anunciada ainda durante as férias e que certamente provocaria enorme confusão logo no retorno às aulas.
Na mesma quarta-feira, outro comunicado da Prefeitura informava que “as alterações nos circulares USP que seriam implementadas no dia 26/2 estão suspensas”. A PUSP-C abriu então uma consulta pública em sua página na Internet, ainda sem prazo anunciado de conclusão, para que as propostas sejam discutidas.
Espera-se que, após a consulta, a PUSP-C reúna os setores da comunidade interessados para a construção coletiva de uma proposta. A PUSP-C contestou as críticas.
Ainda sem metrô no horizonte, problemas continuarão a atormentar usuários(as)
Os problemas de mobilidade no câmpus são antigos e numerosos, mas até aqui as soluções escasseiam. Como mostrou reportagem do Informativo Adusp Online publicada no ano passado, longas e exasperantes esperas e viagens em veículos lotados são recorrentes na rotina dos(as) estudantes e trabalhadores(as) que dependem do transporte público para chegar à Cidade Universitária (e sair dela), especialmente nos horários de pico. Isso não impediu que “pegar seu primeiro circular” fosse considerado uma experiência “inesquecível” pela Pró-Reitoria de Graduação em sua campanha de recepção a calouros e calouras em 2023.
“O maior problema não eram os trajetos, e sim a quantidade de ônibus. Se tivesse o intervalo menor, ficaria muito mais dinâmico e menos superlotado”, resumiu um aluno do IAG em seu comentário no Instagram sobre a realidade dos(as) usuários(as) e as mudanças propostas pela PUSP-C.
Até o momento, a Prefeitura também não se manifestou sobre sugestões feitas por usuários(as) do transporte coletivo em audiência pública promovida pela Câmara Municipal e realizada na FAU em junho de 2022. Entre as propostas estão a criação de linhas que saiam de outros terminais, como o de Pinheiros, e a entrada de ônibus também pelas Portarias 2 e 3.
Em entrevista ao Informativo Adusp Online em 2023, a professora Raquel Rolnik, prefeita do Câmpus da Capital, reconheceu que o modal ônibus não tem condições de absorver a demanda de passageiros(as) que chegam de metrô à Estação Butantã — duas mil pessoas em cada desembarque, nos horários de pico — e que uma solução mais adequada só será possível quando houver estações de metrô na Cidade Universitária.
O traçado preliminar da futura Linha 22-Marrom do Metrô inclui uma estação no câmpus e outra na Av. Corifeu de Azevedo Marques, nas proximidades da Portaria 3. Porém, ainda há um longo caminho até que essa obra passe do projeto à execução, e não há sequer a garantia de que o trajeto desenhado na origem será mantido. O horizonte para os próximos anos continua a ser, portanto, de um cotidiano extremamente problemático para quem depende de transporte coletivo na Cidade Universitária.
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